terça-feira, 28 de outubro de 2008

Vitela com tomilho

Há pratos que surpreendem pela simplicidade da sua confecção, parcimónia nos ingredientes e riqueza de sabor. Um dos meus preferidos é a vitela com tomilho, que combina o sabor desta erva aromática com o vinho tinto e a cebola cozida. Um clássico.

Cortar carne de vitela em pequenos cubos (eu costumo usar agulha ou chambão).
Marinar a carne durante 2 horas em vinho tinto, tomilho, alho, sal e pimenta.
Num tacho amplo, fritar a vitela num pouco de azeite bem quente durante 4 ou 5 minutos. Adicionar o vinho da marinada e deixar estufar durante 15 minutos em lume médio.
Adicionar cebolas pequenas inteiras ou médias partidas em metades (pelo menos uma cebola média por pessoa) sem as misturar com a carne (as cebolas são colocadas sobre a carne e ficam durante algum tempo a cozer apenas no vapor).
Deixar cozer mais 45 minutos em lume brando. A cebola tem de ficar tenra e completamente embebida no molho.
Servir com arroz cozido ou puré de batata.

sábado, 25 de outubro de 2008

CSI:TDS - "Afinal havia outra" - parte V

Em frente da tasca aglomeravam-se as equipas de reportagem de várias televisões que permitiam que Chico “Búfalo” Dias se vangloriasse da ajuda dada à polícia para a detenção de uma criminosa, bem como lançasse os necessários alertas ao governo para a necessidade de mais apoios ao negócio da engraxadela. Este aparato desagradava ao Silva, porque nem as televisões mostravam a fachada da tasca nem os jornalistas faziam qualquer consumo aos seus pipis, moelas e tinto de estalo.

Na Travessa do Berbigão, esquina com a tasca, fica a loja chinesa de artigos electrónicos do sr. Ping Xixi, que para sua protecção contra as máfias chinesas que por vezes rondam o bairro, tem um câmara de vídeo ligada dia e noite sobre a porta do estabelecimento. Esse facto chamou a atenção de Parménides Juvenal, que motivado pela sua crença na inocência de Marineide, decidiu pedir acesso às filmagens do dia em que ocorrera a discussão entre Tozé e a amante.

No mundo cão em que vivemos, a honestidade e sentido de justiça têm sempre um preço – no caso de Parménides, foram 5 palmilhas de cortiça, uma camisola da selecção e um dragão luminoso que ele teve de comprar, para que o sr. Ping lhe desse acesso às filmagens.

Aninhados na central de vigilância localizada por baixo do balcão, Ping Xixi e Parménides Juvenal assistem às imagens da discussão:

– “Cê é um cafageste, Tozé... cê diz qui gosta dji mim e vai renovar os votos de casamento com sua muiér?... cê mi ama ou não mi ama?”

– “...mas querida, as coisas não podem ser assim... o problema não está em ti, está em mim...”

– “Ocês homens são tudo farinha do mesmo saco, viu? Vive djizendo qui mi ama... eu dei minha vida pra ocê, seu cafageste, dei minha vida todinha, meu coração e minha auma e agora eu mi sinto capaz de tje matar, viu?...”

O sr. Ping trocou olhares com Parménides, que sentiu o sangue gelar-lhe nas veias, sinal de que um leite morninho seria bem vindo, e sinal também de que Marineide podia de facto ter morto Tozé.

– “...eu fui burra mesmo, e pensar qui eu tava preocupada com seu outro caso...”

Outro caso? – interrogou-se Parménides.

Outlo caso? – interrogou-se Ping Xixi – Com mil dlagões flamejantes de labo inflamado! Aquel goldo tinha tlês mulheles?...

– “...cabelos louros e tattoo de borboleta nas costas? Nossa, é tão kitsh qui enjoa...”





(Coragem, este foi o penúltimo...)

sábado, 11 de outubro de 2008

CSI:TDS - "Afinal havia outra" - parte IV

O raiar do dia pintou os céus do bairro de tons alegres e inspiradores para a maioria da população. O Benfica ganhara na véspera, Cátia Vanessa conseguira finalmente desencardir o local da ocorrência com um detergente novo comprado no LIDL e a equipa de investigação do inspector Agostinho tinha apurado que Tozé era proprietário de um andar há 3 anos, tendo-o colocado à venda uma semana antes de morrer. Uma minuciosa inspecção à caixa de correio desse andar, permitiu descobrir, além de alguns vales de desconto para a pizaria do bairro, um envelope de fotos em que Tozé e Marineide Sueli apareciam juntos, em grande intimidade. Provava-se que viviam como amantes e ganhava força a tese de crime passional. Ao mesmo tempo, no laboratório dos CSI chegava o relatório toxicológico de Tozé Vilarinho.

– A nossa vítima morreu de ataque cardíaco, sem qualquer traço de drogas no sangue – disse Catarina Salgueiro lendo a conclusão do exame.

– Devemos concluir que não houve crime? – perguntou Gil Grisso.

– Calma lá! – protestou Nico – Mas eu encontrei junto do corpo um frasco de Coumadin, um anticoagulante usado para evitar a trombose ou recidiva de enfarte de miocárdio. Ora se ele tomava medicação, não deveria aparecer alguma coisa?...

– A não ser... que ele estivesse a tomar um placebo – disse Gil, arqueando a sobrancelha como só ele sabia fazer quando debitava a sua imensa sabedoria, ou quando tentava engatar alguma ucraniana nos bares de solteiros que costumava frequentar – Testaram os comprimidos encontrados?

Feitos os testes ao frasco de Coumadin, descobriu-se, não varfarina sódica cristalina, mas vulgares comprimidos de adoçante, o que, aliado às informações do inspector Agostinho sobre as fotos encontradas no apartamento de Tozé, determinou nova saída da equipa de reacção rápida CSI, com o potente Smart a levar Nico e Catarina de regresso à Tasca do Silva para falar com Marineide Sueli. Seguidos, obviamente, por 5 carros patrulha cujas sirenes, para aqueles de mente mais retorcida, fariam lembrar os gritos de prazer de José Castelo Branco quando experimenta uma nova bicicleta. Sem selim.

A entrada de rompante na Tasca permitiu apanhar a perigosa brasileira enquanto dava os acabamentos numas unhas de gel acabadas de colocar em Cátia Vanessa, cujas pontas dos dedos ficaram a parecer navalhas de um tom vermelho-quente, fogoso como o de qualquer estrela porno. Vasculhando o cacifo de Sueli, foi possível encontrar os verdadeiros comprimidos Coumadin de Tozé, bem como embalagens similares com o adoçante. Detida imediatamente, Marineide foi levada para o carro patrulha, enquanto, chorosa, gritava a sua inocência a toda a população que se juntara na porta da Tasca do Silva em busca de um espectáculo grátis sobre a miséria humana e a degradação moral.

Lá bem atrás da multidão e vendo menos do que um retardatário num concerto de Madonna, estava o incógnito Parménides Juvenal, morador do bairro que soltava uma furtiva lágrima por Marineide, pois sentia no seu coraçãozito que a brasileira não era a responsável pela morte de Tozé. Por um lado, Parménides tinha a tendência para acreditar no que dizem as pessoas de mini saia e meias de renda. Por outro, ela parecia bastante sincera quando gritava que amava Tozé e que nunca lhe faria mal. Poderia ela ter mentido à polícia sobre a discussão que tivera com Tozé?

Ainda se fazem clássicos?

Em termos estritamente musicais, ainda se fazem clássicos na música pop? Ainda se fazem hoje daquelas músicas que têm o tal click que as transformam em coisas eternas?

A resposta é, obviamente, sim. O problema, contudo, é o mesmo de sempre. Como reconhecer um clássico antes que ele se torne clássico? É um bom exercício tentar antever esse futuro distante, imaginando o efeito que o tempo, o acaso e as boas influências das editoras farão a certas músicas de hoje.

O que proponho hoje é uma dessas músicas que têm tudo para serem clássicos. Esta tem tudo no sítio certo. Apenas lhe falta o tempo. No último álbum dos Metallica, publicado há um mês, parece que o que está a dar em termos de popularidade é o The Day That Never Comes. Nada mau! Mas eu aposto noutro cavalo.



Metallica
The Unforgiven III
Death Magnetic, 2008
Warner Bros. Records

domingo, 5 de outubro de 2008

CSI:TDS - "Afinal havia outra" - parte III

Era grande a discussão junto ao posto médico, naquela manhã. A fila para a marcação de consultas já chegava à porta da Tasca do Silva, mas corria o boato que o Dr. Anacleto tinha levado a mulher para um congresso de medicina em Punta Cana e não haveria consultas tão cedo. Outro dos temas em vivo debate naquele “Prós e Contras” de bairro, era sobre quem teria mais razões para matar Tozé Vilarinho – uma amante ou a hipertensão arterial?
Apesar de ser voz corrente que o cardiologista já lhe tinha recomendado mais exercício físico, os 66% de matéria gorda do seu corpo pareciam indicar tanta atenção a este conselho como quando o Silva insiste em dizer “fiado só amanhã” aos clientes da sua tasca. Entre o mulherio ali presente, grande percentagem inclinava-se para a inveja da extrema sensualidade e sex appeal daquele que alguns insistiam em rotular de gordo, badalhoco, suado e pouco agradável ao olfacto. A este último argumento, havia mesmo uma quarentona que vociferava:
- A isso chamam-se feromonas, seus estúpidos! O Tozé era só um pouco descuidado com elas, apenas isso...

Na sede dos CSI, na sala de “Interrogatórios, Questionários e Perguntas Parvas”, Gil Grisso, Catarina Salgueiro e Nico, faziam perguntas a Chico “Búfalo” Dias. Devendo a sua alcunha à marca de pomada para calçado, Chico Dias, bem parecido jovem sub-30, de cabelo loiro e braços tatuados com personagens de BD, tinha ignorado o programa Novas Oportunidades e trabalhava de engraxador à porta da Tasca, sete dias por semana em full time, pelo que era uma testemunha dos acontecimentos que antecediam o apagamento de Tozé.
Ser engraxador é ter uma profissão sensível, tal como a de manicure ou barbeiro. Tem-se acesso a segredos íntimos da clientela, que só o restrito Código Deontológico impede que caiam na vox populi. Assim, Gil Grisso ficou sem perceber, quando questionou Chico Dias sobre possíveis amantes de Tozé Vilarinho, se o engraxador de facto desconhecia a sua existência, ou se o seu sentido deontológico falava mais alto que os sórdidos pormenores a que teria tido acesso.
No entanto, as persuasivas técnicas interrogatórias da equipa CSI (entre as quais se contou o abandono da sala por parte dos criminologistas durante mais de uma hora, deixando a testemunha entregue a si mesma e a um pequeno televisor que passava continuamente compactos dos Morangos com Açúcar) permitiram apurar que naquele mesmo dia, Chico Dias tinha ouvido, na travessa que faz esquina com a Tasca do Silva, e portanto, uma ocorrência do domínio público, uma discussão entre Tozé Vilarinho e Marineide Sueli, escultural mulata brasileira que trabalhava no centro comercial fazendo unhas de gel para as senhoras do bairro e, ocasionalmente, fazia algumas horas na Tasca ajudando Cátia Vanessa no serviço às mesas, quando o trabalho apertava.

Destacando imediatamente uma equipa de investigação rápida para o centro comercial, Gil Grisso enviou o colega Nico no seu potente Smart, interrogar Marineide Sueli e proceder à recolha de cera dos ouvidos para posterior análise de ADN. Nas palavras da brasileira, a discussão havia sido motivada pelo trabalho de unhas que ela tinha feito em Carmelinda Vilarinho, as quais se tinham quebrado na primeira vez que a mulher de Tozé tinha lavado a loiça, sendo que o amantíssimo marido pretendia ser reembolsado, apesar de Marineide explicar que trabalhava a recibos verdes e não podia fazer notas de crédito. Oferecido um desconto em próximos trabalhos, Tozé não tinha aceite e a discussão tinha acontecido. Muito traumatizada por pensarem que seria capaz de matar Tozé, Marineide refugiou-se no “banheiro” a chorar, não sendo possível apurar mais nada. O mistério adensava-se.