quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Gengibre

Se há coisas simples e eficazes na culinária, o gengibre ocupa seguramente um dos primeiros lugares. O gengibre é um rizoma de uma planta originária da Ásia, que tem diversas propriedades químicas e introduz na comida um sabor limonado e um pouco picante. A raiz deve ser usada o mais fresca possível, enquanto a parte interior tem aspecto húmido e cor amarelo-esverdeada, podendo ser ralada, cortada em pequenos pedaços ou aproveitando apenas o sumo. O gengibre seco ou em pó não tem as características do fresco que aqui se destacam.

O gengibre é essencial em pratos que utilizam combinações de especiarias, mas pode ser utilizado na cozinha de muitas outras formas, incluindo em infusões. É muito eficaz em pratos com poucos temperos, especialmente quando combinado com o seu parceiro perfeito, o alho. Isto pode ser verificado em dois pratos simples:

Lombo de porco assado
Fazer furos na carne com uma faca e intruduzir neles dentes de alho. Cobrir com sal e gengibre ralado. Regar com vinho branco e assar no forno virando o lombo diversas vezes.

Salmão no forno
Colocar postas individuais de salmão em pedaços de papel vegetal de uso culinário. Temperar com sal, alho picado, pimenta, gengibre ralado e sumo de laranja. Colocar uma rodela de laranja por cima e embrulhar cada posta de salmão no papel. Embrulhar depois, também individualmente, em folha de alumínio e levar ao forno a 180 graus durante 20 minutos. Servir aproveitando o molho, que é essencial. A combinação do gengibre e da laranja retiram ao salmão o sabor que muitas pessoas acham enjoativo.

Haja Saúde

Tal como ao EB, também a Economia me fascina bastante.
Mas há outras coisas que me fascinam muito mais, tais como a falta de vergonha na cara. E esta tem crescido a olhos vistos, ao contrário da nossa Economia, e sem que os teóricos da treta se atrevam sequer a tentar explicá-la.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A Economia

Há fenómenos curiosíssimos na Economia. Por exemplo, as actualizações salariais são sempre niveladas pela inflação esperada no próximo ano, coisa que ninguém pode saber qual é, e nunca pela inflação real do ano anterior, que é perfeitamente conhecida. Desconfio que esta prática se deve ao facto de a inflação real ser sempre superior à esperada, mas não tenho a certeza.

Outro conceito interessantíssimo é o PIB, um indicador que, ao que parece, deve estar sempre a aumentar, pois mede a riqueza de um país. Em termos simples, o PIB é a soma da actividade das empresas. Se eu tiver de tratar de um assunto e escrever uma carta, o serviço que me é prestado vale o custo de um mero selo do correio. Mas se eu telefonar, a factura da operadora de telecomunicações será superior. E se eu me deslocar de automóvel para tratar pessoalmente do assunto, o valor do consumo em combustível é substancialmente maior. Quanto mais eu gasto maior é o valor do meu contributo para o PIB nacional. Daqui eu concluo que o país será tanto mais rico quanto mais pobre eu me tornar.

A Economia fascina-me. Ou melhor, fascinam-me os esforços que os economistas fazem para tentar compreender, explicar e intervir na Economia. Fazem-me lembrar médicos falhados, sempre a fazer diagnósticos a um eterno doente que teima em padecer tanto da doença como do tratamento. Baixar a inflação é fácil, mas isso provoca desemprego. Há várias medidas eficazes para acudir ao desemprego, mas aplicá-las gera défice orçamental. Baixar o défice orçamental não é difícil, mas estagna a actividade económica. E por aí fora.

Ao fim de vários anos de observação desta interessante actividade, eu concluí que os fenómenos económicos são tão controláveis como o tempo atmosférico. Chove a cântaros há dois meses consecutivos provocando catastróficas inundações? O governo anuncia medidas radicais para parar a chuva, de entre as quais sobressai a publicação de uma lei que regulamenta a atribuição de subsídios para adquirir impermeáveis. Ao fim de mais um mês continua a chover? Vem o Ministro da Especialidade dizer que isto de medidas políticas leva o seu tempo a fazer efeito. Mas, finalmente, vem o momento em que a chuva dá lugar a dias de radioso sol, provando-se assim que as medidas tomadas acabaram por dar o seu fruto. Irá depois entrar-se num período de seca, mas isso só vai dar a oportunidade aos especialistas para anunciarem novas medidas para corrigirem esse problema.

O meu interesse pelas coisas da Economia iniciou-se há mais de 30 anos, quando Portugal negociou com a Comunidade Económica Europeia condições favoráveis para a penetração do tomate nacional no mercado europeu. Eu fiquei intrigado ao ler sobre a importância da coisa no Diário de Notícias. Portugal lançava-se de forma decisiva no caminho do desenvolvimento. E eu fiquei firmemente esperançado que os tomates cumprissem a sua função, o que, pelos vistos, aconteceu. Hoje estamos, sem dúvida, mais desenvolvidos. É pena que não tenham feito o mesmo com a salsa e as cebolas.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Palhaços

Chamar palhaço a alguém é, inegavelmente, coisa depreciativa ou até insultuosa. Ora, sendo o palhaço um ser que procura divertir, de onde vem este valor negativo? Parece que ele deriva das coisas burlescas que o palhaço faz. Aquilo que faz, aquilo que diz, a forma como se veste. Transposta a imagem para a sociedade em geral, palhaço é aquele que faz palhaçadas, ou seja, que diz coisas ridículas e se comporta de forma caricata.

Mas um estudo da Universidade de Sheffield feito com a participação de mais de 250 crianças veio agora mostrar que também a própria imagem do palhaço é negativa. Com efeito, a maioria disse não gostar de palhaços e houve mesmo casos de crianças que afirmaram que os palhaços lhes metiam medo. Na realidade, esta ideia não é nova. Já muita gente antes tinha pensado o mesmo mas achou que não fazia sentido. Era apenas um pressentimento, uma reminiscência da idade infantil, ou talvez uma dúvida que surgia perante alguma reacção hostil observada nos filhos durante uma ida ao circo. Mas agora temos a certeza. Os palhaços estão, definitivamente, out. São politicamente incorrectos.

Obviamente que este estudo é uma machadada no ego dos palhaços, que têm andado convencidos que eram bem-vindos quando, afinal, são detestados. Espero bem que, depois disto, os palhaços tenham o bom-senso de acabar com as palhaçadas. E não me refiro apenas aos profissionais circenses.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

A 1.ª do ano

“Ó diabo! A época dos caracóis ainda vem longe, donde se conclui que a substância viscosa com a qual a minha língua anda a brincar de lado para lado só pode ser… Errrrrrr…”

Foi assim, desta forma nua e crua (bem crua por sinal) que descobri que me havia constipado. A primeira gripada do ano veio de rompante, a meio da manhã e sem aviso prévio, sob a forma de uma linda e verdejante expectoração, espirros em série e uma boa dose de febre delirante que me fez pensar, vejam só, que o melhor que tinha a fazer era ir para casa e por lá ficar durante a tarde.
Bah…Como se eu fosse rapaz para me deixar ir abaixo com tão-pouco.
Fui para casa, portanto. E é de casa, trajado de pijama e pantufas, que vos escrevo estas singelas linhas, entre um e outro escarro para dentro de uma garrafa de litro e meio que já esteve vazia.

Ainda não tive oportunidade de vos desejar um bom ano novo. Nem vou fazê-lo, até porque se vocês mo tivessem desejado provavelmente eu não estaria aqui todo roto. ”O Trolha hoje está insuportável”, dizem vocês. Insuportável o caralho, digo-vos eu. No espaço de uma semana deixei de fumar, de beber café e a minha ”Maria” também não tem andado muito interessada. Em cima das Nicoretes só me faltava mesmo era o Vibrocil, o Benuron e o Antigripine. Sou uma espécie de farmácia ambulante que conhece gajos que já foram presos com menos droga nos bolsos.

A imensa falta de nicotina e cafeína, o nariz a pingar e os ossos doridos da febre são tudo verdades mas que apenas serviram para gastar algum do vosso tempo até que eu pudesse chegar a algo que muito me conforta no meio de tudo isto: vocês estão a trabalhar e eu não.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Mondegrins

Mondegrim é um neologismo derivado do inglês que designa os erros de percepção das letras das canções. O cantor diz uma coisa mas o ouvinte percebe outra. A língua é uma coisa muito traiçoeira...

O termo é ele próprio um mondegrim e refere-se a um velho poema inglês em que se percebia "And Lady Mondegreen" em vez de "And laid him on the green". O mundo dos mondegrins é fantástico, com inúmeros puzzles insolúveis e paletes de humor disparatado.

Há exemplos que já se tornaram clássicos. Jimi Hendrix em Purple Haze canta 'Scuse me while I kiss the sky ou 'Scuse me while I kiss this guy? E Giuseppe Verdi no seu Rigoletto escreveu La donna è mobile, ou Un automobile? Ou terá sido, como surge aqui, "La donna imobile"?

Em português, temos também alguns exemplos. Toda a gente conhece o Não Sou o Único dos Resistência:

E quando as nuvens partirem
o céu azul ficará
e quando as pernas se abrirem
vais ver o sol brilhará.



Temos depois os casos em que as palavras são transformadas noutras de uma diferente língua, utilizando sons parecidos. Janis Joplim, por exemplo, cantava "Ei, ei, ei, apalpa-me aqui" (Me & Bobby McGee).

Um dos mondegrins mais intrigantes da história da pop encontra-se no Golden Brown dos Stranglers. O texto é elementar, mas a forma como a frase é cantada confunde quem a ouve:

Golden brown texture like sun
Lays me down with my ????????
(Mancheeros? Machine guns?)


Para terminar, um anúncio de uma escola de línguas em que se "traduziu" para palavras inglesas os sons de uma conhecida canção originalmente escrita em língua espanhola. O porco come a relva do quintal e tu és merda de dragão. Vale tudo no mundo dos mondegrins:

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Coxas de frango assadas e arroz de ervas

Primeiro de Janeiro, dia de Ano Novo, a Tasca deslumbra com um dos vinte e quatro caprichos gastronómicos que granjearam ao Silva toda a sua merecida fama. Trata-se de um conjunto de receitas simples e práticas, mas com suficiente impacto na apresentação e sabor verdadeiramente divinal. São pratos que surpreendem positivamente qualquer pessoa e deixam amigos, convidados e clientes com inveja e pena de não terem aquele "dedo" para a cozinha.

Ciente do autêntico serviço público que é este blog, o Silva acedeu a desvendar a receita do capricho servido hoje - coxas de frango assadas e arroz de ervas aromáticas.

Coxas de frango assadas

Aquecer o forno a 180 graus centígrados. Num tabuleiro dispor coxas de frango umas ao lado das outras, mantendo a pele. Barrar as coxas de forma generosa com pesto verde (à venda nos supermercados em frasco). Adicionar alguns dentes de alho descascados mas inteiros. Temperar com malagueta cortada ou outro picante. Dispor por cima alguns tomates pelados enlatados e cobrir com o respectivo molho, de forma que toda a superfície das coxas fique coberta. Salpicar com um pouco de sal (não na quantidade que seria normal, pois o pesto funciona como tempero). Regar com um fio de azeite.

Levar ao forno durante 1 hora e 30 minutos. É fundamental respeitar a temperatura e o tempo. A ideia é que a carne asse lentamente no meio do molho que se forma. Ao fim de meia hora, virar as coxas, fazendo com que fiquem expostas e todo o molho fique por baixo. Vigiar nos últimos minutos para que as coxas não fiquem demasiado queimadas, podendo virar-se de novo se isso tender a acontecer.

A carne assada combina muito bem com os sabores do manjericão (do pesto), do alho e do tomate. Acompanhar com arroz de ervas.

Arroz de ervas aromáticas

Lavar bem em duas ou três águas arroz basmati. Deixar depois o arroz em água fria com sal durante pelo menos uma hora. Entretanto, lavar e secar bem com papel absorvente uns raminhos de salsa e de coentros frescos. Cortar finamente estas ervas aromáticas.

Aquecer num tacho água abundante e sal. Assim que a água ferva, introduzir o arroz e deixar cozer durante 5 minutos em lume forte mexendo sempre. Escoar a água e passar o arroz por um pouco de água morna.

Num tacho, deitar 3 colheres de sopa de água e 3 de óleo. Dispor em seguida camadas alternadas de arroz e da mistura de ervas, mas de forma que as camadas superiores fiquem cada vez mais estreitas, formando um cone. Furar este cone com o cabo de uma colher de pau para que fique um buraco desde o topo do cone até ao fundo do tacho. Regar com mais 3 colheres de óleo.

Colocar um pano de cozinha dobrado sobre o tacho e por cima do pano o testo. Amarrar o pano por cima do testo para que não arda em contacto com o fogão. Aquecer em lume máximo durante 3 ou 4 minutos e depois reduzir para a temperatura mínima. Deixar cozer durante 20 minutos sem levantar o testo.

É normal que se forme uma crosta estaladiça de arroz no fundo do tacho, a qual dá ao prato um sabor e uma textura adicionais. Esta crosta necessita de ser arrancada raspando com uma espátula ou uma colher.

Bom proveito!
E um bom ano de 2008!

Classe média

Enquanto a água jorrava na banheira, fumegante, ele dispunha alinhadamente os sais de banho, o champô, o amaciador de cabelo, o sabonete ácido, o sabonete neutro, o gel de banho e a esponja. Depois preparou as toalhas 100% algodão egípcio, o pente, a escova, o secador de cabelo, três cotonetes, a lima das unhas, o desodorizante, a eau de toilette, o aftershave, o creme mat control e a age rescue face lotion comforting toner, alcohol free. Ali estava também o jornal do dia, a revista semanal, o guia da programação da TV e a novela encetada. Finalmente trouxe o cachimbo, o tabaco, os fósforos e o cinzeiro.

Ligou a estereofonia surround sound 5.1. Introduziu um CD e premiu o botão de play. Soaram os compassos iniciais da sinfonia em sol maior WQ 182/1 de C. Ph. E. Bach. Comutou a luz para as lâmpadas soft tone rosa e acendeu duas velas de glicerina aromatizada. Mediu a temperatura da água. O termómetro indicava cinquenta e quatro graus centígrados. Esfriou para cinquenta e dois. Despiu o roupão. Fez rapidamente seis exercícios de ginástica. Então, entrando na banheira, suicidou-se.