sábado, 29 de dezembro de 2007

As estufas de Almeria

Eu tenho um problema com as malaguetas quando quero preparar coisas como o chetnim de coentros. As que se encontram à venda com mais facilidade são espanholas. O mesmo quer dizer que não prestam. Idêntica dificuldade existe com os tomates, os alhos, as cebolas, os pimentos e mais uma longa série de outros vegetais.

É fácil perceber a razão disto numa visita à região de Almeria. A visão do "deserto de estufas" é impressionante. A foto abaixo abarca, em largura, cerca de 30 quilómetros, mas é apenas uma parte da infindável paisagem de plástico. No meio deste incrível amontoado podemos ver, um pouco à esquerda da zona central, a localidade de El Ejido, que tem actualmente cerca de 75 mil habitantes. E à direita, junto à costa, Roquetas de Mar, com 70 mil. Em termos comparativos, qualquer uma delas mete Castelo Branco ou Guimarães num bolso.

É também impressionante o aproveitamento do espaço. A cadeia de estufas, em alguns sítios, só pára a escassos metros das casas, literalmente asfixiando as povoações mais pequenas. E a montanha vai sendo progressivamente convertida em socalcos.

O termo "deserto de estufas" tem um duplo sentido. Desértico é o efeito interminável de centenas de quilómetros quadrados de ininterrupta alvura plástica. Desértico é também o solo, ou não estivessem perto as desoladas terras de Tabernas, onde foi recriada a paisagem americana em vários filmes western spaghetti.

Em qualquer zona que seja plana, cada estufa alberga preciosos metros quadrados de cascalho arenoso de cor cinzenta prateada. É nele que crescem os vistosos legumes que nos enchem o olho e desconsolam a língua, à força de água deitada a conta-gotas. E, claro, de uns pozinhos misteriosos, mas decerto com qualidade e efeitos devidamente certificados pelas ASAEs nacionais e comunitárias. Uma bosta.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Chetnim de coentros

O chetnim (ou chatni, ou chutney na grafia inglesa) é um preparado mais ou menos condimentado à base de vegetais ou frutas, usado como entrada ou como acompanhamento. Cada chetnim admite várias variantes, um pouco ao gosto de cada um. O sabor também pode variar aumentando ou diminuindo a quantidade de cada ingrediente.

Durante anos o chetnim de coentros intrigou-me devido à minha dificuldade em "interpretar" o sabor, que é algo imprevisto, e perceber quais os ingredientes que o formavam. Afinal a receita é muito simples e sem segredos ou mistérios.

Misturar num triturador de cozinha, uma cebola, um dente de alho, um pedaço de raiz de gengibre (do tamanho de uma pequena noz), um ramo de coentros (não em excesso), uma malagueta verde, uma colher de café de açúcar, uma colher de café de sal e o sumo de um limão. Depois de bem triturado, acrescentar 75 gramas de coco ralado. Se ficar muito preso, acrescentar um pouco de água. A mistura tem de ficar húmida mas sem que escorra líquido.

Sugiro este chetnim como entrada, barrando-se pequenas tostas ou pão. O grau de picante pode ser adequado às diferentes sensibilidades, retirando-se as sementes da malagueta (para menos picante) ou usando as sementes e acrescentando uma malagueta (para mais picante).

Na Cozinha da Tasca (4)

Não foi fácil a tarefa! Mas deixo-vos o resultado final, no seu "habitat natural", dispensando as palavras! Grandes Tasqueiros! Valeu a pena!



Magnifica "formatura"







Não precisam trazer a "pinga"!
A Tasca tem da boa!
E hoje é dia de bar aberto!
Venham daí!





Que cheirinho!









Onde encontrar coisas destas?!
Fora a Tasca do Silva, penso que... que... aqui

Parabéns Tasqueira-Mor

Parece que a nossa Tasqueira hoje faz anos ... Parabéns da malta!



Ah ... e por isso, hoje temos bar aberto!

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

O intrigante momento do "Zé-das-Acções"...

Ora, então, muito boas noites p'ró pessoal todo! -- bradou forte o "Zé-das-Acções", colocando os dois pés em posição rigorosamente simétrica e como que colados aos ladrilhos da Tasca, enquanto lançava um interrogante olhar descrevendo um ângulo de 120 graus pelos presentes. E ainda os tasqueiros lhe não haviam retribuído a saudação já acrescentava (e sorria): Parece que o pessoal, hoje, está preocupado é com o futuro dos dois maiores Bancos cá do bananal!

Mas nem esperou as reacções para arrematar com a questão sobre a qual vinha cogitando, soltando logo ali todas estas frases soltas, afirmativas e interrogativas:
- Estive a ler o "Correio da Manhã" na Internet e fiquei sem perceber tudo. Mas acho que não vou ficar a perder...
- Então, agora, os agentes privados já dependem do Estado, ehim? Isto é de doidos!- Digam-me cá o que é que o Governo do País tem a ver com o governo do BCP?
- Mas que falta de vergonha política e de respeito pela concorrência!!!
- Então, agora, o Governo abre mão do segredo do seu melhor negócio -- o da Caixa -- para fazer chegar a sua estratégia e know-how a um outro Banco onde só indirectamente tem interesses?!
- Oh, cum escafandro!
- Será que não havia mais ninguém capaz de presidir aos destinos do BCP?
- Ó Silva, não precisas de ficar com olhos esbugalhados; cumpre a tua obrigação e serve aí o pessoal, que quem paga sou eu; é que em 2009 vou receber uma pipa de dividendos dumas acçõeszitas que tenho do BCP!!!

E enquanto, uns após outros, todos beberam o seu copo à conta do virtualmente bafejado pela sorte a quem, desta vez, a imprevisível estratégia política lhe acena, prosseguiu:
- Eh pá, ele há coisas na política que nem ao diabo lembraria!
- Então, ainda se o demissionário não tivesse ido à audiência prévia com o Ministro, eu ainda admitiria que simplesmente o BPI e o Berardo lhe teriam oferecido um ordenado de craque da bola!... Mas não; o homem vai p'ró BCP porque há ali uma estratégia qualquer que eu ainda não consegui perceber!
- Olhem, nem me interessa perceber. O que me interessa é que os melhores clientes da Caixa passem para o BCP, que é para ver se, finalmente, as minhas acçõezitas rendem algum, que é p'ra compensar o marasmo dos últimos anos!!!

Todos beberam e... arrotaram. E as conversas, opiniões e especulações surgiram em catadupa -- cada cabeça sua sentença -- mas nenhum dos tasqueiros deu uma explicação lógica p'rá transferência de Santos Ferreira (solto ou apoiado em Vara) da CGD p'ró BCP. E uns por ali ficaram a arrotar enquanto outros foram arrotando a caminho do vale de mantas; mas todos ficaram magicando sobre que raio de "cambalacho" é que estará por detrás de tais novidades...

Alguns tasqueiros até tentaram associar a coisa à referência que Sócrates fez -- na sua Mensagem de Natal -- em relação à solução, que parece ter na manga, para os 145.000 postos de trabalho que ainda tem que arranjar até ao fim do mandato, se quiser não levar rodas de lírico ou, pior, de Pinóquio...

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Hallelujah

Uma versão fantástica deste clássico de Leonard Cohen. Rufus Wainwright toca e canta. Para mais informações, vale a pena dar uma vista de olhos ao texto da Wikipedia.



Hallelujah

I've heard there was a secret chord
That David played, and it pleased the Lord
But you don't really care for music, do you?
It goes like this the fourth, the fifth
The minor fall, the major lift
The baffled king composing Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah

Your faith was strong but you needed proof
You saw her bathing on the roof
Her beauty and the moonlight overthrew you
She tied you to a kitchen chair
She broke your throne, and she cut your hair
And from your lips she drew the Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah

Mabye I have been here before
I know this room, I've walked this floor
I used to live alone before I knew you
I've seen your flag on the marble arch
Love is not a victory march
It's a cold and it's a broken Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah

There was a time you let me know
What's real and going on below
But now you never show it to me, do you?
And remember when I moved in you?
The holy dark was moving to
And every breath we drew was Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah

Maybe there's a god above
And all I ever learned from love
Was how to shoot at someone who outdrew you
And it's not a cry you can hear at night,
It's not somebody who's seen the light
It's cold and it's a broken Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah

sábado, 22 de dezembro de 2007

TDS - Vida Selvagem

No outro dia, lá ia eu andando pelos caminhos tortuosos desta selva (há quem lhe chame vida), quando me deparo com este sinal (para quem ainda não tirou o código, atenção, pois estamos a falar de um sinal de perigo):


Como sou ignorante em matéria de bicharada (entre muitas outras), deu-me para fazer um pequeno estudo sobre o dito lagarto.


Consultando a “Wikipedia”, lá podemos ler que “os camaleões são conhecidos pela sua habilidade em trocar de cor conforme o ambiente, por sua língua rápida e alongada, e por seus olhos, que podem ser movidos independentemente um do outro.”

Espera aí, já começo a perceber o porquê do sinal de perigo. Mais, até já me questiono se não deveria haver mais sinais daqueles por aí espalhados, pois realmente aquela espécie tem-se multiplicado desmesuradamente, correndo-se o risco de desaparecerem outras espécies animais, tão necessárias ao nosso equilíbrio. Veja-se do quão letal pode ser o dito animal:

  • Habilidade em trocar de cor: Imaginemos que eu sou um simples e banal lagartixo, franco, amigo do meu amigo, respeitador, honesto e trabalhador (eu disse “imaginemos”, ok?). Como um lagarto simples que sou, qualquer pessoa, perdão, qualquer lagarto, é meu amigo e merecedor do meu respeito. Acontece que entretanto conheço um camaleão e com ele troco impressões sobre um determinado assunto, chegando à conclusão que ambos partilhamos dos mesmos princípios e que, acima de tudo, somos lagartos com princípios!
    Como é que eu fico mais tarde, quando, em conversa com outro lagarto, o mesmo me diz que o tal lagarto com quem eu tinha falado antes, de uma forma franca e aberta, era um vira-casacas sem princípios!?
    E como é que eu fico, quando, mais tarde ainda, descubro que o tal lagarto que me falou do outro lagarto, é ele próprio um “cafageste”?

(ups … enganei-me … selva ainda vá que não vá … agora pântanos!?)
  • Língua rápida e alongada: Ora bem, língua rápida até pode ser uma virtude, mas agora alongada? … tipo … língua comprida??? … daquelas que estão sempre prontas para acabar com a nossa pacata vidinha? Não, obrigado!

  • Olhos que podem ser movidos independentemente um do outro: Mas estamos a falar de quê??? … daquelas pessoas, como dizia o outro, que conseguem olhar para a câmara um e para a câmara dois ao mesmo tempo? Não, obrigado, eu gosto mais daquela história dos “olhos nos olhos”, daqueles olhares sem segundas intenções!

(ups … enganei-me outra vez … foi sem intenção!)

Mal por mal, prefiro as víboras - são o que são e ou se gosta ou não!

Quanto ao dito animal, objecto da minha investigação, apenas vos digo (com muita tranquilidade): LAGARTO, LAGARTO!

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

A Formação Profissional na Tasca do Silva

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Na Cozinha da Tasca (3)

Enquanto não nos chegam notícias da D. Ricardina, Manuela, Cátia Vanessa, etc., vou, entretanto, continuar a mostrar-vos a "obra" (segredos de cozinha) dos tasqueiros.

Ah, o Chico Molas ontem estava ali com uma história curiosa... mas fica para um dia destes, se me lembrar.

Também ouvi falar nuns lobos que andam por aí... vamos ver se, para estes, se arranjam uns ossitos (mas bem desossados de "Chicha").

Enquanto os potes coziam perdizes, perus, patos, galinhas, cabeças e umas tantas ossadas de porco, ainda revestidas de algumas carnes, o pessoal foi partindo em fatias uns tantos pães de trigo, fabricados sem corantes, conservantes nem melhorantes, pouco sal (e um mínimo de fermentos) e com mais de duas horas de cozedura para lhe retirar quase toda a água.

A este pão adicionou-se uma calda resultante da água de ferver as carnes contendo alguns temperos (segredo dos mestres).

Entretanto as carnes, bem cozidas e "desossadas" (galinhas, perus, patos, perdizes e porco) extraindo todas as "chicha" que, bem desfiada, ou partida em pequenos pedaços, juntaram-se ao pão, já feito sopas com a calda. Carnes e pão são bem misturadas. Repare-se que este pão pode desfazer complectamente sem se transformar em papa.

Entretanto foi adicionado mais um tempero importante: azeite puro "mais que virgem" de oliveira.

Acrescentaram-se as especiarias: alho, colorau, malagueta, etc... Misturou-se tudo muito bem e temos a matéria prima pronta para para "embalar" !

Amanhã há mais!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Na Cozinha da Tasca (2)

Mafaldinha ainda não deu notícias... parece que foi curar as frieiras lá para terras de Santa Cruz http://farm1.static.flickr.com/96/247833507_e56ef0eba6_o.jpg

(Frieiras são uma doença provocada pela exposição ao frio que atinge, sobretudo, as zonas mais expostas ao ar e humidade: mãos, pés, nariz e orelhas, sic),
http://farm1.static.flickr.com/190/470527116_7d7efe3e7b.jpg

uma vez que as mezinhas e receitas que por cá lhe recomendavam não surtiam efeito,

e que raio de comichões...

Pesquisando,
"Manifesta-se por uma inflamação dolorosa da pele que fica branca, fria, insensível, com comichão, inchada e vermelha. Em casos mais graves, podem levar à formação de bolhas e dar origem a feridas. Não sendo uma doença grave, é, no entanto, bastante incomodativa provocando algum sofrimento.

As pessoas que sofrem de frieiras têm reacção anormal ao frio. Têm dificuldade em manter a temperatura corporal das zonas expostas, por alterações verificadas a nível dos pequenos vasos sanguíneos superficiais que se contraem e apertam excessivamente, não permitindo que o sangue circule, normalmente, até às extremidades e aqueça a pele.

Afecta muitas pessoas no nosso País, particularmente, as mulheres e, entre estas, as mais jovens e os idosos. Na sua origem parecem intervir factores genéticos, hormonais (as mulheres possuem pior circulação nas extremidades e reagem pior a mudanças de temperatura, devido nomeadamente às alterações menstruais) e problemas circulatórios.

As condições climatéricas tais como o frio e a humidade são factores desencadeantes e agravantes. A doença é mais frequente nos meses de inverno e nas regiões do País com temperaturas mais baixas e húmidas (a humidade aumenta a condutividade do frio) e em particular nos meios rurais. Aqui, também, relacionada com o tipo de trabalho realizado na agricultura que expõe as pessoas mais frequentemente ao frio."
(
fonte: www.medicosdeportugal.iol.pt).
Tratamento: http://www.medicosdeportugal.iol.pt/action/2/cnt_id/812/

Enquanto que, também, não nos chegam notícias da D. Ricardina (houve ou não eleição da Miss Tasca 2007?), vou conti
nuar a mostrar-vos o que os tasqueiros andaram, durantes estes dias, a fazer na tal cozinha:

O número de potes foi aumentando,

e outros tachos e "caçoulos", repletos de vários "espécimes", se foram juntando,









Pelos vistos a azáfama foi enorme, mas, a "obra", garanto-vos, é deslumbrante!


Até amanhã.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Na Cozinha da Tasca (1)

Depois de uns dias de férias, de volta à Tasca fiquei admirado com a azáfama que ia ali na cozinha secreta. Importa referir que se trata de uma cozinha com porta simulada por detrás de um armário, pois que, se assim não fosse, embora esmeradamente asseada, a famosa brigada ASAE já a tinha “selado”.

Não, não se cozinhava a forma de “influenciar” a contagem dos fiéis da paróquia, pois isso foi tratado e controlado a contento pelo regedor da freguesia, nem tão pouco conspiração contra a horta do Esquim das Cenouras por causa da falada suspeita de cultura de trangénicos que, diz-se, são agora a sua paixão, e que tem qualquer coisa a ver com o biocombustível e com uns cursos “por televisão” que andou a fazer...

Mas voltando ao facto que aqui me trouxe e novidade que tenho para vos contar, descobri então que os amigos tasqueiros não têm tido 2 minutinhos para, de vez em quando, aqui deixarem notícias porque a tarefa foi enorme. Mas, garanto-vos, o resultado foi fantástico! Era segredo, mas roubei o cartão de uma máquina fotográfica que por lá estava esquecida e... acabe-se com o segredo!

Por hoje deixo-vos só do principio da história:
Amanhã há mais!

sábado, 1 de dezembro de 2007

O desacordo orthographico

Parece que Portugal vai acabar por ratificar em 2007 o acordo ortográfico de 1990, mas para produzir efeitos só em 2017. Esta decisão revela uma abertura de espírito notável e um sentido de responsabilidade verdadeiramente superior. Acho que este exemplo deveria ser aplicado à generalidade dos acordos que fazemos. Vejamos:

Na escola: Setôr, posso ir à casa de banho? Sim, mas só depois de amanhã.
Em casa: Pai, posso sair com o meu namorado? Sim, mas só daqui a 10 anos.
Deste modo toda a gente fica de acordo e deixamos de andar tantas vezes às turras uns com o outros. Ou seja, ficamos todos em paz e harmonia.

Eu só acho que a decisão ainda pecou por defeito. Em minha opinião, o acordo de 1990 deveria ser ratificado apenas em 2056 para produzir efeitos a partir do ano 2180. Nessa altura, por força de dois séculos de consumo de telenovelas brasileiras, á jeintchi em Pórtugau fálárá do meismo jeito qui no Riu di Jánêro e tudo sêrá mais fáciu.

O que mais me espanta neste esforçado propósito de unificar a língua é que há um afã enorme para se alterar a escrita que, apesar das (poucas) diferenças, se compreende perfeitamente, mas respeitam-se religiosamente as (muitas) divergências fonéticas que constituem a principal dificuldade na comunicação entre os vários povos que usam o português. Por que raio é que havemos de andar a mudar a escrita se continuamos a pronunciar de forma diferente a maior parte das palavras?

É falso, portanto, o principal objectivo do acordo. Nenhum português deixa de entender Machado de Assis se o ler em edição brasileira, tal como qualquer brasileiro lerá com facilidade uma novela de Camilo Castelo Branco impressa na ortografia de Portugal. Aos nove anos já eu tinha lido muito Camilo publicado antes de 1910 que a minha avó tinha numa estante. Não me fez mossa alguma, apesar da minha tenra idade. Antes pelo contrário. Fossem esses os grandes problemas da comunicação!

Nada melhor que exemplificar. Camilo, O Esqueleto, início do capítulo IX: O assustadiço amor de pae encarecêra a doença de Beatriz. O perigo de vida fôra uma ligeira hemmorraghia nazal, que não deu tempo a glorificarem-se as sciencias medicas de mais um triumpho.

Temos aqui que em um terço das palavras (em oito) a ortografia foi modificada. E não deu para entender?

Há dias, aqui na tasca, Dona Ricardina exaltada com a peçonha do Zeca Lulu virou-se para ele e amandou-lhe um Olha chupa-me mazé o clitóris! Clitóris? O Zeca estranhou. Não seria clítoris? Ou clitorís... lembrou o Manel Tarote.

Foi uma confusão do caraças. Ou do carassas? Talvez do carago? Ou do caralho? Nestas ocasiões de impasse não há acordo ortográfico que nos valha.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

O clube dos poetas... tortos

Hoje em dia existe clubes de amigos de todo o género e feitio. Ele é o Clube dos Amigos dos Porquinhos da Índia, o Clube de Amigos da Panasqueira, o Clube de Amigos de Bigode, sendo que ultimamente está a formar-se aí um grupo, o qual provavelmente andará a tratar dos estatutos para criar o Clube de Amigos M&M.



Ainda não percebi muito bem essa dos clubes de amigos. Digamos que gosto mais do ambiente da nossa Tasca, onde acabamos por ser amigos uns dos outros, não porque pensemos todos da mesma forma, mas porque respeitamos as nossas diferenças, sem fundamentalismos e subserviências portanto.

Voltando ao Clube dos Amigos M&M, estava aqui a pensar com os meus botões:

- “Por que raio há pessoas que são uns autênticos lambe-botas, os quais passam a vida a sorrir para o chefe, mesmo que este, enclausurado na sua fatiota de ser supremo e grandioso, mais não veja naqueles seres simpáticos que umas guloseimas para alimentar o seu super-ego?”

- “Será que os M e as M ainda não perceberam que, com essa conduta submissa e indiciadora de parca inteligência, acabam por estar assim a modos que confinados a um gueto onde impera a lei do mais forte, o qual não permite aos seus súbditos que tenham a ousadia sequer de pensar pelas suas próprias cabeças, por outras palavras, que saiam do seu exíguo espaço e que passem a ver a luz, qual embalagem tetra pack?”

(olha, vê-se bem que o M amarelo é novo no clube, coitado!)

É com saudade que recordo os velhos tempos em que ali nas prateleiras da Tasca, o Silva colocava, mesmo ao lado dos famosos rebuçados do Dr. Bayard, os não menos famosos e populares rebuçados catraio, que ainda por cima eram vendidos avulso. Esses sim, mantinham sempre a mesma cor enquanto a gente os saboreava e duravam muito tempo.

Hoje o que vemos? – Uma guloseima que mais parece uma drageia, bonita por fora, não o nego, mas enganadora, pois consumida a primeira camada (a da aparência), facilmente se desvanece a segunda (a das ideias).

Bem, deixa-me acabar por aqui, antes que algum catraio mimado fique chateado com as minhas palavras.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Fetche fassa fabor!

Ainda punha a biqueira do desbotado sapato na soleira da porta e nem ao nariz me haviam chegado sequer aqueles aromas a tinto e aguardente, tão característicos da tasca, e já ouvia o vozeirão roufenho do Chico Molas: "Ó SSilba, fetche fassa fabor!"

Lá ia também a D. Ricardina, em passo tipo robocock e de sorriso forçado, procurando cativar simpatias para o próximo concurso de Miss Tasca, em direcção ao balcão, e também.... "Ó SSilba, fetche fassa fabor!"
E lá se ouve a máquina de calcular mental do Silva: "0,50 mais 0,35, são 0,85 cêntimos D. Ricardina. "

Isto começou já lá vão umas décadas. Longe também vão esses tempos em que lá na terrinha se colhia o trigo e centeio. A cada início de Verão as aldeias do concelho eram invadidas por grupos de segadores que andavam à procura de ganhar uma "jeira", já que as condições de vida eram particularmente difíceis e as pessoas com menos recursos tinham de agarrar-se aos trabalhos mais árduos.

O Silva, ainda rapaz novo, letrado para a época, 4.º ano feito e a caminho de fazer o 5.º lá no liceu da vila (e não ia parar por ali), dizia-se também que não só gostava da escrita como também das contas. Rapaz do boas vontades, muitas cartas ele escreveu às velhotas da aldeia, para o filho na África, para o irmão do Brasil, etc.!

Um dia, chegou à terra um rancho de segadores. Um deles, rapaz novo, cara vermelha e olhar vivaço, recomendado por uma vizinha, vai ter com o Silva para que lhe escrevesse uma carta à namorada. Claro que o nosso amigo se apressou a dizer que sim! Ai não, ora, ora, carta à namorada!!! Ah, Ah!, o Silva, malandreco, esfrega as mãos... já aguçando a curiosidade quanto às confidências, saudades e sabe-se lá que segredinhos mais o rapaz iria “mandar dizer” à namorada.

Folha de papel na frente, esferográfica apontada à primeira linha. Pode começar, diz ansioso o Silva:
Meu amorzinho...
Sim, continue...
... cá stou, cá m’acho...
Já está. Mais... pede o Silva.
... enquanto por cá andar...
Sim.... mais...
... sou sempre o mesmo.
Já escrevi, continue... o Silva cada vez mais ansioso.
Fetche fassa fabor!
Como? Pergunta o Silva.
Fetche fassa fabor!
Então, não escrevo mais nada, só isto...?
Sim, fetche fassa fabor!

Passaram os anos, o Silva mudou-se aqui para a vila, e nem imaginais a cachola com que ficou quando um dia o Chico Molas apareceu com esta na tasca! Certo é que a moda pegou! Fetche fassa fabor!

E hoje, quando alguém cá na Tasca, depois de servido e se quer ir embora, é normal pedir a conta berrando pró balcão: "Ó SSilba, fetche fassa fabor!"

Phosga-se


Num país, Floribelamente falando, super-hiper-mega-re-fixe-altamente-baril-bués-tasse-ya-tranquilo como o nosso, era previsível que isto acontecesse mais cedo ou mais tarde.
"Phone-ix", ou, em bom português(?), "Fónix". Eis o nome encontrado para o futuro operador de rede móvel.

Convenhamos que podia ser pior. Tenho um colega de trabalho que insiste em dizer FODAVONE e ninguém tem coragem de chamar a atenção ao rapaz. Mas também a quem pede "entremolhada" para o almoço não se lhe pode exigir mais.

Destaque para as reacções dos seguintes clientes da Tasca ao nome escolhido:

José Sócrates: "Porreiro, pá!";
Cavaco Silva: "Deixem-me só acabar de comer este bocadinho de bolo";
Luís Filipe Menezes: "Pouca vergonha! É um nome descaradamente sulista e elitista";
Marques Mendes: "Mini-qualqueg coisa ega gigo";
Francisco Louçã: "Joint-ix era incomparavelmente melhor";
Mário Lino: "Desde que apanhe rede na OTA...";
Paulo Bento: "É um nome que transmite dranquilidá!";
Mantorras: "Copiaram de mim! É o que Mantorras está farto de dizer: FÓNIX, Mantorras não é coxo.";
Joe Berardo: "Fuck you";
José Mourinho: "Nem eu sei traduzir essa merda";
Gajo que trabalha comigo: "Quem me tira a FODAVONE tira-me tudo".

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

O respeito é uma coisa muito bonita

O respeito é uma coisa muito bonita. Estou a falar do respeito, não do respeitinho. Há uma diferença fundamental. O respeitinho é a submissão dos outros a uma série de normas artificiais, de forma a que o nosso umbigo não seja perturbado. O respeito é aquilo que nos compete fazer de forma lógica e natural para não perturbarmos o umbigo dos outros. A beleza deste último reside precisamente na evidência da naturalidade e nos melhores resultados que proporciona à sociedade em geral.

Um bom exemplo é o trânsito nas grandes cidades vietnamitas. Ali não há ponta de respeitinho, a começar pelas próprias regras de trânsito. Mas nós, que não estamos habituados, ficamos aparvalhados com tamanha lição de respeito.





Porco com banana

A utilização de frutas nas pièces de résistance da nossa gastronomia fica muitas vezes aquém do que seria de esperar, dado que a fruta proporciona uma imensa variedade de sabores e texturas, com inúmeras combinações possíveis. Além disso, em algumas receitas tradicionais a fruta é meramente decorativa e servida como complemento, não entrando propriamente no processo de confecção do prato. Esqueça o pato com laranja. Melão com presunto é óptimo, mas já se tornou vulgar e é apenas uma entrada. É altura de darmos uma volta à coisa.

Nesta receita de porco com banana o resultado é surpreendente, pois combina os sabores do clássico estufado de carne com uma suave doçura e um pouco de acidez das frutas. Apesar do título, a receita usa três frutas, cujas características se fundem muito bem: a banana, o coco e o limão. Experimente algumas variantes, como usar maçãs em vez de bananas ou misturar maçãs com bananas.

Refogar uma cebola picada em azeite.
Juntar carne de porco cortada em pedaços pequenos. Refogar durante mais 5 minutos.
Juntar um ou dois tomates cortados em pedaços pequenos, alho, coentros frescos, louro, sumo de um limão, malagueta (ou outro picante) e sal. Estufar durante 15 minutos em lume um pouco forte.
Juntar leite de coco e banana em pedaços (cerca de uma por pessoa) e deixar cozer em lume médio-brando durante mais 50 minutos. Mexer de vez em quando, pois em certos recipientes a espessura do molho pode começar a agarrar ao fundo.
Servir com arroz cozido em água.

Eleição Miss Tasca 2007

É verdade...
este ano disputam-se mais uma vez as eleições, Miss Tasca 2007!!!?!?!.. É!!!

E, por incrível que pareça... a Senhorita Ricardina, mais conhecida pelo pessoal da tasca como..."Madama FrôFrô", era a única possível candidata... vitória garantida e merecida, disse aqui há tempos enquanto tomava o seu Cocktail MOLOTOFF (uma pequena receita da casa, haja clientes com porte que o aguentem...), visto que já usa a coroa (de flores, que o guito tá caro) desde 98...

Senhora altiva do seu nariz, pavoneia-se com a sua ENORMEEEEE "encharpe" de plumas... sobre o seu melhor vestido vermelho, rua acima... rua abaixo... encalhando ocasionalmente com o salto agulha na calçada à portuguesa... tentando esboçar o seu sorriso forçado aos possíveis "votadores"... enfim... um fartote, enquanto eu, encostada na ombreira da porta, lanço um olhar à Mafaldinha e esta arrota uns adjectivos que caracterizam a personagem...

Porém... para espanto de muitos consumidores mais sóbrios da tasca... a menina Manuela... Mané prós amigos, miúda simples mas que sabe o que diz... entregou a inscrição para concorrer ao famoso e mais aguardado evento das Tascas... Madama FrôFrô ficou impossível... engoliu uma água das Pedras... murmurou um grunhido... e saiu com a rapidez que lhe era permitida pelos saltos...

Agora... agora não há quem a ature... nem mesmo a piquena Katia Vanessa... que faz sessões de... de... leitura... virtual... na pequena loja da frôfrô... é que ela tem uma pequena casa de... de... leitura... está descortês, insolente e ainda mais malcriada do que já é hábito... mas é nestas alturas que a tasca enche mais... (????!??!!?)... pois... pudera... ninguém está para a gramar....

Os votos já foram imprimidos...

Dona Ricardina

Menina Manuela


A escolha... é sua...

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Da elegância e da honestidade portuguesas

Dedicado a todos aqueles que acham que José Sócrates não tem dado aos portugueses fortes motivos para sorrirem:



"¿Por qué no se calla?" - 2

"Ó Juan, nós, na Venezuela, quando queremos que alguém feche a matraca fazemos assim..."

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Instituições - e legisladores, também.

Quando os argumentos racionais não chegam – “Aqui d’El Rei que isso é um insulto para a Instituição.”

As Instituições para mim são um mistério, tal e qual como o legislador. Ninguém é capaz de dizer, foi o fulano ou o cicrano que escreveu aquilo, a conversa é – “foi o legislador”. Este tipo de pseudo-não-sei-o-quê é muito vantajoso para quem, pura e simplesmente, quer passar incólume a todas as críticas, adversidades e a toda a porcaria que lhe aprouver fazer, porque contra a Instituição, coisa intocável, nada se pode dizer ou fazer, como se aquilo fosse uma coisa inanimada e não um conjunto de pessoas responsáveis e responsabilizáveis.

Mas afinal o que raio é uma Instituição? É que pergunto mesmo sem saber, até porque, no dia que li que o Mick Jagger é uma instituição, fiquei completamente aos papéis e percebi que afinal as Instituições são gajos que cantam o I can’t get no satisfaction, fumam ganzas, injectam heroína e snifam coca. Aí fiquei a perceber porque é que elas, as ditas cujas, são meio apanhadas do clima e comecei a ver o mundo com melhores olhos, porque me sinto superior, embora elas é que mandem mas, pronto, dá-se-lhes desconto, coitadinhas, são todas meio malucas e temos que ajudar os pobres de espírito. E o legislador, também.

Já o Júlio César falava dele na terceira pessoa do singular. Hoje, certa gentinha fala dela própria na primeira pessoa do plural. É que nunca são eles, há sempre outro gajo qualquer que tem a culpa.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O Gentleman

Situações como esta levam-me a pensar no jeito que às vezes dava ter um Rei em Portugal. Se já é mau descobrirem-nos a careca, pior o é quando na pele de delator está um britânico ordinarão.

À falta de melhor, proponho que lhe aticemos o D. Duarte Pio. Ou então que este escreva uma carta a esse inglês bacoco. Eu, pessoalmente, borrava-me todo se recebesse um envelope cujo remetente se chamasse Duarte Pio João Miguel Gabriel Rafael de Bragança. Deitava contas à vida e punha-me a fazer juras de não voltar a pinar mulher alheia se aqueles sete rapazolas que tinham descoberto o responsável pelos seus adornos frontais não me causassem muita dor aquando do espancamento.

Hum... Pensando bem, e como a maioria dos ingleses são paneleiros, é possível que este não fuja à regra e que o sucesso da operação possa estar comprometido.

Talvez então, como alternativa, possamos enviar o Louçã mais a sua prosa delicodoce, própria de quem discursa sentado em cima dum cacho de bananas do Equador.
Também ele teve hoje o seu momento de brilhantismo ao acusar Sócrates de mentir. Esplêndido!!! Onde terá ido ele desencantar tal ideia?
São declarações deste calibre que continuam a acalentar-me a esperança de ver um dia o Eusébio acusado de ser benfiquista.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Disparates no ensino do Português

Veio a lume mais um estudo que demonstra os péssimos resultados que os alunos portugueses apresentam em disciplinas como Matemática, Português, Física e Química. Boas notícias! Isto mostra que a miudagem nacional tem os olhos abertos e está a viver a vida segundo os melhores princípios.

A escola teima em querer que os adolescentes sejam peritos em matérias escabrosas como as que são estudadas nas citadas disciplinas, em vez de os encaminhar para assuntos muito mais interessantes e necessários para o equilíbrio físico, psíquico e cultural de qualquer pessoa normal. Refiro-me, por exemplo, a Sexo, Culinária, Condução Automóvel ou Direito da Família. É inacreditável que a escola insista em pretender que as assíntotas de uma hipérbole ou a lei de Stefan-Boltzmann são coisas muito mais úteis a qualquer cidadão moderno do que saber cozinhar e comer de forma saudável, ou utilizar de forma eficaz os vários métodos anticoncepcionais.

Vejamos de forma um pouco mais detalhada o que se passa em Português. O Ministério da Educação e os professores desta disciplina têm feito, com indiscutível sucesso, um esforçado e sistemático trabalho de afastamento da criançada por tudo o que é o gosto e a verdadeira função comunicacional da língua portuguesa. Várias têm sido as medidas com vista a este objectivo, mas saliento as três que me parecem mais bem sucedidas.

Em primeiro lugar, os programas e as práticas lectivas insistem em evitar que os alunos pratiquem exaustivamente a leitura, a escrita e a fala. Em vez disso, é obrigatório que eles se entretenham tempos infinitos em actividades prodigiosas como dividir sintacticamente frases do tipo "a minha prima Isaura, que é mais velha do que eu, tem um vestido amarelo com bolas verdes".

De entre as várias medidas pedagógicas dos responsáveis pelo Português, sobressai também a primorosa escolha, para leitura, de obras literárias intragáveis como A Sibila ou o Memorial do Convento. Estas obras podem despertar um interesse enorme a certas pessoas habituadas a ler, mas são totalmente inadequadas para jovens cuja experiência literária, até aos 15-16 anos, se tem limitado às legendas das séries televisivas, aos SMS dos colegas de turma e às frases sobre a minha prima Isaura.

Na escola devia-se começar por abordar textos muito mais evidentes, mas não menos ricos de significância, como reportagens do jornal A Bola ou os textos da Tasca do Silva. Depois sim, era altura de abordar obras maiores e mais complexas. Em vez disso, espera-se que os alunos, que mal sabem caminhar, tenham, de repente, bons resultados na maratona.

Um terceiro facto, este verdadeiramente criminoso, é o desaproveitar de belíssimas obras como, por exemplo, Os Maias, tornando-as objecto de leitura por obrigação e não por devoção. Antes de enfronhar os alunos neste magnífico texto queiroziano, há que lhes abrir as mentes para um conjunto de coisas fundamentais que nele são descritas. Mas não. A táctica tem sido "preparar os alunos" para que estes saibam responder a perguntas idiotas que saem nos exames, como, por exemplo, quantas vezes arrotou João da Ega no jantar do Hotel Central ou quais são as referências ao realismo e à monarquia que existem ao longo de todo o texto.

Para ajudar os estudantes neste complicado puzzle, existem uns livrinhos que resumem a obra em oito esquemas e doze páginas de texto, focando as principais manias dos fazedores de exames. Ler o resumo orientado para as perguntas do exame em vez de ler o que realmente Eça escreveu é, assim, prática corrente entre os nossos alunos. Chegados ao exame, quem melhor leu os resumos maior nota tem. E mais contribui positivamente para as estatísticas sobre o sucesso da escolaridade portuguesa. E para o melhor posicionamento da sua escola nos tão pomposos como anedóticos rankings de qualidade.

Claro que ler o resumo em vez da obra é assim como que, em vez de ir passear às Ilhas Gregas, folhear os catálogos da agência de viagens e ver uns vídeos no Youtube com uma cantora pop em Santorini; em vez de saborear uma requintada salada de vegetais, queijo e ervas aromáticas, optar pela leitura da receita devidamente ilustrada com uma esplêndida fotografia de um tomate maduro. Mas, claro está, para quem manda no ensino e para que idolatra os rankings, isso são meros preciosismos.

Eu podia continuar a enunciar os restantes disparates do ensino do Português nas nossas escolas, mas lembrei-me agora que o leitor, a acreditar nas estatísticas, foi provavelmente um deficiente aluno nessa disciplina e não deve ter percebido patavina daquilo que eu escrevi até aqui. Por isso acho que não vale a pena eu escrever os restantes sessenta e quatro parágrafos sobre este tema. Vou antes fazer o jantar.

Merece o nosso respeito

“O senhor Presidente, Blá Blá Blá, merece todo o nosso respeito, o Senhor Ministro, Béu Béu Béu, merece todo o nosso respeito.”
Este tipo de discurso faz-me rir. Ali ao lado estava uma mesa com novos clientes, desconhecidos dos habitués. Um deles, empolgado a respeito de determinadas figuras “importantes”, debitava um discurso de subserviência como se A, B ou C, não cheirassem mal do cu e dos sovacos, tal e qual como todos os outros. É que, para mim, toda a gente merecedora de respeito tem o meu respeito, mas esta mania meio podre e pouco clara de alguns merecerem todo o respeito só porque ocupam este ou aquele cargo dá-me vómitos e faz-me lembrar que pouco ou nada evololuímos, em determinados aspectos, desde o tempo do Cromagnon.

Títulos como Doutor, Engenheiro, Meritíssimo e Companhia só servem para nos lembrar que uns mandam e outros obedecem e que alguns, nem que sejam os maiores filhos da puta ao cimo da terra, à partida não são suspeitos e têm de ter um tratamento diferente do comum dos mortais, nem mais nem menos do que o Imperador Júlio César, que, se calhar, até era mais evoluído no que diz respeito a democracia do que nós somos em 2007.

Quem quiser reparar no que se passa, por exemplo, dentro dum tribunal, concluirá que aqueles que supostamente defendem a justiça têm uma pose de superioridade que roça as bordas da época medieval. Ou que um qualquer cidadão, face a um agente da autoridade, começa logo por estar em desvantagem em qualquer conflito de interesses que meta a “justiça” pelo meio.

O meu problema com este tipo de diferenciação de tratamento é tão só porque aqueles que estão lá em cima habituaram-se a viver e a moldar uma democracia à sua maneira e a, democraticamente, impingi-la a todos os restantes que estão ficando de pés e mão atados. É que os exemplos de pura máfia no seio daqueles que nos “orientam” são tantos que me espanta como é que continuam a querer teimar que - “O senhor Presidente, Blá Blá Blá, merece todo o nosso respeito, o Senhor Ministro, Béu Béu Béu, merece todo o nosso respeito”.

Pois às vezes, muitas vezes mesmo, só me apetece é dizer – “Ó senhor Ministro, o respeito que me merece é menos do que o que tenho por uma minhoca”.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

O meu intervalo de almoço

Estava um dia triste e cinzento, e o frio enregelava os ossos.
Passei em frente à Tasca do Silva e lá estava ele…o Sr. Honório, outrora um homem digamos que... bem posicionado na profissão, bem vestido. Desses tempos idos apenas lhe restam as meias. Mesmo com um casaco lustroso e umas calças tão coçadas que quase se via a pele, a camisa escondendo um colarinho já gasto pelo tempo, uns sapatos a que o tempo retirou o brilho, mas essas, as meias, eram de um branco alvo e, como não podia deixar de ser, a gravata no seu nó perfeito.
Pois é, a vida dá voltas e voltas e por vezes acaba num nó, tal como o da gravata. E a do Sr. Honório assim ficou de um dia para o outro.

Sempre que ali passo, aí o encontro, mais ou menos à hora de almoço, mão meio escondida meia de fora, olhar meigo, lágrima no canto do olho, sorriso aberto quando lhe deixo a partilha do dia, que logo guarda, meio envergonhado, dizendo que não é para vinho mas sim para a sopa da noite e logo ficamos ali dando duas de conversa durante alguns minutos.
Foi numa destas conversas que o Sr. Honório me contou algumas passagens da sua vida, já meio confusas e que pede ao tempo para apagar.

O Sr. Honório era um distinto guarda-livros lá da terra, numa altura em que o trabalho era reconhecido quer por gestos e palavras mas também financeiramente. O Sr. Honório vivia bem, andava sempre de fato e gravata, era reconhecido quando passava.
Mas a vida dá muitas voltas. A esposa faleceu, os filhos, já com as suas vidas estabelecidas, foram-se esquecendo do pai, que foi ficando para trás.
Apareceu alguém que, a troco de “sábias” palavras, o aconselhou a investir o pouco que ainda lhe restava num tal Fundo de Pensões. Pois é... de um dia para o outro, o nó apertou, a empresa que geria o fundo faliu e o Sr. Honório ficou apenas a viver de uma mísera reforma que mal lhe chega para pagar os medicamentos que tem de tomar diariamente para os pulmões cansados, as pernas trôpegas, os olhos marejados e sobretudo o coração triste de promessas vãs e tanta solidão.

Claro que, ao ouvi-lo, o “filme” passava-me como numa tela em frente aos meus olhos, e pensava para com os meus botões: Meu Deus, este homem que tanto trabalhou e tudo perdeu pela avidez dos homens, não terá direito a um conforto até ao fim da vida junto dos seus pares, partilhando o seu saber e as suas experiências?
Pensei... para já, restam-lhe os poucos minutos diários que passo com ele, na esquina da Tasca do Silva onde ele, sentado numa pequena pedra, fazendo dela um banco improvisado, parece esperar por mim, naquela hora do intervalo de almoço, para comigo partilhar ora um sorriso ora uma lágrima matreira que teima em cair.
Como gostaria de dizer ao Sr. Honório que brevemente ele estaria mais confortável, junto de outros homens e mulheres que deram ou continuam a tudo fazer para que o país que os viu nascer possa crescer em prosperidade e sobretudo honrar os mais idosos reconhecendo a sua dedicação e proporcionando-lhes um fim de vida digno.
Apenas lhe pude dizer que sonhava com isso…
Até sempre, Sr. Honório.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Votelhices (ou não fosse eu um homem do Norte, carago)

Última tentativa para ser expulso deste estaminé:


domingo, 4 de novembro de 2007

Automóveis e cabos de vassouras

No mesmo dia em que morriam em Lisboa duas pessoas e uma terceira ficava gravemente ferida devido a um atropelamento com automóvel, à Tasca do Silva foi aplicada uma coima por não cumprir normas básicas de segurança e higiene como, por exemplo, ter na cozinha vassouras com cabo de madeira.

No mesmo dia em que foi preso um indivíduo porque plantava uma espécie vegetal considerada por lei estupefaciente, venderam-se legalmente milhões de maços de cigarros feitos com uma planta idêntica. E venderam-se legalmente milhões de litros de bebidas alcoólicas que, como se sabe, drogam, matam e fazem matar inúmeras vidas humanas.

Neste mundo sempre houve contradições, até porque grande parte delas derivam de causas naturais. O que não se compreende é que coexistam dois pesos e doze medidas quando se trata de fazer leis e regulamentos. Qualquer electrodoméstico que fosse responsável pelo mesmo número de mortos e feridos que o automóvel causa anualmente já há muito tempo que teria sido retirado do mercado ou regulamentado de forma muito restritiva o seu uso. A utilização de vassouras com cabo de madeira é infinitamente menos perigosa em termos de saúde pública do que utilizar automóveis. Por isso algo de muito errado está neste mundo em que vivemos quando o poder público, quem legisla e quem fiscaliza dá mais atenção às primeiras do que aos segundos, quando o objectivo a atingir é rigorosamente o mesmo.

A forma como os diversos interesses particulares se sobrepõem, ora pra baixo, ora pra cima, à normalidade do nosso quotidiano é deveras incomodativa. E, nalguns casos, chega a ser obscena. É ridículo este afã de querer controlar até ao mais ínfimo pormenor certas situações, quando mesmo ao lado há milhões de outras que muito mais careceriam de regulamentação e controlo mas aí já ninguém parece interessado em actuar.

A produção regulamentadora, alguma vinda da muito evoluída Comunidade Europeia, chega a ser hilariante quando lida com olhos que não estejam intoxicados com a evolução do contexto regulamentador. Veja-se, por exemplo, o Regulamento (CE) n.º 853/2004, que contém definições de conceitos invulgares como a de carcaça de um animal (corpo de um animal depois do abate e da preparação) ou carne picada (carne desossada que foi picada e que contém menos de 1 % de sal), bem como instruções de procedimentos complexos como este: após a inspecção post mortem, as amígdalas dos bovinos, dos suínos e dos solípedes devem ser retiradas de forma higiénica. Fantástico!!

A grande ânsia em controlar tem o seu reflexo na enorme vontade de punir. Um mero mas significativo exemplo neste domínio encontra-se no Decreto-Lei n.º 113/2006. Para controlar e punir, este decreto atribui competências a nada mais nada menos do que sete entidades públicas, “sem prejuízo das competências especialmente atribuídas por lei a outras entidades”.

Por sua vez, o articulado desta peça legislativa ocupa quatro páginas do Diário da República de 12 de Junho de 2006, sendo que duas são gastas apenas pelo artigo 6.º, que lista as contra-ordenações possíveis. Estas são tantas e tão minuciosamente descritas que precisam ir da alínea a) até à bbb), ou seja, esgotam por duas vezes as 23 letras do alfabeto português. É obra!

Os aceleras das nossas estradas podem, no entanto, ficar descansados. Estes regulamentos aplicam-se apenas a cabos de vassouras.

sábado, 3 de novembro de 2007

13

Perturbações aparte proporcionadas pelas curvas da Ana Malhoa (chiça que aquilo tem mais curvas que o Marão!), o Chico Ranhoso passou a tarde intrigado na Tasca, com um Grupo de 13 bebedolas que alugaram o Reservado lá de trás para uma reunião, "esotérica" disseram eles. O que é certo é que nem o Silva nem a Cátia Vanessa tiveram um minutinho de descanso, ele eram bifanas, bem e mal passadas, sempre bem regadas com o Tinto da Casa. "Foram 20 garrafões", contou-os o Chico... mesmo com a vista a dobrar que lhe conhecemos!

Mas o mais estranho era a fumarada que do Reservado saía. Aquilo parecia uma mistura de Incenso de Sábado de Aleluia, com Barbas de Milho de Dia da Desfolhada! E os ruídos estranhos? O Carlinhos Almofadinha, rapaz de muita progesterona (acho que é um medicamento daqueles novos que há agora... genéricos, não é?), sempre que escuta ruidinhos lá dá a sua espreitadela. Disse ele que viu, "com o seu olho que alguém há-de comer" - palavras dele - objectos a voar de um lado para o outro!

Comentava-se à boca cheia (e à garganta molhada!) que era uma... Sessão Espírita! Por isso estavam 13 à mesa!

Entretanto, pregado à cortina na entrada do Reservado, estava este Panfleto:

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Os 13 Tons Galácticos

1 - Magnético - Unifica o propósito. Atrai.
2 - Lunar - Polariza o desafio. Estabiliza.
3 - Eléctrico - Activa o serviço. Une.
4 - Auto-Existente - Define a forma. Mede.
5 - Harmónico - Potencia a radiação. Manda.
6 - Rítmico - Organiza a igualdade. Equilibra.
7 - Ressonante - Canaliza a entoação. Inspira.
8 - Galáctico - Sintoniza a integridade. Modela.
9 - Solar - Pulsa a intenção. Realiza.
10 - Planetário - Aperfeiçoa a manifestação. Produz.
11 - Espectral - Dissolve. Liberta.
12 - Cristal - Dedica a cooperação. Universaliza.
13 - Cósmico - Persevera a presença. Transcende.

Sabemos que o que dá movimento aos nossos corpos são as nossas treze articulações principais e cada uma delas corresponde a um dos 13 tons galácticos, na ordem que consta na figura seguinte. Portanto, qualquer “corpo” com “cabeça, tronco e membros “, contém o código dos ciclos naturais que governam tanto os aspectos físicos, como os aspectos espirituais da vida.

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Chiça... o que é que estariam aqueles gajos pr'ali a fazer?

Árrenuncia

Eu a mais o Zé dos Anjos, ali na mesa 7, esgravatando a respeito da grossa da Ana Malhoa (bem melhor que o pai, sejamos honestos), enquanto no red corner se jogava à sueca e, espontaneamente, o Perninhas de Alicate exclama – “Se tivesses feito uma árrenuncia, fazias melhor!!!!”.

O Zé dos Anjos continuou a esmifrar as mamas da Malhoa, mas eu muito tenuemente ouvia, até porque a partir daquele momento fiquei a galar a árrenuncia. O Perninhas de Alicate até que tem uma Mula e, calhando, chama-se Nuncia, coisa que, ao certo, eu não sei. Mas se a mula se chama Nuncia, o mais certo é que o Perninhas diga muitas vezes – “Árre!!!!... Nuncia” – e, assim sendo, aquilo deve ser um código secreto para quem joga à sueca, que siginifica – “Pára aí antes que faças merda”. Digo eu, sei lá!!!!

Ainda eu não tinha digerido aquela quando ouço o Lesma dizer - "Se me tivesses arrepresentado uma quina, ganhávamos". Aí fiquei "embaralhado" e desisti de perceber, porque mulas chamadas Nuncia ainda lá vou, mas Presentado é que não me passa pela cabeça.

Acho que interpretei mal e aquilo é mesmo linguagem subliminar.

Voltemos à Ana Malhoa, ó Zé.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Maçãs no Forno à Tasca

Quando há dias li um texto aqui deixado pelo nosso "tasqueiro-mor" EB, vieram-me à memória tempos idos em que, por força das circunstâncias, tive de praticar a nobre arte de motorista de fogão, especializando-me, podem crer, em cozidos, motivado não só pela facilidade de cozinhar e pelo quanto é mais saudável mas também, principalmente, pela facilidade no lavar da louça e utensílios de cozinha.
Não, nunca me dei bem a estrelar ovos!

Dizia-nos o EB:
Muitas vezes as coisas mais simples são as melhores. Na culinária esta regra é particularmente interessante. Mais simples significa, normalmente, mais rápido, mais barato e mais saudável.”

Tive ainda oportunidade de algumas vezes experimentar outros "trabalhos" de cozinha, sempre na busca do mais simples, prático e menos ingredientes possíveis. Do meu curto cardápio destaco o que abaixo vos deixo para, doravante, constar da ementa da Tasca.

Maçãs no forno à Tasca

Ingredientes
4 ou 5 maçãs (verdes);
1 chávena “almoçadeira” de açucar escuro (amarelo);
1 chávena “almoçadeira” de farinha;
1/2 chávena “almoçadeira” de manteiga (prefencialmente m/ sal ou s/ sal);
Canela q.b.

Preparação
Descascam-se as maçãs, preferencialmente daquelas de cor verde, e cortam-se ao meio e em fatias (lâminas) finas, meia lua.
Acomodam-se muito bem num pirex médio e polvilham-se com canela.

À parte, junta-se o açúcar, a farinha e a manteiga (mole de preferência para facilitar a mistura) e amassa-se muito bem com as mãos (ou utensílio) até se obter um creme (massa homogénea), com a qual se cobrem as fatias de maçã no pirex.
Vai ao forno médio (+/- 160º, depende dos fornos) durante aproximadamente 45 minutos, com o calor “por baixo”.
Quando as maçãs aparentarem cozedura, ligue, se quiser, por breves instantes o calor “por cima” só para alourar um pouquinho (só uma breve corezinha, senão a massa fica demasiado dura).

Serve-se morno (o que é uma delícia no tempo frio) ou frio (o que também é uma delícia no tempo quente), ou serve-se normal (que é uma delícia para qualquer hora - lanche, pequeno almoço ou sobremesa).

Bons cozinhados!

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

A noite de Todos os Santruxas

Não há acontecimento mais foleiro na cultura popular portuguesa moderna que as manifestações que tentam celebrar o Halloween. Na noite de 31 de Outubro, anda agora por aí a mania de pôr em prática meia dúzia de rituais pagãos misturados com referências religiosas, tudo embrulhado em papel de fantasia meide in iunaitide steites ofamérica, esse colossal país riquíssimo em cultura electrodoméstica.

Para além das influências norte-americanas, estou convencido que a moda pegou devido a uma atracção que as abóboras exercem nos cérebros da classe média portuguesa, provavelmente devido à semelhança de formatos, cores e conteúdo. É evidente que o vazio interior fica irresistível quando iluminado artificialmente e o riso apatetado e desdentado das máscaras é genuinamente português. Assim, é com grande facilidade que, neste país de riquíssimas tradições culturais, se conseguem misturar Santos, Bruxas e Abóboras e chamar a isso um nome estrangeiro que ninguém sabe o que significa.

Eu acharia tudo isto normal se fosse feito num processo de intercâmbio cultural entre povos. Nós bem que podíamos importar estas foleiradas duvidosas dando em troca costumes nacionais do mesmo quilate, como marchar com arquinhos e balões ou escarrar para o chão. Mas não, o portuga é uma esponja no que se trata de absorver as modas alheias que lhe são propostas exclusivamente com o objectivo de capitalizar mais uns cobres, mas, em troca, fica-se pelos trocos.

Paulatinamente vão-se acrescentando ao calendário estes momentos-chave para promover o comércio do supérfluo. Já temos o S. Valentim namoradeiro, o Carnaval, os ovos da Páscoa, o Merry Christmas, o Halloween, o Dia do Padroeiro local... Atrás destes vêm o Fim-de-Ano na neve e outras escapadinhas de fim-de-semana. Não esquecer, também já muito celebrados, o Dia do Pai, o Dia da Mãe, o Dia das Tias...

Só falta incluir o Dia do Raio que os Parta. Com um pouco de jeito e um bom marketing, havia gente que ia adorar, desde que fosse americano e implicasse gastar mais uns tostões.

Machos de verdade

Há gajos que são uns anti-gravatas porque na verdade são verdadeiros machos!
Nada de coisas a apertar, ele é calças sem cinto, camisa desapertada, três pelos do peito à mostra, fio de ouro a despontar, espírito solto... Solto à conta de tintol da tasca!

Gostam de liberdade, da natureza, do cheiro da terra, especialmente da que trazem debaixo das unhas. Gostam do aroma da natureza e do cheiro a ratinhos mortos que exalam dos sovacoides.
Dependendo do clube, uns gostam de envergar verde atrás das orelhas e mesmo já lá dentro, se bem que a tender pro mais escuro. Outros exibem um vermelho ofuscante no olhar, mas sempre lá mais para tarde da noite, deve ser a cor do tinto a dar reflexos. E os azuis, bem, esses aparecem assim depois de virem chamar cá fora o Gregório, é que o tipo anda sempre a escapar-se prá rua, volta e meia tem que se o vir chamar pelo gajo.

Mas macho a sério não é um tipo de gravata!
Não!
Nada disso!
Macho que é macho usa ceroulas!
Como diz o Zé Molas "ciroilas" granda macho!!

A mim... assentam-me mal por causa do rabo, tenho pena!!!

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Os "Bês" pelos "Vês"

O Ti Carlos tem uma palavra chave. Parece-me a mim que será a palavra que mais utiliza diariamente. Criatura rude, reformado, pouco ou nada para fazer, passa a vida de tasco em tasco e é de adivinhar a palavra que vai sair quando se encosta ao balcão a cambalear. – “BINHO” – Diz alto e bom som. – “Obrigado” – Penso eu e todos os presentes, alguém mais ouviu outra coisa daquela boca para fora?

Sendo tão corriqueiro, fico sempre a pensar naquilo. O Ti Carlos bebe binho mas, ao almoço, comeu uma bela posta de vacalhau com vatatas ou, eventualmente, uma costeleta de nobilho.

Pois é. Nunca percebi esta troca dos “Bês” pelos “Vês” . É que é tão fácil dizer vinho como binho ou bacalhau e vacalhau.

Vá-se lá saber!!!

terça-feira, 30 de outubro de 2007

O poder da inércia, ou a inércia do poder


Está um gajo a ver o jogo FCP v LEIXÕES SC quando, no intervalo, aparecem dois anúncios seguidinhos que deixam um gajo a pensar.

Ainda pensei em ir para casa no intervalo e aconchegar-me à beira da minha Maria, isto enquanto a coisa ainda funciona sem comprimidos milagrosos.

Mas depois pensei “porra, deixa-me lá ver a segunda parte e emborcar mais umas bejecas, pois enquanto estou aqui parado a ver 22 gajos a jogar à bola (neste caso foram só onze – os do Porto), não penso na crise, nas prestações, nos caloteiros e nas rasteiras que o destino prega à nossa vida (ou será ao contrário?)”.

Afinal, lendo bem nas entrelinhas daqueles dois anúncios, vemos:

1.º - Um gajo que é pago principescamente por um banco (ele e os administradores), para aparecer deitado num colchão, colchão esse que deve ser de algum cliente depenado, pois roupita da cama nem vê-la;

2.º - Provavelmente o mesmo gajo uns anitos mais tarde, deitado na cama (esta com roupita - pudera, não fosse o gajo um príncipe) com a sua Maria, dando-se ao luxo de fazer intervalos nas suas obrigações enquanto macho, isto porque lhe apareceu a meio um compromisso inadiável, prometendo no entanto à Maria que voltava para continuar com as palhaçadas, pois o efeito do remédio milagroso dura que se farta.

Pergunto:

- Quem é que anda a atira-nos areia para os olhos, pois se um gajo não tem possibilidades sequer de economizar, quando as terá para comprar medicamentos que nos levantem a moral, se entretanto aparecem os problemas da próstata, os bicos de papagaio, a osteoporose e, com jeitinho, as doenças de Parkinson ou Alzheimer?

domingo, 28 de outubro de 2007

Factos e gravatas

Uma das maiores aberrações da cultura ocidental é o valor atribuído ao fato e gravata masculinos. Há décadas e décadas que esta monótona forma de vestir é obrigatória em determinadas pessoas, cargos, funções ou momentos. Este facto é tanto mais surpreendente quando se sabe que ele encerra diversos absurdos e contradições. Vejamos alguns:

- O valor atribuído a este tipo de farpela só é válido para homens. As mulheres são livres de se vestir de uma forma completamente variada.

- Esse valor não é atribuído apenas à forma, mas essencialmente à cor e ao padrão de tecido. Se um homem usar fato de padrão largo e gravata berrante fica um palhaço, cómico e ridículo. Se um palhaço usar fato escuro e gravata sóbria transforma-se num político credível.

- Na generalidade dos objectos, a evolução do design e da tecnologia impõem constantemente o seu aperfeiçoamento. Usar automóveis, televisores ou telefones iguais aos que se usavam em 1960 não valoriza ninguém. Usar fato e gravata iguais aos de essa época, sim.

- O respeito por esta norma social contradiz a maior parte dos restantes valores que se querem veicular. Este homem pretende ser jovem, moderno, dinâmico e inovador, mas usa uma vestimenta velha de um século; aquele político diz que vai ser diferente do seu adversário, mas veste-se da mesma maneira que ele. E por aí fora…

Recentemente realizei um pequeno mas significativo estudo. Entrevistei várias pessoas, principalmente funcionários bancários machões e costureiros abichanados. Consultei também alguma bibliografia especializada, como foi o caso da revista Caras. E descobri algumas coisas que não são assim tão evidentes a quem não segue as regras da ditadura fatal (fatial? fatóica? diabo, esqueci-me de estudar este pormenor semântico… Adiante!).

Por exemplo, a imagem pode ser insipidamente repetitiva mas, afinal, há diferenças fundamentais. Uma das mais curiosas reside no nó da gravata. Com efeito, eu descobri que há cerca de seiscentas formas diferentes de fazer nós de gravata. De entre os mais vulgares, temos 10 nós simples, 8 duplos, 4 triplos, 4 pequenos, 6 cruzados, uma trintena de variantes do nó inglês, quase outras tantas do nó francês, etc., etc. Mas a revelação mais surpreendente reside no facto de que o nó pode ser feito de acordo com as características pessoais da pessoa que o usa. E é aqui que verdadeiramente se faz sentir a diferença, pois há uma incrível variedade de nós especiais com significado muito particular. Apenas para ilustrar, vou indicar alguns:

Nó Bre – nó usado por homens que têm a mania da superioridade.

Nó Civo – nó adoptado essencialmente por homens que não têm qualquer tipo de respeito por coisa nenhuma.

Nó Minativo – nó usado por pessoas muito vaidosas, cuja forma se parece com a letra inicial do nome da pessoa que o usa.

Nó Doa – nó muito em voga na classe política, é usado principalmente por gajos ignorantes que se metem a fazer leis que transtornam a vida dos cidadãos.

Nó Velo – nó usado por gajos que andam metidos em grandes embrulhadas.

Nó Nagenário – nó usado por aqueles homens que querem aparentar ser mais velhos do que na realidade são.

Nó Meado – nó usado por pessoas que desempenham cargos para os quais não têm qualquer tipo de competência.

Nó Ticiador – nó usado praticamente só por jornalistas e outros fazedores de opinião.

Da próxima vez que vir um homem de fato e gravata, ignore o que ele diz. Provavelmente é treta. Centre a sua atenção no tipo de nó da gravata que ele usa. Vai ver que é muito mais significativo do que tudo o resto.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Áh pai, pai, se eu fosse Abel ...!

"AH PAI, PAI... SE EU FOSSE ABEL...!"
Se algum dia, ao passarem pela rua da Tasca ou arredores, ouvirem o desabafo em titulo é porque aconteceu injustiça ou abuso merecedor de "reparo".

Muitos que o ouvem - e até muitos que o dizem - não sabem o porquê daquela frase, que perdura nos tempos como forma de aliviar o agravo que se sente ou de apontar e lamentar a ausência de merecido castigo para alguém.

Hoje, ao passar ali na rua, falava-se da horta do Esquim das Cenouras, da ASAE porque multou a Tasca por ainda não ter a funcionar o sistema do autocontrolo denominado HACCP e ainda, principalmente, de uma reunião da paróquia, com direito a “tickets de combustível”, onde teria sido informado, a propósito de uma contagem de fiéis, que era maluco aquele que “não fosse à missa” nesse dia e não comesse a hóstia igual à do celebrante. Não sei bem o que aquilo queria dizer, mas decerto que se tratava de alguma coisa feia ou de alguma injustiça, porque logo ouvi aquele frase: AH PAI, PAI, SE EU FOSSE ABEL! E isto fez-me recordar, com saudade, o Ti Abel e a origem daquela lendária expressão de revolta e sinónimo de injustiça.

Eu conto-vos:
O Ti Abel era um mouro de trabalho. Homem alto e desenvolto, falava depressa tal como também depressa trabalhava a terra e as suas lidas e como, também depressa, fez 10 filhos! 6 rapazes e 4 raparigas. Colocados em fila formavam uma “escadinha” perfeita.
Há sua volta não havia pausas. Até “levantava pó”!

Os tempos eram difíceis. Criar aquele “time” sem faltar pão não era tarefa fácil. Com muitos sacrifícios e trabalho de todos, a comidinha, no seu essencial, nunca faltou.

Difícil e duro, também, era o dia a dia dos miúdos. Logo que, pelo fim da tarde, a escola – sim, ninguém podia faltar à escola até à 4.ª classe – lhes abria a porta, vinham de correr ajudar no trabalho da terra ou no trato dos animais ou, as mais moças, nas lides domésticas e era vê-las, conforme as forças e a idade de cada uma o permitia, de cântaro à cabeça a “acarretar” água da fonte ou de caminho de lavar a roupa no rio, etc..
Eles, sempre em passo apressado, no carro dos “machos” a comandar aceleradamente a viatura, agarrados à rabiça da charrua que mal lhes chegavam ou montados nos “machos”, em pelo, galopes desenfreados, tipo autênticos “índios americanos” no bom estilo farwest!

Disciplina, rigor, trabalho... qual pelotão de cavalaria. E que ninguém se baldasse! Ti Abel era duro na sua justiça, não perdoava.

Germano era um dos filhos, pela idade aí dos “do meio”. Miúdo rebelde, revoltava-se, indignava-se e enervava-se com as injustiças. Gaguejava um pouco, o que lhe dava alguma graça. Pele escura, pés descalços (ai sapatos! Ou pão ou... sapatos!), calças remendadas no rabo, rôtas nos joelhos, alça caída...

Naquele dia o Germano saiu de casa em passo apressado, não se sabe o que lhe aconteceu, mas decerto que foram ordens do ti Abel para alguma tarefa que entendeu “menos apropriada”. Zangado, barafustava alto, ao mesmo tempo que andava olhava lá para cima, para casa, e, sem se poder conter, bradava repetidamente o seu lamento, a sua “ameaça”, num grito de revolta: AH PAI, PAI, SE EU FOSSE ABEL...!!!

Aquele lamento, de falta de força e de falta de poder para inverter a situação, foi ouvido pela vizinhança que o arrecadou, sentidamente, nas suas memórias e ainda hoje, passadas muitas décadas, quando por cá se ouve, por cá consta ou por cá se testemunha alguma injustiça ou se reclama castigo para qualquer abuso ou ofensa, logo alguém alivia o seu agravo, manifesta a sua revolta ou o seu desprezo exclamando:
AH PAI, PAI, SE EU FOSSE ABEL !!!!

Ah pai, pai, se eu fosse Abel!