domingo, 27 de julho de 2008

Barjacking - A tragédia, o drama, o horror

Olá, o meu nome é Parménides Juvenal e moro aqui no bairro. Pelo menos enquanto não for realojado pela Junta de Freguesia, porque a insegurança está a aumentar e hoje fui a primeira vítima registada em Portugal de um caso de barjacking.
Queria aproveitar que já estou no conforto do meu sótão, acompanhando um copo de leite morninho com um palito Larréne, para explicar a quem não saiba que o barjacking é uma evolução do carjacking, mas em que os senhores maus atacam bares, cafés e, neste caso, tascas.
Sei que dizem por aí que o carjacking é uma coisa recente vinda dos Estados Unidos, mas eu sou um tipo que não se deixa enganar facilmente, vai daí fui estudar o assunto e descobri que o carjacking foi inventado pelo D. Afonso Henriques no cerco da tomada de Lisboa, quando mandou o Martim Moniz forçar a entrada num estabelecimento que era o castelo, de modo a que o resto dos meliantes pudesse entrar em força e tomar de assalto aquilo tudo aos mouros. Foi exactamente porque o Martim Moniz ficou entalado na porta, à altura do baixo ventre, tendo levado uma pancada valente no car.., quer dizer, no joãozinho, ou jack em inglês, que ficou o nome carjacking.

Eu sei que há carjacking aqui no bairro, pois ainda no mês passado, a Zundapp do amola-tesouras, o Chico Naifas, foi abalroada por trás por uma acelera toda artilhada e veio de lá um senhor mau e encapuzado que em menos de um foguete levou tudo o que brilhava naquele veículo: as tesouras de aço inoxidável, os retrovisores que tinham sido adquiridos em regime de empréstimo a uma Ford Transit, os guarda-lamas cromados e o dente de ouro que o Chico tinha no maxilar superior.

Se alguém prestasse atenção ao que eu digo, nesta altura estariam a perguntar-me se eu não estava no fundo de um pipo de moscatel, na arrecadação da Tasca do Silva. Nesse caso, eu responderia que sim e explicaria a situação nestes termos.
A coisa deu-se pela manhãzinha, pois o Silva abre a Tasca a horas de dar o mata-bicho aos ucranianos aqui do bairro que trabalham nas obras. O Silva estava a abrir a porta, quando um senhor malandro, com uma meia na cabeça (daquelas de nylon com buracos como as que usam as funcionárias da madame Sissi), se encosta a ele por trás (como fazem as funcionárias da madame Sissi) e aponta-lhe uma coisa às costas (foi aqui que o Silva percebeu que não era nenhuma das funcionárias da madame Sissi).
O Silva cheio de medo de nunca mais ver a sua Adozinda, fez tudo o que o senhor malandro lhe pediu, deu-lhe o dinheiro de caixa, os maços de cigarros Kentucky e o boião de pastilhas Gorila, antes de ser amarrado atrás do balcão, com um pano na boca. Pano esse que era utilizado pela Cátia Vanessa, quando era preciso limpar o balcão do vinho que se entornava no avio de penaltis e copos de 3, pelo que, dado o estado de encharcamento do pano, pelo menos o Silva não ficava com sede.
Na hora de fugir, o senhor malandro corre para a porta, escorrega nas cascas de tremoços que estavam no chão, porque a Vanessa não tinha varrido os mosaicos, cai de encontro à porta que dá acesso à cave, vem por ali abaixo aos trambolhões nas escadas, a arma destranca-se e começa aos tiros para tudo quanto é sítio. Ficou tudo feito em cacos, as lâmpadas do tecto, os presuntos de contrabando que estavam pendurados, o alambique do medronho e a pipa onde eu estava, que rachou ao meio e eu caí dentro dum alguidar de barro, onde repousavam entremeadas e fêveras em vinha d'alhos, para os petiscos dessa noite.
O senhor malandro ainda tentou dizer qualquer coisa, que não percebi bem por causa dos dentes partidos que lhe saltavam da boca. Pareceu-me “Não te mexas, Carvalho”, mas deve ser engano, porque eu não me chamo Carvalho nem estava ali mais ninguém. Antes que eu tivesse oportunidade para lhe chamar a atenção que não me chamava Carvalho, houve um último presunto, com osso, que se soltou da trave mestra e lhe caiu em cima da cabeça, deixando-o inanimado. Coitado.

Bom, mas o que importa é que consegui sair de lá sem problemas de maior, porque eu sou um tipo que está sempre alerta. Malandros e aldrabões, comigo, nunca levam a melhor. Estou a lembrar-me da vez em que um cigano me perguntou se eu queria comprar cavalo, quando eu vi muito bem que o que ele tinha para vender eram saquinhos de plástico com farinha lá dentro. Ou de quando encontrei um tipo aqui na rua que me queria propor um negócio, e eu avisei-o logo que não me deixava enganar facilmente, que até já me tinham tentado vender os Jerónimos e a Torre de Belém mas que eu não sou parolo, nem quando a minha mãe me deslarga a mão para fazer as compras.
Ele deu-me os parabéns por ser tão astuto e disse logo que não estava ali para enganar ninguém, que toda a gente sabia que esses sítios não estavam à venda. Afinal, o que ele queria era propor-me um negócio de estalo, alugando-me o Cristo Rei.
Eu disse para mim, espera lá Parménides, que isto não é coisa para o teu bolso, mas o homem parece que me leu os pensamentos e tratou logo de me sossegar, porque aquilo era uma pechincha, por 20 euros por semana, recuperava-os facilmente só com o dinheiro das entradas cobradas aos visitantes. E se tivesse alguma reclamação a fazer, podia contactá-lo no Palácio de Queluz, que era lá que ele atendia os clientes.
De modos que avaliei a situação e passei-lhe para a mão os 20 euros, não deixando de o avisar:
- Já sabe, se houver alguma aldrabice nisto, o senhor tem-me à perna! É que eu nunca me deixo enganar...

sexta-feira, 25 de julho de 2008

O que fazer com os filetes de pescada?!!!!




Hoje de manhã descongelei filetes de pescada... e vinha para o trabalho a pensar o que fazer com eles. Fritá-los, o banal, não me apetece!!!! E vai daí que me veio à mente o seguinte:

Temperar os filetes com sal, pimenta e alho.

Pegar em dois alhos franceses e cortar só a parte branca às tiras muito fininhas.

Pôr na frigideira azeite e colocar os filetes a alourar de um lado e do outro.

Retirar os filetes e em seguida colocar na mesma frigideira uma cebola picada, miolo de camarão, o alho francês cortado, um pacote de natas e deixar a cozer um pouco. Temperar a gosto.

Dispor os filetes num tabuleiro e este "preparado" por cima. Por fim pôr queijo ralado e levar ao forno.

Eheheeh, foi o que saiu... Isto devido a uma ideia que a D. Cândida me deu esta semana.

Assim não vale, torcer o nariz para os tais "medalhões de pescada"... a ver!!!

Depois logo vejo se faço arroz branco... ou puré para acompanhar...

terça-feira, 22 de julho de 2008

Yuppiiiiiiiiiii!!!!!!

Yuppiiiiiiiiiiii!!

Hoje é a minha FOLGA....ufaaaa!!!!......minha e da PM, lá fomos nós à depilação.....estivemos lá toda a manhã, as rapariguinhas da estética até suavam......”moçoilas de pêlo na benta” comentavam entre elas.

Almoçamos na esplanada….fomos gastar as gorjas ganhas na última semana...foi fixolas disse eu...foi do barril (ou baril?!!!!) disse a minha “cumpincha”.... e lá fomos dar uma voltinha pela praia com o intuito de ver o Parménides de sunga...eheheheheh, sim...ele usa sunga!!!!
Mas nem vê-lo, onde andará?!!!
Até lhe trouxemos uma termos com o seu leitinho...ohh...uma não, duas....uma cada uma!
Isto para o demovermos a deixar a sunga….pertencemos ao Movimento Contra a Sunga.
O que leva os Homens a usarem tal coisa?!!!!











Bem.....como não o encontramos, olhamos em redor....começamos a apreciar o movimento....há com cada um!!!

E é ouvi-los:
“ò meu caralho, "sai-me" da água, tás todo encurrilhado!”
“sai, és mouco?!!?? levas já no focinho!”
“olha que te pára a “congestão”” .............????!!!!!??????
Nós, como somos duas raparigas sensíveis e recatadas, apesar de estarmos habituadas às conversas da tasca (cheias de sumo...de uva ou do que seja) há certas e determinadas conversas, situações, episódios que nos baralha a mioleira, não propriamente as caralhadas em si, mas sim o comportamento das pessoas, ya THE BEHAVIOR, DO THEY KNOW WHAT IT IS THAT????
A violência verbal!!! A falta de paciência que se sente hoje em dia!! A falta de diálogo!!! A falta de harmonia!!!
Aliás faz-me confusão muita coisa: a falta de educação, a falta de civismo, não suporto a inconveniência, a falta de humildade, etc,…..enfim....se calhar ando a exagerar na dosagem!!!
Mas é o Sr. Dr. que teima em não me diminuir a dose.

E há outros ainda que:



“é o gelado OLÁ, é o gelado que se lambe aqui e acolá”
“é o gelado fresquinho é pra menina e pró menino”

In the beach we hear interesting things!!!

Adiante, já estou com um secão…

(quem não tenha percebido nada, a tradução encontra-se disponível mediante cobrança!!!)

BOAS FÉRIAS PARA QUEM AS TEM!!!

sábado, 19 de julho de 2008

É preciso ter lata!

Numa embalagem de tomate em pedaços que existe no mercado, pode ler-se a seguinte recomendação: "Consumir de preferência antes de ver data no fundo da lata". Ou seja, deve consumir-se primeiro e só depois se deve ver a data que existe no fundo da lata, assim em jeito das surpresas lúdicas de que o marketing é fértil. Como é evidente para qualquer pessoa, menos para quem completou a frase obrigatória por lei, o sentido do que ficou escrito é exactamente o contrário do pretendido.

Outras variantes não são melhores. Acho um especial fascínio no encantador "Consumir até ver fundo da embalagem", instrução que decerto tem em vista os consumidores de 6 anos de idade, os quais podem não se aperceber que, chegando ao fundo do recipiente, é escusado insistir pois não há mais.

Estes exemplos mostram a pouca atenção que se dá a muito do que por aí se escreve para que outros leiam. Parece existir uma regra única: se eu percebo, toda a gente tem de perceber. No entanto, seria muito fácil evitar o duplo sentido em ambas as frases. Bastava compô-las evitando o verbo "ver".

Estes exemplos ilustram também em parte o que acontece com a legislação portuguesa. Em geral, é escrita com muitas deficiências. Escrevem-se e publicam-se leis sem que haja o cuidado de testar previamente a sua compreensão junto dos cidadãos, que são, afinal, os principais visados e interessados na maior parte delas.

Mas a coisa, infelizmente, é ainda pior. É fácil provar que as leis são escritas de forma propositadamente complexa, enrodilhada, vaga e subjectiva, a fim de que o cidadão vulgar tropece nuns obstáculos e caia numas armadilhas, pois normalmente isso dá origem ao pagamento de umas coimas, sempre bem-vindas para financiar o eternamente deficitário Estado. Ou tenha de recorrer a juristas e a tribunais para interpretarem a lei, para virem logo outros juristas e outros tribunais interpretarem de maneira diferente, uma actividade verdadeiramente empolgante para quem a faz, embora muito perniciosa para a carteira do tal cidadão vulgar para quem era suposto a lei ter sido escrita.

A preocupação em complicar é tão grande que, quando uma lei estabiliza por algum tempo, logo alguém se lembra de a alterar e assim renovar a dificuldade da sua leitura e aplicação. O caso mais espectacular verifica-se quando as próprias alterações, de forma recursiva, geram por si sós, sem que seja alterada uma única palavra do texto, nova modificação complicativa. Foi o que aconteceu com a recente renumeração dos artigos do Código do IVA (pelo Decreto-Lei n.º 102/2008 , de 20 de Junho).

Exemplifiquemos algumas das consequências da renumeração de um articulado como este:

(1) Quem lida usualmente com a lei e a ela tem de se referir, conhece de cor o número de muitos artigos, o que facilita o seu trabalho. Esse conhecimento fica desactualizado num ápice, obrigando a uma reaprendizagem de uma coisa exactamente igual. Um professor, por exemplo, não pode continuara referir-se às regularizações do artigo 71.º, pois elas, ao fim de vinte anos nesse sítio, foram agora morar para o 78.º.

(2) Da mesma forma, inúmeras referências em textos técnicos ficaram desactualizadas. Um profissional ou um estudante que compulse a lei actual enquanto lê um artigo fundamental publicado em 2006, conclui que a bota não bate com a perdigota.

(3) Milhões de facturas e outros documentos comerciais pré-impressos, bem como ferramentas como carimbos e programas informáticos têm de ser destruídos, substituídos ou alterados, pois as referências à lei ficaram erradas.

Lê-se no preâmbulo do referido decreto-lei que a renumeração foi feita pelas "mesmas razões" já nele anteriormente enunciadas. Se formos à procura delas, concluímos que a renumeração foi feita para aprofundar a qualidade dos actos normativos, para simplificação, numa perspectiva de "legislar melhor", bem como permitir uma melhor "compreensão sistemática" da própria lei.

Desconfio que quem legisla em Portugal são os mesmos fulanos que fazem os rótulos para as latas de tomate em pedaços. Quase que apostava. Lata, pelo menos, não lhes falta.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Meu querido mês de Agosto

Finalmente as férias e tudo o que de bom elas trazem!

Pensando melhor – Será assim tão bom quanto isso? – É que nem sei o que vos diga, pois está um indivíduo mortinho que as férias cheguem, mas o que acontece nessa altura?

O que acontece é que um gajo, teso como um carapau, limita-se a acampar ali na esplanada da Tasca, bebendo umas bejecas e comendo uns camarões do Eusébio, que o Silva nestas alturas costuma ser bondoso e aponta a despesa no livro. Até aqui tudo bem, o problema é que os altifalantes ali da igreja, por sinal a precisar de um remédio prá rouquidão, não se calam nem por um caraças e ei-los a debitar musicas pimba e outras que tais, tudo dependendo do repertório de que dispõe o homenzinho a quem se alugou a instalação sonora.

Bem sei que é por esta altura que aqueles indivíduos, os políticos, aqueles que “trabalham” no parlamento e afins, vão de férias. Mas porra, em vez de termos descanso, o que acontece? – Apanhamos com uma música que não sei até que ponto será tão ou até mais nociva do que aquela que levamos dos políticos!

E Setembro está já aí … o tempo não pára e lá vamos nós apanhar novamente com a musica dos pitróis, do deficit e outras queixinhas que tais.

Por falar em queixinhas, fonix, é o que eu digo, vou ter de fugir da esplanada, que o tio Jaquim hoje já me falou para aí umas cinquenta vezes na dor que lhe arrepanha as costas todas!

Entretanto, para não vos maçar mais com palavras que reflictam este meu “dilema veraneante”, nada como vos demonstrar os meus sentimentos através duma coisa que decidi chamar de “Joke Box”, ou lá como se chama aquela máquina inventada pelos amaricados e que havia ali na barraca dos matraquilhos do Sousa. Ora aqui vai:

(nota: em cada clip devem clicar na palavra "blogger" para ouvir, e na mesma palavra para parar, embora fosse preferível ouvir tudo até ao fim. Isto porque tive de minimizar os ditos cujos, de forma a que as obras-primas do Choninhas não fossem lá muito para o fundo)


CONSTITUÍÇÃO ... fosgasse que ele há gajos que só com um desenho é que atingem ... (da esquerda para a direita … e de cima para baixo): Santana “Coisinha” Lopes, Mário “Areias” Lino, Marques “Fantasminha” Mendes, Paulo “Roxinol” Pedroso, Manuela F. “Bicho” Leite, M.ª de Lurdes “Taralhouca” Rodrigues, Paulo Portas de “Variações” e … a extremo esquerdo (consta-se que vai passar a jogar ao centro) … José “Moranguito” Sócrates.

Boas férias, que eu vou ali e já venho!

sábado, 12 de julho de 2008

Ensaio sobre a cegueira


Olá, o meu nome é Parménides Juvenal e moro aqui no bairro. Ultimamente, moro também dentro de um pipo de moscatel na arrecadação da Tasca do Silva.

Eu até nem quero ser ingrato pela estadia que me têm proporcionado, mas a verdade é que tenho dois pensamentos que me incomodam neste momento. Quer dizer, três: primeiros, é a minha mãe, que é capaz de já estar preocupada por eu não aparecer há tanto tempo em casa. Segundos, não sei se o Ronaldo já casou com a Nereida ou não. Terceiros, já fazia uma mijinha.

Em relação à primeira, temo que com a preocupação de nunca mais me ver, a minha mãe comece a dar a minha colecção de penas de pombo para a obra de caridade do Padre Inácio, que as usa para produzir colchões (penso que já toda a gente deve ter ouvido falar nos famosos Colchões do Padre Inácio). A última vez que estive tanto tempo fora foi na 4ª classe, quando fizemos uma viagem de estudo ao Zoo e o porteiro teimou em não deixar sair a minha professora enquanto ela não largasse da mão um dos chipanzés, de modo que não teve outro remédio senão deixar-me lá e regressar com os meus colegas.

Felizmente a situação resolveu-se no mesmo dia, porque antes de sair do serviço, o porteiro acabou por me reconhecer e levou-me para casa. Às vezes dá jeito o nosso pai trabalhar como porteiro.

Em relação ao Ronaldo, a minha grande preocupação, como aliás a de grande parte dos portugueses, e até dos ucranianos que moram aqui no bairro, é de ordem geo-política, pois qualquer homem esclarecido não gosta de ver um símbolo da identidade portuguesa cair assim tão facilmente sob domínio da língua espanhola. Esta é que é a verdade e não tem nada a ver com o que se diz por aí, da clássica e masculina inveja que se tem do indivíduo que casa com uma gaja boa.

Isto da união de Portugal e Espanha são ideias lá do Saramago, que foi o último caso que me lembro de identidade portuguesa sob domínio espanhol, mas aí não havia grande problema pois o seu domínio da língua espanhola sempre era melhor do que o português com que ele escrevia.

Na caso do Ronaldo é capaz de ser pior, porque dizem que a Nereida tem um grande domínio da língua, o que pode ser extremamente sedutor para um homem. Digo-o com experiência de causa, pois bem me lembro quando vi, sem a minha mãe reparar, à porta da casa da madame Sissi, uma das suas funcionárias a lamber um calippo, descontrolei-me um bocadinho e tive de ir limpar a braguilha das minhas calças com uns kleenexes. Penso que a madame Sissi seja uma artista de variedades, daquelas que contam anedotas, porque fartam-se de entrar homens lá em casa, que saem pouco depois com um sorriso nos lábios.

Eu desconfio que a Nereida já leu Saramago, especialmente, o “Ensaio Sobre a Cegueira”, onde se conta sobre a praga duma cegueira branca, incurável e não identificada, que ataca toda a gente menos a mulher de um médico. Eu até acho que o Saramago se inspirou na mulher do doutor Anacleto, o médico aqui do nosso posto de saúde, porque a minha mãe diz que ela é que tem “dois olhinhos e o Anacleto anda cego”, cada vez que a vê passar de braço dado com um tipo alto e musculado, nas horas em que o marido dá consulta no posto. Eu só acho esquisito que um médico cego possa exercer medicina, mas por mim, tudo bem.

Foi no “Ensaio Sobre a Cegueira”, que o Saramago deu a táctica para a Nereida :“Se puderes olhar, vê. Se podes ver, repara”, e vai daí ela olhou o Ronaldo, viu a fortuna e reparou na sua reforma. Pimba. Por que no te callas? E ele calou-se.

A minha situação neste momento é outra semelhança com o livro do Saramago, mais ou menos como uma cegueira branca, mas ao contrário. Vejo tudo preto no fundo desta pipa.

Se alguém me pudesse ajudar a sair, não precisavam de se incomodar mais, eu até ia andando para casa. E também já bebia um copo de leite morninho.