sábado, 28 de junho de 2008

...está aí alguém?...


Alô?...está aí alguém?...Alô?...pois, já vi que se foram todos embora...

Se calhar vou ter de passar aqui a noite, não é que eu me importe, pois este pipo onde me meteram até é fofinho e tem um aroma doce a moscatel...ou então a sopa de lentilhas que comi ao jantar já começou a produzir efeito!

Não sei se está aí alguém que me possa ajudar, mas de qualquer maneira vou explicar como é que vim aqui parar. O meu nome é Parménides Juvenal, mas toda a gente me chama de PJ...ou choninhas...às vezes também me chamam de Parménides Parvalhão, de simplório, de Maria Amélia...enfim, isto os amigos já se sabe como é.

Moro aqui no bairro desde que nasci e para a mim, a Tasca do Silva sempre foi o objectivo da minha vida. Sempre que passava à porta, sentia algo dentro de mim que me impelia a entrar. Infelizmente, ao mesmo tempo, sentia algo fora de mim que me impedia de entrar – era a minha mãe que não me deslargava a mão.

Eu sei que a minha mãe só quer o meu bem, afinal, se não fosse ela a refrear os meus impulsos de jovem com 40 anos, Deus sabe onde eu já estaria...

Tinha ouvido dizer que ía haver na Tasca uma festa com miudas giras e pensei comigo: é hoje que tens de lá ir, não podes perder esta oportunidade de ver a Manuela Ferreira Leite aqui tão perto!

Vai daí, disse à minha mãe que vinha despejar o lixo, pois era a única forma dela me deixar sair de casa a horas tão tardias. Eram 8 da noite e fiz-me ao caminho da Tasca do Silva. Como moro na rua de cima, o caminho fez-se sem problemas.

Tive o cuidado de colocar o pé direito no rebate do lancil, enchi o peito de ar, limpei as lentes dos óculos que se me tinham embaciado de emoção e avancei.

Casa cheia, como supunha. Numa mesa central jogava-se a jornada final do campeonato europeu de bisca lambida, que este ano foi organizado aqui na Tasca, entre o Manolito, espanhol que trabalha na carpintaria do Fagundes e um alemão, Fritz qualquer coisa, acho que foi a minha mãe que me disse, quando no outro dia se lhe escapou um qualquer comentário sobre a salsicha do alemão, embora eu estivesse convencido de que ele era pintor. Não de paredes, artista mesmo, daqueles que valerão muito mais dinheiro quando morrer.

Cheguei-me ao balcão e pedi uma bebida ao senhor do avental : Boa noite, meu senhor, eu queria um copo de leite morninho, faz favor.

Eu não percebi muito bem o que se passou, sei que de repente fez-se silêncio na Tasca, e logo de seguida irrompeu uma gargalhada geral, enquanto o pessoal se ía acumulando à minha volta. “Olha-me este!”, “Queres leite, mama aqui”, “Tinto, dêem-lhe tinto” foram algumas frases que ouvi e que me lembro, o resto, até saquei do meu bloco de post-its para tomar nota, mas na confusão deve ter caído.

Eu mantive a calma, claro. A malta aqui do bairro é simpática, está sempre na galhofa e ninguém me iria magoar, afinal de contas eu tomo Bio Danone, que me protege com uma bolha amarela que impede os agentes exteriores de me agredirem. Eu gosto muito de viver nesta bolha, é confortável, quentinha, bem vistas as coisas, tem até mais espaço do que o meu quarto nas águas furtadas lá de casa. Bom, mas dizia eu que o Bio Danone me protege das agressões exteriores do dia-a-dia. E quando a malta me pegou e levou pelo ar, circulando pelas mãos de todos os que ali estavam na Tasca, até me despejarem dentro do pipo que estava na arrecadação, eu sei que o ligeiro incómodo que senti na cabeça quando bati no fundo não era uma falha do Bio Danone, era uma falha minha – nessa manhã não cheguei a tomar a garrafinha completa, porque os bacilos que lá moram, os bifinhos activos, tinham formado uma penugem em volta do gargalo, que me fazia cócegas na garganta. Eu desconfio que isso se deve ao frigorífico estar há 15 dias desligado, porque o meu pai ainda não pagou a luz...mas não tenho a certeza.

Bom...como ninguém aparece, se calhar esqueceram-se coitados...vou dormir um cadito, pode ser que me passem estas tonturas...deve ser a falta do leite morninho que costumo tomar todas as noites...



sexta-feira, 20 de junho de 2008

Habilidades

segunda-feira, 2 de junho de 2008

O país das maravilhas

Que a sociedade portuguesa funciona aos empurrões, já todos nós sabemos há muito.

Ele é no Portugal profundo




Ele é no Portugal moderno



Ou seja, nada como alegrar o Zé Povinho com uns futebóis e eventos afins, que este não se importa de continuar a ser enrabado!

Enfim, continuamos a ser do País dos três efes: Foderam-me ontem, Fodem-me hoje, Foder-me-ão amanhã!

Sobre o Zé Povinho, nada mais a acrescentar. No entanto, houve uma coisa ontem que me deixou intrigado – Então não é que o Tio Cavaco recebeu suas excelências da selecção portuguesa na sua moradia de luxo ali prós lados de Belém, onde a comitiva foi até presenteada com um belo dum lanche (se bem que à base de refrescos e bolinhos … sim, porque para a viagem de duas horas e meia já estava programado servir-se, lá nas alturas, uma bela duma massa com salmão… isto a crer nas palavras do comandante Hipólito)?



Lata das latas, foi ver o Ti Cavaco dizer aos nossos embaixadores da bola para honrar Portugal.

Honrar Portugal??? – Ó Sr. Cavaco, vá lá gozar com a sua Tia ó faxabôr, tá bem!? – Honrar Portugal, é coisa que fazem outras comitivas, como por exemplo os soldados que partem em missões para os países onde graça a guerra; honrar Portugal é coisa que fazem centenas de voluntários que vão para os países assolados pelas desgraças climatéricas, para não falar de outros! … Quantos desses é que vocelência já recebeu na sua mansão, quantos?

Olhe, se é assim que se honra Portugal, vou-lhe dizer uma coisa – Eu e milhares de portugueses desportistas fartamo-nos de honrar Portugal. Sabe porquê? – Porque passamos os dias a jogar bilhar de bolso, pois andamos com os ditos completamente vazios daquilo com que se compra os melões e a mãozinha acaba por ir parar àquilo que o senhor e outros políticos da sua estirpe não têm – TOMATES PARA PÔR ISTO A ANDAR PRÁ FRENTE, SEM SER AOS EMPURRÕES!

Razão tem o Jorge Palma quando canta “Ai Portugal, Portugal, de que é que estás à espera? Tens um pé na galera e outro no fundo do mar” … Finalmente Jorge, finalmente eu percebi o porquê da tua cara de atrofiado … com todo o respeito … até porque a minha está a ficar igual à tua!