domingo, 24 de maio de 2009

24 - Operação Moelas (II)



- Se alguém nos pode ajudar, ele é esse alguém – disse o inspector Agostinho, enquanto acompanhava o Silva ao T1 de Jack Bauer – Ele é um dos duros, sr. Silva, ex-comando, ex-legião estrangeira na Somália, ex-Securitas no abastecimento de caixas multibanco da Cova da Moura, ele saberá como lidar com esta emergência.
- E o inspector sabe isso tudo porque?... - perguntou o Silva, tocando à campainha de Bauer.
- Ele arranjou-me a máquina de lavar lá de casa. Reformou-se da vida activa e optou pelo low-profile aqui no bairro, fazendo biscates ocasionais.
- Inspector Agostinho! - Bauer abriu a porta ainda em pijama – Não me diga que a sua esposa tem outra vez calcário na serpentina...
- ...da máquina? Não, Jack, o teu arranjo foi perfeito. Temos aqui uma emergência e precisamos da tua ajuda para salvar a tasca do Silva.

O inspector contou rapidamente o que tinha acontecido e o que estava em jogo, face ao beberete de apresentação da candidatura de Aníbal Silva.
- Mas eu nem gosto de moelas! Porque haveria de ir em busca da receita? Não, não contem comigo, estou reformado dessas vidas.
- Estou certo que haverá alguma coisa que possamos fazer para o convencer.
- Não há. Só quero paz, sossego e uns biscates para ganhar uns trocos.
- Se não estou enganado, Jack, - atalhou o inspector – andas há mais de quatro anos para conseguir uma licença para fechar a varanda com uma marquise de alumínio, não é verdade?
- Sim, mas...
- Estou certo que a tua ajuda para salvar este evento não será esquecida pelo presidente da junta e em breve a tua licença poderá sair. Que dizes?

* * *

Não longe dali, no principal (e único) espaço verde do bairro, o jardim Arq.º Carrapatoso, um grupo de três homens de tez morena, estatura mediana, vestidos de negro e com um leve aroma a orégãos, aguardavam junto à paragem do autocarro 27.
- كنت تعتقد أن هؤلاء الكفار يأكلون الخراء؟ الحوصلات؟ (*em português: Tu acreditas que os infiéis comem estas porcarias? Moelas?)
- ولكن في نهاية المطاف ، ما هو لمصلحة المنظمة في سرقة هذه ورقة وصفة؟ (* Mas afinal, qual é o interesse da Organização em roubar esta folha de papel com uma receita?)
- اغلقت حتى نكح النجاسة ، محمد! الغرض من هذه المنظمة ليست للبحث ، للوفاء ، والله (* Cala-me essa boca impura, Mohamed! Os desígnios da Organização não são para discutir, são para obedecer, tal como a Alá.)
- اغفر لي ، أشمد ، أنا تنتهك 7 في الجنة من الحور العين في العودة إلى وضع المنظمة في السؤال... هو سخيف الحافلات يأتي أبدا؟ (* Perdoa-me, Achmed, que me violem as 7 virgens do paraíso se voltar a pôr a Organização em causa... E a porra do autocarro, nunca mais vem?)
Fruto do pouco tempo de permanência e do grau de desconhecimento do modus vivendi dos portugueses, os três indivíduos desconheciam que, naquele dia, não haveria de chegar qualquer autocarro devido a mais uma das habituais greves, em luta por... já ninguém sabia muito bem o quê.
* * *

- Posso utilizar alumínio anodizado e persianas verdes? - atirou Bauer após pensar uns instantes.
- Irei pessoalmente assegurar-me disso, Jack.
- OK, contem comigo. Preciso das plantas do bairro no meu iphone, e preciso delas já!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

O engenheiro Simões

Esta história é verídica. Contou-ma o meu amigo AJ:

O engenheiro Simões? É pá, o engenheiro Simões é o homem mais forreta do mundo! Aquilo é mais agarrado ao dinheiro que sei lá o quê. Já o pai era um grande forreta, podre de rico mas forreta, e ele saiu ao pai. Olha, eu tenho uma história passada com o engenheiro Simões que mostra bem a forretice deles. O engenheiro Simões, na altura em que entrou para a Universidade andava a chatear o pai pra lhe comprar um automóvel. Isto aí por volta de 1965. Ó pai, compra-me o carro! O pai não comprava coisa nenhuma. Ó pai compra-me o carro! E o pai não comprava. Ó pai compra-me lá o carro! E o pai, nada.

O engenheiro Simões andava pior que estragado com o pai porque ele não lhe comprava o raio do carro. Uma noite, estávamos eu e o engenheiro Simões a jogar bilhar na Associação às quatro da madrugada e o engenheiro Simões estava danado e não parava de chamar forreta ao pai. Dizia ele: aquele sacana não há meio de me comprar o carro, é um forreta do caraças, nunca vi ninguém tão forreta como ele! E coisas assim...

Acontece que nessa mesma noite em que eu jogava bilhar com o engenheiro Simões, morre-lhe o pai. Morre-lho o pai e o engenheiro Simões, que era filho único, herdou nessa noite toda a fortuna. Sabes o que aconteceu? O engenheiro Simões só comprou o carro passados quatro anos depois do pai morrer! Quer dizer, o pai era uma grande forreta, mas o gajo conseguia ser ainda mais forreta que o pai!!

Ouve, podes ter a certeza, o engenheiro Simões é o homem mais forreta do mundo!

sexta-feira, 1 de maio de 2009

E depois de tanta especiaria...

E depois de tanta especiaria, a minha loja de especiarias preferida. Não tanto pelas especiarias em si, mas pelo dono e pelo ambiente da estreitíssima rua. Fica na Kalçin Sk, mesmo ao lado da Mesquita de Rüstempaşa.

Loja de especiarias em Kalçin Sk


Cúpula da Mesquita de Rüstempaşa

Biryani de frango

Biryani é um prato à base de arroz, carne e especiarias. Durante anos o biryani não me despertou grande entusiasmo, tendo em conta algumas receitas que experimentei. A coisa mudou totalmente de figura quando fiz um biryani baseado na receita publicada por Maria Fernanda Noronha da Costa e Sousa no seu livro Sabor de Goa (Assírio e Alvim). Devido a dois ou três pormenores de confecção, o resultado é absolutamente extraordinário.

É um bocadinho exigente na quantidade de ingredientes, mas vale a pena juntá-los todos. Eis a minha versão, para 4 ou 5 pessoas:

Ingredientes (por ordem de entrada em cena)

Peitos de frango
Óleo
Cebolas
Cardamomo verde
Cardamomo preto
Cravinhos
Cominhos moídos
Coentros moídos
Piri-piri
Curcuma
Louro
Pau de canela
Alho
Gengibre
Sal
Iogurte natural
Água
Arroz basmati
Nigela
Coentros frescos
Malagueta verde
Pimenta moída
Limão
Manteiga
Leite

Receita

Cortar os peitos de frango em pedaços pequenos.

Numa frigideira, fritar em óleo duas ou três cebolas cortadas às rodelas, até algumas ficarem bem castanhas. Reservar.

Esmagar 4 cardamomos verdes, 1 cardamomo preto e 4 cravinhos. Juntar 1 colher de chá de cominhos moídos, 1 colher de chá de coentros moídos, um pouco de piri-piri, um pouco de curcuma, uma folha de louro, um pau de canela, 3 dentes de alho picados e um pedaço de gengibre cortado finamente.

Num tacho suficientemente grande para levar todos os ingredientes, refogar uma cebola. Juntar as especiarias e fritar durante um minuto. Juntar o frango e fritar durante mais um minuto. Temperar com sal. Juntar 2 iogurtes naturais, envolvendo bem. Tapar o tacho e deixar estufar em lume médio, mexendo de vez em quando e vigiando até que o molho seque e a mistura volte a fritar. Juntar um pouco de água de forma que fique com um molho grosso. Deixar ferver durante 2 minutos.

Noutro tacho, cozer arroz basmati em água, sal, meia folha de louro e 1 colher de chá de nigela durante 10 minutos. Escorrer a água.

Sobre o frango estufado espalhar a cebola frita, depois um pouco de coentros frescos picados e malagueta verde picada. Temperar com pimenta preta moída. Cobrir com o arroz. Regar com sumo de 1 limão. Colocar por cima 4 cardamomos verdes inteiros e 4 lâminas finas de manteiga sobre os cardamomos. Regar com 6 colheres de sopa de leite onde se dissolveu meia colher de chá de curcuma. Tapar o tacho e deixar em lume muito brando durante 10 minutos.

Servir com tzatziki em taças individuais.

A nigela é opcional, pois não será fácil de encontrar. Ver aqui informação adicional sobre alguns ingredientes e locais de compra.

Tzatziki

O tzatziki é uma mistura de iogurte com pepino, óptimo para o tempo quente que se avizinha. Pode ser servido de diversas maneiras, nomeadamente como entrada, como acompanhamento de carnes grelhadas ou para rechear sandes. Uma outra hipótese é servi-lo em pequenas taças individuais, para ir refrescando o palato ao longo da refeição.

Descascar e cortar pepino em quatro pedaços, ao comprido. Retirar a parte interior que contém as sementes. Cortar depois em pedaços muito pequenos. Temperar com sal e reservar durante 20 minutos no frigorífico. Escorrer, misturar com iogurte natural e temperar. As quantidades de pepino e de iogurte podem variar para obter a consistência preferida.

O tempero também pode variar consoante os gostos. As receitas mais tradicionais incluem alho, hortelã e sumo de limão. Mas também pode levar apenas azeite e substituir a hortelã por outras ervas, como salsa ou tomilho. Servir fresco.