segunda-feira, 17 de novembro de 2008

E porque...

... hoje há uma Tasqueira a celebrar primaveras (ou será invernos?), aqui vai a nossa singela – mas ao mesmo tempo sentida – prenda… Ora desembrulha (ou embrulha… tudo dependendo como interpretas a coisa).


domingo, 9 de novembro de 2008

CSI:TDS - "Afinal havia outra" - parte VI (e última, carago)

Intrigado pela descoberta da conversa entre Tozé e Marineide, Parménides Juvenal decidiu ir até à porta da Tasca do Silva, estabelecimento estável de Chico “Búfalo” Dias, para tentar saber mais sobre o que tinha ouvido o engraxador, pois o que vira não parecia ter sido uma discussão violenta, como este tinha afirmado.
Chico aguardava clientela, enquanto degustava uma mini preta.
- Boa tarde, sr. Dias! – Parménides tratava toda a gente pelo apelido – Sabia que afinal a Sueli não matou o sr. Vilarinho?
- Ai sim? E eu ajudei a polícia a prendê-la porquê? Por causa da música sertaneja que ela trazia em altos berros no telemóvel, foi?...
- Não, ela gostava mesmo dele como afirmou à polícia. Eu ouvi o que ela lhe disse numa gravação vídeo da loja do sr. Xixi...

Parménides desviou-se para dar passagem a um cliente que chegava, o qual tomou o seu lugar no banquinho de engraxador, enquanto “Búfalo” Dias se sentava no apoio frontal aos sapatos. Já sentado, Chico esticou-se para pousar a garrafa de cerveja no chão, e foi então que Parménides lhe viu o fundo das costas, o que o traumatizou bastante. Não porque o rego do engraxador fosse mais peludo que o de um normal trabalhador das obras, mas porque a camisola levantada permitiu ver, nas costas de Chico, uma borboleta tatuada em tons de verde e roxo. Parménides estremeceu ao olhar também para a cabeleira loura do “Búfalo”, não conseguindo parar a tempo o seu discurso:
- ...e ela falava noutra pessoa envolvida, que tem os cabelos louros e uma tatuagem de borboleta nas costas...

Com a velocidade de um relâmpago ou, mais velozmente, com a velocidade com que Luís Filipe Menezes muda de opinião, Parménides apercebeu-se que tinha encontrado o criminoso. Fora de facto um crime passional, embora diferente do que seria de esperar!
Ao mesmo tempo, Chico “Búfalo” Dias apercebeu-se que tinha de dar uma “engraxadela” definitiva naquela personagem, antes que mais alguém soubesse disso.
O engraxador virou-se repentinamente para trás, destilando toda a sua fúria de homem acossado pela revelação dos seus sentimentos, tentando atingir Parménides com a lata de graxa preta, algo que o jovem de 40 anos conseguiu evitar.

- Ó sr. Dias, veja lá que quase me ía aleijando...
- ...sim, foi ciúme... e qual é o problema? Um caso com a lambisgóia da brasileira eu ainda aguentava, afinal, não é fácil assumirmos quem somos neste bairro hipócrita, cheio de gente antiquada, agora... renovar os votos de casamento com aquela pindérica da Carmelinda? Isso não!
Sentindo pela segunda vez nessa semana, um ligeiro descontrolo do seu esfíncter e pressentindo uma pequena mancha acastanhada nos boxers, Parménides largou a correr pela rua abaixo, perseguido pelo engraxador em fúria, que sacou do seu canivete suíço, curiosamente, comprado na loja do sr. Ping Xixi, e que para lá de cortar pão e queijo serrano, tinha ferramentas muito úteis para o esventramento de testemunhas incómodas.

* * *

Enquanto isso, na central CSI, Nico entrou no gabinete de Gil Grisso com o relatório das análises de ADN às unhas de Tozé Vilarinho:
- Tenho duas novidades, uma boa e uma má!
- Deixa-me adivinhar – disse Gil – o iva vai passar a ser pago apenas aquando do recebimento dos clientes e o nosso orçamento foi reduzido para metade!...
- Quase...-lamentou Nico – A má notícia é que Tozé não limpava as unhas muito frequentemente e estavam cheias de...digamos, resíduos. A boa notícia é que, entre eles encontrámos restos da pele, identificados como pertencentes a um tal de Parménides Juvenal, morador do bairro.
- Apanhámos o nosso homem! Rápido, alerta total, vamos cercar o bairro!

* * *

Entretanto, nesse mesmo instante, Parménides lutava pela vida, num esforço físico nunca antes atingido, se descontarmos as vezes em que a sua mãe vai ao Jumbo e ele tem de carregar as compras até ao terceiro andar onde mora. Numa espantosa coordenação de movimentos, enquanto corria, pensou, porém em voz alta, com os seus botões:
- ...eu não estou a perceber nada, como é que podia achar aquele senhor atraente?...
Três metros atrás de si, o engraxador ouviu o comentário:
- ...ah, já percebi, tu também és daqueles que acha que um homem não pode sentir atracção por outro homem, se calhar também obedeces à disciplina na votação da lei do casamento homossexual... anda cá, meu choninhas...
Era espuma de raiva o que escorria pelos lábios de Chico Dias enquanto dobrava a esquina na perseguição a Parménides, que num harmonioso movimento de quadris, sem dúvida inspirado na famosa revienga de Cristiano Ronaldo, evitou a banca de frutas do sr. Almerindo, o mesmo não sucedendo com o engraxador, que se foi estatelar numa caixa de tomates maduros.
- Já que gostas tanto, brinca agora com esses... - diria um herói de acção, intrépido e galante como, por exemplo, James Bond. Mas Parménides não disse nada.

Subitamente, entram na rua dez carros de patrulha, com as sirenes de novo imitando José Castelo Branco, respondendo à ordem da central CSI para deterem Parménides Juvenal para interrogatório. O merceeiro entregou Chico Dias às autoridades por assalto à mão armada perpetrado sobre uma caixa de tomates, o que facilitou o trabalho da polícia quando Parménides relatou no interrogatório tudo o que tinha descoberto.

Nessa noite, Parménides Juvenal pôde mais uma vez gozar o conforto do seu lar, sentado aos pés do maple onde sua mãe fazia renda, enquanto ambos viam um concurso na televisão, embora sem lhe prestar grande atenção. Na verdade, o seu imparável cérebro preocupava-se com a viúva de Tozé Vilarinho.
- Finalmente, a Carmelinda pôde ter alguma paz de espírito...
- Meu filho, a verdade vem sempre ao de cima. Foi bom ela saber que o marido não foi morto pela lambisgóia da amante mas sim por um abafador de palhinha psicótico!
Não sabendo bem o que a mãe quereria dizer com isso, Parménides achou por bem interromper os movimentos que fazia com a palhinha no seu copo de leite morninho, não fosse isso torná-lo psicótico...

domingo, 2 de novembro de 2008

O "grande embuste" dos exames

Pela enésima vez na comunicação social, veio o jornal Expresso desta semana, em dois locais, criticar, enquanto medida política, o "grande embuste" do facilitismo dos exames nacionais do 9.º ano de 2008. Nem uma só vez se viu, porém, uma análise séria do fenómeno, quer justificando onde e porquê foram os exames deste ano mais fáceis que os dos anos anteriores, quer discutindo a inadequação do respectivo grau de dificuldade.

Eu experimentei resolver de uma assentada os exames de Matemática de 2005, 2007 e 2008. Dado que os critérios de correcção são muito objectivos, é fácil determinar resultados indiscutíveis. E os resultados que eu obtive foram, respectivamente, 85%, 83% e 95%. Estes resultados confirmam a maior facilidade do exame de 2008? Parece que sim. Mas a diferença observada não é, de maneira alguma, indiciadora de que se passou do 8 para o 80, como as mais calamitosas notícias podem fazer crer ao cidadão inadvertido. Eu pergunto, que dados objectivos como o desta minha experiência foram tidos em consideração para fazer juízos de valor como os que se têm visto na comunicação social?

Por outro lado, é estranho que nunca se discuta se o grau de dificuldade dos exames tem sido adequado (ou inadequado) em relação aos respectivos objectivos e à população alvo. É sempre apresentada a ideia de que os exames fáceis, ao "baixar a fasquia", são catastróficos para a formação do aluno. Esta atitude ignora duas coisas. A primeira, é que muitos professores têm uma inexplicável tendência para não colocar nos testes ou nos exames questões demasiado simples, apenas porque assim os alunos as iriam acertar e isso não lhes acarretaria qualquer mérito. Como se só houvesse mérito em saber as coisas difíceis. A segunda, é que está por fazer uma análise cuidadosa sobre as competências médias do aluno português, considerando questões históricas e culturais da sociedade em Portugal. Será que o aluno médio real é aquilo que se imagina? Ou estará uns 10% mais abaixo?

Espero que não haja pruridos em relação a este último aspecto. Voltando ao lugar-comum da fasquia, é perfeitamente aceite que as marcas nos saltos em altura sejam mais baixas para atletas do sexo feminino, sem que isso represente um anátema inferiorizador das mulheres. Ou será que, em analogia com o título de um dos artigos do Expresso, devemos considerar que a fasquia oficial mais baixa para estas atletas são um grande embuste?