terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O Silva anda zangado

O Silva tem andado com um Stress que não se pode aturar, além de lhe provocar gazes insuportáveis, corre com todos da tasca. Ainda ontem berrava ele, num ataque de fúria:
- QUEM DISSER MAL DO TINTO, É POSTO NA RUA E NÃO ENTRA CÁ MAIS!!!!!
E eu:
- Ó Silva, a pinga anda boa!

sábado, 27 de dezembro de 2008

O sexo no quotidiano de homens e mulheres

Tendo em vista um estudo que espero publicar em breve, compilei já cerca de trezentos mil factos do quotidiano que exemplificam a curiosa diferença de pontos de vista entre homens e mulheres no que respeita a sexo. Mais especificamente, o estudo procura mostrar, através desses diversificados exemplos, de que forma o sexo está sempre presente no quotidiano dos homens, enquanto que para as mulheres ele apenas se revela... digamos... às vezes.

Nesta quadra natalícia, por exemplo, quando uma mulher deseja Boas Festas está a pensar no ritual familiar das prendas em família, no encanto das iluminações coloridas e nas iguarias de uma mesa farta e festiva. Para o homem será uma excelente oportunidade para imaginar algumas zonas do corpo onde, depois do jantar, das prendas e das luzes, as festas possam ser realmente Boas.

No vestuário encontramos um dos maiores desníveis entre os pontos de vista masculino e feminino. Por exemplo, o decote ousado. A ousadia, para a mulher, reside na dificuldade em combinar algumas peças de roupa, tendo em atenção a cor, de maneira que umas se vejam e outras não, e com isso exibir 80 por cento do peito. Para o homem, porém, decote ousado seria aquele que revelasse apenas os restantes 20 por cento, independentemente da roupa usada.

Esta forma de ver as coisas tem evoluído com o passar dos tempos, adaptando-se às novas práticas e às alterações tecnológicas. Uma das situações modernas mais eróticas, para os homens, é arranjar estacionamento nos parques que têm muito movimento. É evidente a similitude que existe entre a conquista sexual do macho e a procura de um lugar livre para estacionar, desde o circular exploratório de busca em ambiente concorrencial até à penetração final do veículo num espaço limitado. Alguns homens, encontrado o espaço livre, chegam mesmo a fazer sucessivos avanços e recuos do veículo, uma manobra de claros contornos explicitamente sexuais.

Imagino que a publicação deste estudo será apreciada por parte dos homens, que confirmarão nele várias ideias que já lhes tinham ocorrido, mas chocará provavelmente as mulheres. Como se sabe, para as mulheres, o principal defeito dos homens é eles estarem sempre a pensar em sexo. Já, para os homens, o principal defeito das mulheres é elas nunca pensarem em sexo.

Embora estas sejam verdades universalmente aceites, eu acho que elas pecam por algum exagero. Não é verdade que um homem esteja sempre a pensar em sexo. Eu, por exemplo, lembro-me perfeitamente que consegui estar cerca de sete minutos sem pensar em sexo numa tarde de domingo de Junho de 1973. Nesse período de tempo, fiquei completamente absorvido a ver na televisão as peripécias de um episódio do Bonanza, enquanto brincava distraidamente com as mamas de uma das empregadas do meu pai. Mas acredito que eu seja apenas a excepção que confirma a regra.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

TDS-TV - Emissão experimental?... inaugural?... final?

Chegados que estamos ao final do ano, altura em que a estimada clientela desta Tasca pensou já ter assistido ao que de pior pode acontecer neste cantinho (rectangulozinho… para ser mais exacto), eis que eu próprio decidi agoniá-los ainda mais com a abertura de um canal televisivo.

Senhoras e senhores, meninas e meninos, é com um enorme prazer que lhes apresento a TDS-TV!






Bem sei que estou sujeito a comentários jocosos, género “ai e tal, ainda te falta muito para chegares sequer aos calcanhares da TVI!”, mas de uma coisa não tenho dúvidas – pelo menos tentei!

Para todos um super-hiper-mega-fixe 2009! (espera… a Floribela dava na TVI ou na SIC?)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O método mais eficaz para emagrecer

Sempre me fizeram espécie as mil e uma referências a métodos e contra-métodos de emagrecimento, uma coisa que preocupa muita gente, principalmente mulheres que precisam urgentemente de engordar uns quilitos, mas enfim, isso é outro problema. Eu verifiquei que há um método muito simples para obter e manter o peso que se quer, que considero ser, de longe, o mais eficaz e, ainda por cima, o mais simples. Basta comprar uma balança de mostrador digital.

Na realidade, não basta comprá-la. É preciso comprá-la e usá-la. As balanças são uns aparelhos óptimos para medir o peso e é isso mesmo que quem quer emagrecer deve fazer – medir o peso todos os dias de manhã.

Esta prática irá dar um conhecimento total da forma como o nosso corpo se comporta em termos de peso face aos acontecimentos do dia-a-dia. O que comemos ou o que jejuamos, o que caminhamos ou deixamos de caminhar, o que dormimos ou deixamos de dormir, o stress, as gripes, o frio, o calor, tudo isto e muito mais se reflecte no nosso peso. E a balança dá-nos, ao fim de algum tempo, uma informação detalhada sobre isso. Depois é só dosear as coisas em função do peso que se pretende ter.

Nunca mais diga "ai, bolo não, que estou muito gorda!". Em vez disso, diga assim: "hoje de manhã pesava menos 300 gramas que ontem; como dei aquela caminhada extra à tarde que me deve ter retirado mais 600 gramas, e, como o resto do dia foi normal em termos de contribuição para o peso, dá perfeitamente para comer duas fatias de bolo". Quem fala assim não é gago. Nem gordo. Como dizia o outro, é só uma questão de... fazer as contas.

Um conto de Natal

Olá, o meu nome é Parménides Juvenal, moro aqui no bairro e tenho uma história de Natal para contar.

Ontem, como é tradição em época de Natal, depois de tomar o meu nestum ao pequeno almoço, fui com os meus pais à missa do padre Inácio. Quer dizer, na verdade foi a minha mãe que entrou comigo pela mão na igreja, porque o meu pai insiste sempre em ficar lá fora a dar esmola aos pobrezinhos que estão nos degraus da entrada, embora no último ano, a minha mãe se tenha chateado com ele por, ao sair, o ter encontrado na esquina agarrado a uma senhora das que vivem na casa da madame Sissi.
Eu até compreendo o meu pai, pois se já tinha dado toda a esmola que podia, estava a dar algum calor humano à pobre senhora, que estava de mini-saia e top a tiritar de frio, coitadita! Pelos vistos a minha mãe não pensa nas pessoas que, chegado o Inverno, não ganham para comprar roupa mais quente...

Bom... mas estava eu a falar da missa do padre Inácio. Já estávamos quase de saída, quando o padre lançou a pergunta às mais de 10 pessoas que estavam na igreja:
– ... meus irmãos, onde está Deus?
– Ele está nesta igreja – disse o sr. Almerindo da mercearia.
– Sim, muito bem visto, pois esta é a casa Dele. - replicou o padre Inácio.
– Ele está no céu, onde vela por nós – disse a amante do doutor Anacleto.
– Ele está nos nossos corações... - disse uma vozinha lá atrás.

Ora isso deve ser falso, pensei eu, pois venho cá todos os anos e nunca o vi por aqui! Aliás, acho que ele deve ser como o Bin Laden, pois diz-se que ele está em todo o lado, mas muita gente o procura e nunca ninguém sabe onde ele está. Foi aí que me lembrei de um episódio passado há muitos anos que me mostrara onde está Deus. E decidi intervir:

– Eu sei que Deus morava na minha casa-de-banho!
– ??... Ai sim?! E o que te faz pensar nisso? - perguntou o padre Inácio, depois de esperar cerca de dez minutos que a assistência acabasse de rir.
– Porque eu lembro-me, quando era mais novo, tinha para aí os meus trinta anos, muitas vezes ouvia a minha mãe a entrar na casa de banho, e passado uma hora ou assim, ouvia o barulho do meu pai a bater na porta, a torcer-se todo com a mão na braguilha e a gritar “Meu Deus, mas tu nunca mais sais daí?!”

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

THE T-FILES – Encontros Imediatos do Grau Esquisito (I)


TASCA DO SILVA

4ª FEIRA – 21H30

- Praticamente crescemos os dois juntos...- lamentou-se Parménides Juvenal afogado na sua dor e olhando para o fundo do copo, que repousava vazio no balcão da Tasca. Enquanto quebrava a casca a uns ovos cozidos para servir no dia seguinte, o Silva procurava que aquele jovem de 40 anos tomasse consciência de si.

- Não achas que por hoje já chega?

- Era mais uma gasosa, faz favor! - continuou Parménides sem atender ao que lhe dizia o taberneiro, que para não contrariar o seu cliente, e porque não era do seu feitio prejudicar o negócio, serviu-lhe uma gasosa pela terceira vez, aumentando o estado de alienação na exacta medida do seu desgosto - ...era um grande amigo, sempre disposto a ouvir-me, nunca se negou quando eu tinha de desabafar algum problema, eu sabia que a qualquer hora que precisasse ele estava ali e eu podia contar com ele...nunca pensei que fosse tão duro ver partir assim um amigo! Nem quis ver quando o meu pai o largou na sanita e puxou o autoclismo...

- Como?... - espantou-se o Silva, quase entornando a gasosa no balcão.

- ...pois é, nunca me esquecerei do meu peixinho vermelho...

O Silva rolou os olhos e mirou o relógio do Benfica que, na parede de fino azulejo Viúva Lamego, marcava o imparável caminhar dos ponteiros a caminho das dez.

- Não será melhor eu levar-te a casa?

- Não, mas é melhor eu ir andando, se eu chegar a casa depois das dez é capaz de a minha mãe se chatear e já nem me dá o banhinho antes de deitar...

Massacrado pela perda do ente querido e por 3 gasosas nunca antes tomadas de uma assentada, Parménides saiu para a rua, indo ao encontro da noite fria, que lhe despertou os sentidos do torpor produzido pelo dióxido de carbono da bebida. Num movimento pendular semelhante ao de um limpa-pára-brisas caminhou entre o passeio da esquerda e o da direita, escutando os seus passos no empedrado, agora que todo o bulício do bairro cessara no exterior, transferindo as actividades físicas nocturnas para o interior da casa de madame Sissi.

Parménides ía a meio da Travessa do Berbigão quando, subitamente, após um estrondo seco, os candeeiros da rua se apagaram todos, deixando-o apenas com a fraca companhia da lua, ainda em quarto crescente. O seu pequeno coração começou a palpitar mais intensamente quando foi tomado pela estranha sensação de estar a ser observado, sem saber muito bem de onde. Um arrepio percorreu-lhe a espinha de cima a baixo, logo seguido de um fenómeno idêntico em sentido inverso, pelo que decidiu alargar o passo.

De repente, algo o surpreendeu não conseguindo conter um pequeno grito de medo. À sua frente, em enormes letras vermelhas, estava a palavra “MORTA”! O nó que se lhe formou na boca do estômago acalmou um pouco quando percebeu que se tratava de um cartaz publicitário do Lidl, anunciando “Mortadela a 1,29 €”.

O seu passo foi de novo apressado quando ouviu o som nítido e não distante de lobos uivando à lua cheia, o que era tanto mais estranho quanto a lua estava em crescente e ao fundo da rua só se viam 2 cães vadios. Atalhando pelas traseiras da Tasca, Parménides não reparou no cadáver carbonizado de uma ratazana junto de um poste de alta tensão recentemente instalado, e que exalava um odor de morte. Contudo, não pôde deixar de reparar em algo que, no meio da rua, o fez estacar o passo, estarrecido.

Uma figura estranha, algo retorcida mas ao mesmo tempo de silhueta humanóide, irradiava uma aura em tons de verde, como que um brilho que acompanhava todo o corpo, simultâneamente atraente e repulsivo, e que estendeu um braço na tentativa de estabelecer contacto.

E então, a criatura emitiu som.

Uma voz grave e rouca, com um sotaque que, dir-se-ía numa disparatada comparação, semelhante ao de um emigrante de leste, falou:

- Não ter medo, senhor... - pareceu-lhe ouvir em português.

O cérebro de Parménides perdeu o controlo sobre o seu corpo e a razão cedeu lugar à emoção. O seu coração disparou a ordem, a bexiga aliviou-se e as pernas desataram a correr o mais rápido que podiam, a caminho de casa.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

E porque...

... hoje há uma Tasqueira a celebrar primaveras (ou será invernos?), aqui vai a nossa singela – mas ao mesmo tempo sentida – prenda… Ora desembrulha (ou embrulha… tudo dependendo como interpretas a coisa).


domingo, 9 de novembro de 2008

CSI:TDS - "Afinal havia outra" - parte VI (e última, carago)

Intrigado pela descoberta da conversa entre Tozé e Marineide, Parménides Juvenal decidiu ir até à porta da Tasca do Silva, estabelecimento estável de Chico “Búfalo” Dias, para tentar saber mais sobre o que tinha ouvido o engraxador, pois o que vira não parecia ter sido uma discussão violenta, como este tinha afirmado.
Chico aguardava clientela, enquanto degustava uma mini preta.
- Boa tarde, sr. Dias! – Parménides tratava toda a gente pelo apelido – Sabia que afinal a Sueli não matou o sr. Vilarinho?
- Ai sim? E eu ajudei a polícia a prendê-la porquê? Por causa da música sertaneja que ela trazia em altos berros no telemóvel, foi?...
- Não, ela gostava mesmo dele como afirmou à polícia. Eu ouvi o que ela lhe disse numa gravação vídeo da loja do sr. Xixi...

Parménides desviou-se para dar passagem a um cliente que chegava, o qual tomou o seu lugar no banquinho de engraxador, enquanto “Búfalo” Dias se sentava no apoio frontal aos sapatos. Já sentado, Chico esticou-se para pousar a garrafa de cerveja no chão, e foi então que Parménides lhe viu o fundo das costas, o que o traumatizou bastante. Não porque o rego do engraxador fosse mais peludo que o de um normal trabalhador das obras, mas porque a camisola levantada permitiu ver, nas costas de Chico, uma borboleta tatuada em tons de verde e roxo. Parménides estremeceu ao olhar também para a cabeleira loura do “Búfalo”, não conseguindo parar a tempo o seu discurso:
- ...e ela falava noutra pessoa envolvida, que tem os cabelos louros e uma tatuagem de borboleta nas costas...

Com a velocidade de um relâmpago ou, mais velozmente, com a velocidade com que Luís Filipe Menezes muda de opinião, Parménides apercebeu-se que tinha encontrado o criminoso. Fora de facto um crime passional, embora diferente do que seria de esperar!
Ao mesmo tempo, Chico “Búfalo” Dias apercebeu-se que tinha de dar uma “engraxadela” definitiva naquela personagem, antes que mais alguém soubesse disso.
O engraxador virou-se repentinamente para trás, destilando toda a sua fúria de homem acossado pela revelação dos seus sentimentos, tentando atingir Parménides com a lata de graxa preta, algo que o jovem de 40 anos conseguiu evitar.

- Ó sr. Dias, veja lá que quase me ía aleijando...
- ...sim, foi ciúme... e qual é o problema? Um caso com a lambisgóia da brasileira eu ainda aguentava, afinal, não é fácil assumirmos quem somos neste bairro hipócrita, cheio de gente antiquada, agora... renovar os votos de casamento com aquela pindérica da Carmelinda? Isso não!
Sentindo pela segunda vez nessa semana, um ligeiro descontrolo do seu esfíncter e pressentindo uma pequena mancha acastanhada nos boxers, Parménides largou a correr pela rua abaixo, perseguido pelo engraxador em fúria, que sacou do seu canivete suíço, curiosamente, comprado na loja do sr. Ping Xixi, e que para lá de cortar pão e queijo serrano, tinha ferramentas muito úteis para o esventramento de testemunhas incómodas.

* * *

Enquanto isso, na central CSI, Nico entrou no gabinete de Gil Grisso com o relatório das análises de ADN às unhas de Tozé Vilarinho:
- Tenho duas novidades, uma boa e uma má!
- Deixa-me adivinhar – disse Gil – o iva vai passar a ser pago apenas aquando do recebimento dos clientes e o nosso orçamento foi reduzido para metade!...
- Quase...-lamentou Nico – A má notícia é que Tozé não limpava as unhas muito frequentemente e estavam cheias de...digamos, resíduos. A boa notícia é que, entre eles encontrámos restos da pele, identificados como pertencentes a um tal de Parménides Juvenal, morador do bairro.
- Apanhámos o nosso homem! Rápido, alerta total, vamos cercar o bairro!

* * *

Entretanto, nesse mesmo instante, Parménides lutava pela vida, num esforço físico nunca antes atingido, se descontarmos as vezes em que a sua mãe vai ao Jumbo e ele tem de carregar as compras até ao terceiro andar onde mora. Numa espantosa coordenação de movimentos, enquanto corria, pensou, porém em voz alta, com os seus botões:
- ...eu não estou a perceber nada, como é que podia achar aquele senhor atraente?...
Três metros atrás de si, o engraxador ouviu o comentário:
- ...ah, já percebi, tu também és daqueles que acha que um homem não pode sentir atracção por outro homem, se calhar também obedeces à disciplina na votação da lei do casamento homossexual... anda cá, meu choninhas...
Era espuma de raiva o que escorria pelos lábios de Chico Dias enquanto dobrava a esquina na perseguição a Parménides, que num harmonioso movimento de quadris, sem dúvida inspirado na famosa revienga de Cristiano Ronaldo, evitou a banca de frutas do sr. Almerindo, o mesmo não sucedendo com o engraxador, que se foi estatelar numa caixa de tomates maduros.
- Já que gostas tanto, brinca agora com esses... - diria um herói de acção, intrépido e galante como, por exemplo, James Bond. Mas Parménides não disse nada.

Subitamente, entram na rua dez carros de patrulha, com as sirenes de novo imitando José Castelo Branco, respondendo à ordem da central CSI para deterem Parménides Juvenal para interrogatório. O merceeiro entregou Chico Dias às autoridades por assalto à mão armada perpetrado sobre uma caixa de tomates, o que facilitou o trabalho da polícia quando Parménides relatou no interrogatório tudo o que tinha descoberto.

Nessa noite, Parménides Juvenal pôde mais uma vez gozar o conforto do seu lar, sentado aos pés do maple onde sua mãe fazia renda, enquanto ambos viam um concurso na televisão, embora sem lhe prestar grande atenção. Na verdade, o seu imparável cérebro preocupava-se com a viúva de Tozé Vilarinho.
- Finalmente, a Carmelinda pôde ter alguma paz de espírito...
- Meu filho, a verdade vem sempre ao de cima. Foi bom ela saber que o marido não foi morto pela lambisgóia da amante mas sim por um abafador de palhinha psicótico!
Não sabendo bem o que a mãe quereria dizer com isso, Parménides achou por bem interromper os movimentos que fazia com a palhinha no seu copo de leite morninho, não fosse isso torná-lo psicótico...

domingo, 2 de novembro de 2008

O "grande embuste" dos exames

Pela enésima vez na comunicação social, veio o jornal Expresso desta semana, em dois locais, criticar, enquanto medida política, o "grande embuste" do facilitismo dos exames nacionais do 9.º ano de 2008. Nem uma só vez se viu, porém, uma análise séria do fenómeno, quer justificando onde e porquê foram os exames deste ano mais fáceis que os dos anos anteriores, quer discutindo a inadequação do respectivo grau de dificuldade.

Eu experimentei resolver de uma assentada os exames de Matemática de 2005, 2007 e 2008. Dado que os critérios de correcção são muito objectivos, é fácil determinar resultados indiscutíveis. E os resultados que eu obtive foram, respectivamente, 85%, 83% e 95%. Estes resultados confirmam a maior facilidade do exame de 2008? Parece que sim. Mas a diferença observada não é, de maneira alguma, indiciadora de que se passou do 8 para o 80, como as mais calamitosas notícias podem fazer crer ao cidadão inadvertido. Eu pergunto, que dados objectivos como o desta minha experiência foram tidos em consideração para fazer juízos de valor como os que se têm visto na comunicação social?

Por outro lado, é estranho que nunca se discuta se o grau de dificuldade dos exames tem sido adequado (ou inadequado) em relação aos respectivos objectivos e à população alvo. É sempre apresentada a ideia de que os exames fáceis, ao "baixar a fasquia", são catastróficos para a formação do aluno. Esta atitude ignora duas coisas. A primeira, é que muitos professores têm uma inexplicável tendência para não colocar nos testes ou nos exames questões demasiado simples, apenas porque assim os alunos as iriam acertar e isso não lhes acarretaria qualquer mérito. Como se só houvesse mérito em saber as coisas difíceis. A segunda, é que está por fazer uma análise cuidadosa sobre as competências médias do aluno português, considerando questões históricas e culturais da sociedade em Portugal. Será que o aluno médio real é aquilo que se imagina? Ou estará uns 10% mais abaixo?

Espero que não haja pruridos em relação a este último aspecto. Voltando ao lugar-comum da fasquia, é perfeitamente aceite que as marcas nos saltos em altura sejam mais baixas para atletas do sexo feminino, sem que isso represente um anátema inferiorizador das mulheres. Ou será que, em analogia com o título de um dos artigos do Expresso, devemos considerar que a fasquia oficial mais baixa para estas atletas são um grande embuste?

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Vitela com tomilho

Há pratos que surpreendem pela simplicidade da sua confecção, parcimónia nos ingredientes e riqueza de sabor. Um dos meus preferidos é a vitela com tomilho, que combina o sabor desta erva aromática com o vinho tinto e a cebola cozida. Um clássico.

Cortar carne de vitela em pequenos cubos (eu costumo usar agulha ou chambão).
Marinar a carne durante 2 horas em vinho tinto, tomilho, alho, sal e pimenta.
Num tacho amplo, fritar a vitela num pouco de azeite bem quente durante 4 ou 5 minutos. Adicionar o vinho da marinada e deixar estufar durante 15 minutos em lume médio.
Adicionar cebolas pequenas inteiras ou médias partidas em metades (pelo menos uma cebola média por pessoa) sem as misturar com a carne (as cebolas são colocadas sobre a carne e ficam durante algum tempo a cozer apenas no vapor).
Deixar cozer mais 45 minutos em lume brando. A cebola tem de ficar tenra e completamente embebida no molho.
Servir com arroz cozido ou puré de batata.

sábado, 25 de outubro de 2008

CSI:TDS - "Afinal havia outra" - parte V

Em frente da tasca aglomeravam-se as equipas de reportagem de várias televisões que permitiam que Chico “Búfalo” Dias se vangloriasse da ajuda dada à polícia para a detenção de uma criminosa, bem como lançasse os necessários alertas ao governo para a necessidade de mais apoios ao negócio da engraxadela. Este aparato desagradava ao Silva, porque nem as televisões mostravam a fachada da tasca nem os jornalistas faziam qualquer consumo aos seus pipis, moelas e tinto de estalo.

Na Travessa do Berbigão, esquina com a tasca, fica a loja chinesa de artigos electrónicos do sr. Ping Xixi, que para sua protecção contra as máfias chinesas que por vezes rondam o bairro, tem um câmara de vídeo ligada dia e noite sobre a porta do estabelecimento. Esse facto chamou a atenção de Parménides Juvenal, que motivado pela sua crença na inocência de Marineide, decidiu pedir acesso às filmagens do dia em que ocorrera a discussão entre Tozé e a amante.

No mundo cão em que vivemos, a honestidade e sentido de justiça têm sempre um preço – no caso de Parménides, foram 5 palmilhas de cortiça, uma camisola da selecção e um dragão luminoso que ele teve de comprar, para que o sr. Ping lhe desse acesso às filmagens.

Aninhados na central de vigilância localizada por baixo do balcão, Ping Xixi e Parménides Juvenal assistem às imagens da discussão:

– “Cê é um cafageste, Tozé... cê diz qui gosta dji mim e vai renovar os votos de casamento com sua muiér?... cê mi ama ou não mi ama?”

– “...mas querida, as coisas não podem ser assim... o problema não está em ti, está em mim...”

– “Ocês homens são tudo farinha do mesmo saco, viu? Vive djizendo qui mi ama... eu dei minha vida pra ocê, seu cafageste, dei minha vida todinha, meu coração e minha auma e agora eu mi sinto capaz de tje matar, viu?...”

O sr. Ping trocou olhares com Parménides, que sentiu o sangue gelar-lhe nas veias, sinal de que um leite morninho seria bem vindo, e sinal também de que Marineide podia de facto ter morto Tozé.

– “...eu fui burra mesmo, e pensar qui eu tava preocupada com seu outro caso...”

Outro caso? – interrogou-se Parménides.

Outlo caso? – interrogou-se Ping Xixi – Com mil dlagões flamejantes de labo inflamado! Aquel goldo tinha tlês mulheles?...

– “...cabelos louros e tattoo de borboleta nas costas? Nossa, é tão kitsh qui enjoa...”





(Coragem, este foi o penúltimo...)

sábado, 11 de outubro de 2008

CSI:TDS - "Afinal havia outra" - parte IV

O raiar do dia pintou os céus do bairro de tons alegres e inspiradores para a maioria da população. O Benfica ganhara na véspera, Cátia Vanessa conseguira finalmente desencardir o local da ocorrência com um detergente novo comprado no LIDL e a equipa de investigação do inspector Agostinho tinha apurado que Tozé era proprietário de um andar há 3 anos, tendo-o colocado à venda uma semana antes de morrer. Uma minuciosa inspecção à caixa de correio desse andar, permitiu descobrir, além de alguns vales de desconto para a pizaria do bairro, um envelope de fotos em que Tozé e Marineide Sueli apareciam juntos, em grande intimidade. Provava-se que viviam como amantes e ganhava força a tese de crime passional. Ao mesmo tempo, no laboratório dos CSI chegava o relatório toxicológico de Tozé Vilarinho.

– A nossa vítima morreu de ataque cardíaco, sem qualquer traço de drogas no sangue – disse Catarina Salgueiro lendo a conclusão do exame.

– Devemos concluir que não houve crime? – perguntou Gil Grisso.

– Calma lá! – protestou Nico – Mas eu encontrei junto do corpo um frasco de Coumadin, um anticoagulante usado para evitar a trombose ou recidiva de enfarte de miocárdio. Ora se ele tomava medicação, não deveria aparecer alguma coisa?...

– A não ser... que ele estivesse a tomar um placebo – disse Gil, arqueando a sobrancelha como só ele sabia fazer quando debitava a sua imensa sabedoria, ou quando tentava engatar alguma ucraniana nos bares de solteiros que costumava frequentar – Testaram os comprimidos encontrados?

Feitos os testes ao frasco de Coumadin, descobriu-se, não varfarina sódica cristalina, mas vulgares comprimidos de adoçante, o que, aliado às informações do inspector Agostinho sobre as fotos encontradas no apartamento de Tozé, determinou nova saída da equipa de reacção rápida CSI, com o potente Smart a levar Nico e Catarina de regresso à Tasca do Silva para falar com Marineide Sueli. Seguidos, obviamente, por 5 carros patrulha cujas sirenes, para aqueles de mente mais retorcida, fariam lembrar os gritos de prazer de José Castelo Branco quando experimenta uma nova bicicleta. Sem selim.

A entrada de rompante na Tasca permitiu apanhar a perigosa brasileira enquanto dava os acabamentos numas unhas de gel acabadas de colocar em Cátia Vanessa, cujas pontas dos dedos ficaram a parecer navalhas de um tom vermelho-quente, fogoso como o de qualquer estrela porno. Vasculhando o cacifo de Sueli, foi possível encontrar os verdadeiros comprimidos Coumadin de Tozé, bem como embalagens similares com o adoçante. Detida imediatamente, Marineide foi levada para o carro patrulha, enquanto, chorosa, gritava a sua inocência a toda a população que se juntara na porta da Tasca do Silva em busca de um espectáculo grátis sobre a miséria humana e a degradação moral.

Lá bem atrás da multidão e vendo menos do que um retardatário num concerto de Madonna, estava o incógnito Parménides Juvenal, morador do bairro que soltava uma furtiva lágrima por Marineide, pois sentia no seu coraçãozito que a brasileira não era a responsável pela morte de Tozé. Por um lado, Parménides tinha a tendência para acreditar no que dizem as pessoas de mini saia e meias de renda. Por outro, ela parecia bastante sincera quando gritava que amava Tozé e que nunca lhe faria mal. Poderia ela ter mentido à polícia sobre a discussão que tivera com Tozé?

Ainda se fazem clássicos?

Em termos estritamente musicais, ainda se fazem clássicos na música pop? Ainda se fazem hoje daquelas músicas que têm o tal click que as transformam em coisas eternas?

A resposta é, obviamente, sim. O problema, contudo, é o mesmo de sempre. Como reconhecer um clássico antes que ele se torne clássico? É um bom exercício tentar antever esse futuro distante, imaginando o efeito que o tempo, o acaso e as boas influências das editoras farão a certas músicas de hoje.

O que proponho hoje é uma dessas músicas que têm tudo para serem clássicos. Esta tem tudo no sítio certo. Apenas lhe falta o tempo. No último álbum dos Metallica, publicado há um mês, parece que o que está a dar em termos de popularidade é o The Day That Never Comes. Nada mau! Mas eu aposto noutro cavalo.



Metallica
The Unforgiven III
Death Magnetic, 2008
Warner Bros. Records

domingo, 5 de outubro de 2008

CSI:TDS - "Afinal havia outra" - parte III

Era grande a discussão junto ao posto médico, naquela manhã. A fila para a marcação de consultas já chegava à porta da Tasca do Silva, mas corria o boato que o Dr. Anacleto tinha levado a mulher para um congresso de medicina em Punta Cana e não haveria consultas tão cedo. Outro dos temas em vivo debate naquele “Prós e Contras” de bairro, era sobre quem teria mais razões para matar Tozé Vilarinho – uma amante ou a hipertensão arterial?
Apesar de ser voz corrente que o cardiologista já lhe tinha recomendado mais exercício físico, os 66% de matéria gorda do seu corpo pareciam indicar tanta atenção a este conselho como quando o Silva insiste em dizer “fiado só amanhã” aos clientes da sua tasca. Entre o mulherio ali presente, grande percentagem inclinava-se para a inveja da extrema sensualidade e sex appeal daquele que alguns insistiam em rotular de gordo, badalhoco, suado e pouco agradável ao olfacto. A este último argumento, havia mesmo uma quarentona que vociferava:
- A isso chamam-se feromonas, seus estúpidos! O Tozé era só um pouco descuidado com elas, apenas isso...

Na sede dos CSI, na sala de “Interrogatórios, Questionários e Perguntas Parvas”, Gil Grisso, Catarina Salgueiro e Nico, faziam perguntas a Chico “Búfalo” Dias. Devendo a sua alcunha à marca de pomada para calçado, Chico Dias, bem parecido jovem sub-30, de cabelo loiro e braços tatuados com personagens de BD, tinha ignorado o programa Novas Oportunidades e trabalhava de engraxador à porta da Tasca, sete dias por semana em full time, pelo que era uma testemunha dos acontecimentos que antecediam o apagamento de Tozé.
Ser engraxador é ter uma profissão sensível, tal como a de manicure ou barbeiro. Tem-se acesso a segredos íntimos da clientela, que só o restrito Código Deontológico impede que caiam na vox populi. Assim, Gil Grisso ficou sem perceber, quando questionou Chico Dias sobre possíveis amantes de Tozé Vilarinho, se o engraxador de facto desconhecia a sua existência, ou se o seu sentido deontológico falava mais alto que os sórdidos pormenores a que teria tido acesso.
No entanto, as persuasivas técnicas interrogatórias da equipa CSI (entre as quais se contou o abandono da sala por parte dos criminologistas durante mais de uma hora, deixando a testemunha entregue a si mesma e a um pequeno televisor que passava continuamente compactos dos Morangos com Açúcar) permitiram apurar que naquele mesmo dia, Chico Dias tinha ouvido, na travessa que faz esquina com a Tasca do Silva, e portanto, uma ocorrência do domínio público, uma discussão entre Tozé Vilarinho e Marineide Sueli, escultural mulata brasileira que trabalhava no centro comercial fazendo unhas de gel para as senhoras do bairro e, ocasionalmente, fazia algumas horas na Tasca ajudando Cátia Vanessa no serviço às mesas, quando o trabalho apertava.

Destacando imediatamente uma equipa de investigação rápida para o centro comercial, Gil Grisso enviou o colega Nico no seu potente Smart, interrogar Marineide Sueli e proceder à recolha de cera dos ouvidos para posterior análise de ADN. Nas palavras da brasileira, a discussão havia sido motivada pelo trabalho de unhas que ela tinha feito em Carmelinda Vilarinho, as quais se tinham quebrado na primeira vez que a mulher de Tozé tinha lavado a loiça, sendo que o amantíssimo marido pretendia ser reembolsado, apesar de Marineide explicar que trabalhava a recibos verdes e não podia fazer notas de crédito. Oferecido um desconto em próximos trabalhos, Tozé não tinha aceite e a discussão tinha acontecido. Muito traumatizada por pensarem que seria capaz de matar Tozé, Marineide refugiou-se no “banheiro” a chorar, não sendo possível apurar mais nada. O mistério adensava-se.

domingo, 28 de setembro de 2008

CSI:TDS - "Afinal havia outra" - parte II


– Gil Grisso, criminologista – apresentou-se o recém chegado, estendendo a mão ao detective Agostinho, que chefiava a equipa de polícia responsável por fazer da Tasca do Silva algo entre um acampamento de escuteiros e um première de cinema, tal o aparato de homens, cães, equipas a cavalo e projectores de halogéneo em todo o quarteirão. - Conte-me tudo.
– Tozé Vilarinho – disse o inspector apontando para o corpo coberto com um lençol, que jazia na entrada da Tasca – 45 anos, um metro e sessenta, 128 kgs, badocha morador no bairro, apreciador de comida com altos teores de gordura, estava ao balcão a petiscar umas tiras de entremeada barradas com manteiga, quando começou a arroxear e saiu cambaleando do estabelecimento "sem sequer pagar a despesa", segundo palavras do sr. Silva, proprietário.
– Gil, – chamou Catarina Salgueiro, uma loira quarentona boa comós pêssegos em calda, vestindo um blusão azul com grandes letras CSI – o morto tem resíduos de pele nas unhas, já recolhi amostra de ADN, e existem muitos cabelos junto ao balcão.
– Encontrei um frasco de comprimidos no fundo da sarjeta,- anunciou Nico, um dos criminalistas que estava no exterior da Tasca – junto com uma ratazana cinzenta.
– Por falar nisso – disse Gil – já comia qualquer coisa. Sinto um ratito em mim.
– Eu tenho comigo uma ratita, talvez pudéssemos confraternizar...– propôs Catarina.
– ...E aquela ali ao canto? – perguntou Gil ao inspector Agostinho, desviando a conversa antes de entrar por caminhos dos quais se viesse a arrepender... ou não.
– Carmelinda Vilarinho, 40 anos, ex-esposa de Tozé, um metro e setenta, 69 kgs, 95 de busto, 60 de cintura, 90 de anca, calça 39, tem um sinal em forma de lótus sobre o seio direito, gosta de sexo tântrico...
– Ex-esposa? – atalhou Gil Grisso.
– Sim, a partir do momento em que o Tozé quinou. Um óptimo partido, se me perguntares... – suspirou Agostinho.
Gil já não ouviu este último detalhe, pois dirigiu-se à chorosa viúva.
– Carmelinda Vilarinho? Sou Gil Grisso, criminologista reputado e podre de bom. Já deve ter falado com a polícia, mas pode contar-me alguma coisa sobre o seu marido?
– ...ele ficava excitado quando eu lhe punha chantilly no umbigo e lambia...
– Eu referia-me a qualquer coisa relativa à sua morte!
– Ah, isso... Espero que apanhem rapidamente o responsável, ou neste caso, a responsável por este crime horrível...
– A responsável?
– Sim, eu estou desconfiada que o meu marido tinha uma amante. Sabe como é, um homem charmoso, na força da vida, tinha começado agora a fumar charutos pois o médico tinha-o proibido de continuar a fumar cigarros, lindo de morrer com uma vida profissional bem sucedida...
– Lindo?... – Gil franziu o sobrolho, conferindo a foto de Tozé no processo, na qual ele sorria patrocinado não por uma marca de dentífrico, mas por uma marca de mostarda, tal a quantidade de creme que lhe escorria dos lábios.
– Claro, não acha que o Tozé é um homem atraente? Para mais agora, que íamos renovar os nossos votos de casamento, é bastante óbvio que a amante teria razões para o matar.
Encontrem a amante, e terão encontrado a assassina!...

sábado, 20 de setembro de 2008

Para que conste!

Fez há dias um ano que este estabelecimento abriu oficialmente ao público, por obra e graça de duas pessoas, cuja sanidade mental com certeza não andaria nos melhores dias, coisa estranhíssima, pois até são duas pessoas muito equilibradas. Não o foram, de facto, na altura, pois só assim se compreende o facto de me deixarem mandar aqui as minhas postas de pescada… podre… ou isso, ou então quiseram arranjar alguém que se enquadrasse na etiqueta “deixa-lá-postar-aqui-algo-abruptamente-estúpido-que-possa-fazer-frente-à-estupidificante-ideia-de-um-individuo-de-barbas-com-a-mania-de-intelectual-em-cujo-blogue-são-editadas-fotos-enviadas-pelos-frequentadores-do-seu-estaminé” ... também haverá uma terceira hipótese, que foi o facto de na altura do casting só terem aparecido mais estes dois candidatos,


Conversation from Martin Wilson on Vimeo.

Se bem que me subsistissem dúvidas na altura sobre o porquê do convite, depressa me esqueci de tal questão, pois tive a oportunidade de assistir a um casting de mais dois candidatos, os quais também acabaram por ser contratados. Ora apreciai a beleza do número,



Para levantar um bocadinho do véu acerca destes dois, apenas vos digo que o indivíduo esverdeado só há bem pouco tempo se sentiu com maturidade suficiente para postar… isto com a condição de a Tasca lhe servir um copo de leite morninho sempre que ele por aqui passe… quanto à senhora não falo… por questões de preservação da única integridade que ainda me resta, a física… Percebeis?

Parabéns à Tasca, ao Silva, aos seus colaboradores, familiares e amigos, bem como ao vastíssimo público que frequenta este humilde, mas limpinho, estabelecimento!

domingo, 14 de setembro de 2008

CSI:TDS - "Afinal havia outra" - parte I

Entre os vários mitos urbanos induzidos pela música moderna, está aquele que diz que Nova Iorque é a cidade que nunca dorme, olvidando que todas as cidades frenéticas e fervilhantes assim o são.

Esta é uma cidade onde, para muitos cidadãos, o trabalho nocturno é uma regra: do técnico de higienização de ruas a uma empregada de uma loja de chineses, de uma colaboradora do estabelecimento de madame Sissi a um criminologista a trabalhar no turno da noite. Também esta cidade nunca dorme, também este bairro nunca adormece.

A noite estava escura e fria, como compete a uma noite de lua nova, em que o termómetro desce abaixo do habitual. Na parte baixa, da madrugada ao anoitecer, o alcance das brilhantes luzes de néon do estabelecimento de madame Sissi emprestam vida àquele bairro, competindo com um milhão de estrelas fixas no firmamento negro, tão longínquas e minúsculas quando comparadas com José Mourinho ou Cristiano Ronaldo. Na parte alta, o ambiente é outro e a calma aparente pode quebrar-se a qualquer momento, como um copo de três que cai do balcão da Tasca do Silva directamente sobre os frios mosaicos do pavimento.

Um homem sai cambaleante do estabelecimento, com uma mão tacteando o caminho como um invisual e outra agarrada ao peito, sobre o lado esquerdo, crispada, como se tentasse agarrar a vida que se lhe esvai como areia fina de entre os dedos. Parménides Juvenal, morador do bairro, atravessa o passeio despreocupado, depois da sua saída nocturna para levar o lixo ao ecoponto, quando o cambaleante sujeito avança sobre ele. Tenta agarrar-se a Parménides, cravando-lhe as unhas na carne, mas o último sopro de vida esvai-se e o seu corpo cai redondo aos pés do jovem atónito, que sente um ligeiro descontrolo do seu esfíncter e pressente uma pequena mancha acastanhada nos seus boxers.

Em estado de pânico, corre para casa quase à mesma velocidade que o seu pensamento trabalha sobre um sobressalto que lhe inquieta o espírito: todos os segundos podem ser vitais para que o leite morninho, que o aguarda antes de deitar, não arrefeça...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Imagens da Rota do Linho


No sábado passado fiz os 7 quilómetros da Rota do Linho.


Aldrabei um bocadinho na parte final por causa de uma dobradiça na perna direita. É natural, dada a dificuldade média-alta do percurso e as já várias décadas em que venho usando as tíbias e os perónios.


A chuva da véspera limpou as poeiras e ajudou a compor as cores.


Não ponho imagens das cascatas porque ficaram uma coisa muito déjà-vu.
Mas achei graça a esta parede de um dos moinhos.


Não sei se já tinham notado, mas clicando nas imagens vê-se uma ampliação.

sábado, 6 de setembro de 2008

Há vida para além da porca e do parafuso!?

Acabado o período a que alguém se lembrou de chamar de férias, eis que regressamos à vidinha do dia-a-dia.

Hoje em dia já não me custa tanto ultrapassar esse tormento que era o “Jet-Job”, pois já se sabe que noutros tempos, os de solteiro, depois de muitas noites que tinham tanto de bem bebidas, como de mal dormidas, a coisa custava a engrenar e era ver-nos a ressacar em pleno trabalho, tipo olhar para a máquina da água ao canto do escritório e imaginar um barril de “Super-Bock” fresquinha, ou então olhar para a colega do lado e imaginá-la em fio dental (e talvez até dizer-lhe “tu és fresca”… espera, já estou a sonhar… naqueles tempos penso que ainda não havia dessas modernices, perdão, “porcalhices”).

Uma das coisas úteis que fiz nas ditas férias, por estranho que possa parecer, foi levar o puto mais velho ao cinema. Sim, leram bem – AO CINEMA!

Agora não é bem cinema… é mais um aglomerado de capoeiras à escolha do freguês… então aquela parte das pipocas e da cola é que acabam com a minha paciência… mas onde foi parar o velho costume de levar uma gaja ao cinema para lhe dar umas trincas?… pipocas?… comei-as vós!… melhor, comei o milhinho em cru… pode ser que rebente nessas entranhas imundas de tudo… e ao mesmo tempo limpas de nada!

Reparei agora que já escrevi “porcalhices” e “imundices”. Nada mais a propósito para introduzir aquilo que eu vi.

Chegados ao dito aglomerado de salas de cinema, depara-se-nos logo uma tarefa árdua e difícil, que é a de escolher os filmes – outra coisa que não existia antigamente, pois limitavamo-nos a ir ver um único filme que estava em exibição uma série de dias seguidos, e por isso já sabíamos para o que íamos. E mesmo que não soubéssemos era igual ao litro, pois basicamente era tudo à base de murros, tiros e facadas… salvo as sessões das quartas-feiras, em que a malta, mesmo no verão, ia munida dum sobretudo… de preferência com um ou dois tamanhos acima do que gastávamos.

Acabei por escolher o “Wall-E”, dada a minha companhia, e em boa altura o fiz, ou nem por isso, dados os problemas existenciais que acabei por acumular aos que já trazia e que são muitos, como sabeis.


“Wall-E”, resumidamente, trata-se da história de um pequeno e simpático robot, cuja missão era a de limpar o planeta Terra depois deste ter sido abandonado à força pelo homem – o mesmo homem que o encheu de tudo quanto era porcaria.

O pequeno robot, que há centenas de anos se limitava a arrumar sucata sozinho, acaba por conhecer uma robot, de seu nome Eve, enviada à terra pelo homem que agora vivia numa enorme nave, Eve essa pela qual o “E” se apaixona e acompanha para tudo quanto é lado, mesmo quando esta regressa à nave que a tinha deixado no nosso planeta.

Por detrás desse grande amor entre dois indivíduos de lata, está uma história mais profunda e abrangente, pois é esse casal de pombinhos que acaba por dar uma visão da vida ao homem, da qual este já não se lembrava, sendo que no fim todos regressam à terra, robots incluídos (eram às manadas e faziam de tudo lá na nave espacial onde a humanidade vivia desde que abandonou a terra… presumo que até limpavam o cuzinho dos bebés, a crer no aspecto arredondado de toda a gente), para supostamente recomeçarem tudo de novo.

“Muito bonito sim senhor”, disse para mim mesmo mal saí da sala. No entanto, mais tarde estive a pensar naquilo e cheguei à seguinte conclusão – “Espera, está tudo errado, logo a começar pela “gaja” por quem se apaixona o “E”… mas ela até se chamava Eve… onde é que eu já vi isto?… Robots?… Mas não foi por causa da nossa ânsia em não fazer um corno, que acabamos por mecanizar tudo, inclusive o nosso pensamento?”.

Senhores da “Pixar”, vós sois de facto muito criativos, disso não restam dúvidas e por isso aqui vos faço uma vénia. Agora não me venham lá com tretas de histórias profundas, porque dessas nós já conhecemos da história passada e da presente, e até já sabemos o final da história. Olhai, se queríeis fazer uma coisa realmente bem feita, pegavam em dois humanos, tipo o Joaquim e a Gertrudes, punham-nos a exterminar todo o homem-máquina que por aí empesta a humanidade e, para abrilhantar a coisa, metiam umas belas cenas de amor e sexo pelo meio …. ISSO É QUE ERA!

Ok, eu sei, sou um sonhador e nada do que eu penso já faz sentido. Por falar em fazer sentido e para dar um tom de humor à coisa sensaborona que escrevi, deixo-vos aquilo que eu considero ser de um humor refinado e em que, aqui sim, se vê a verdadeira utopia a que chegámos nos dias de hoje. Ora saboreiem lá:




Bem, está na hora de mudar o óleo… às azeitonas!

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Futebol

Ontem deu-me para assistir um pouco a um jogo de futebol que estava a ser transmitido pela televisão. Confirmei pela enésima vez que o futebol está uma coisa nojenta.

Decerto concordarão que seria repugnante e reprovável ver a meio de uma partida de ténis um dos jogadores mandar uma suculenta escarreta para o meio do court. Ou no final do esforço de uma corrida de natação ver o vencedor a expelir vigorosamente a ranheta do nariz para a água da piscina. Pois ambas as coisas se vêem constantemente entre os futebolistas.

O que é isto? Falta de educação higiénica? Será improvável, pois isso significaria que, por grande coincidência, todos os desportistas porcos estariam a convergir para esta modalidade. Não. A mim ninguém me tira da ideia que este comportamento faz parte da peculiar cultura do próprio futebol, o qual, ao que parece, se quer naturalmente tosco e virilmente abrutanado.

Confirma-se também que, ao contrário de qualquer outra modalidade desportiva, o futebol praticamente não evoluiu em termos técnicos nos últimos 20 anos. Os jogadores continuam a entrar em campo munidos apenas de uma natural habilidade para chutar na bola e rasteirar os adversários. Além de, obviamente, escarrar. Por isso é normal que os minutos do jogo se vão arrastando sem se vislumbrar qualquer técnica concreta, pensada e treinada para ser o mais eficaz possível, quer para dar origem a lances espectaculares, quer para atingir esse mais cobiçado objectivo que é o golo. Pelo contrário, tudo parece ser deixado ao acaso, à tal habilidade individual primária dos jogadores, tirando um ou outro lance na marcação de pontapés livres. É confrangedor!

Como se isso não bastasse, volta e meia assistimos a uma tremenda falta de disciplina dos jogadores, que se envolvem de forma infantil em lances e atitudes pelos quais acabam por ser penalizados com cartões. É possivelmente o pior exemplo que eu conheço de falta de profissionalismo, tanto mais reprovável quando se está em presença de profissionais superiormente pagos.

Falta de profissionalismo e de respeito humano. Muitos destes lances e atitudes são do mais grosseiro em termos de desonestidade e de pura agressão, física e verbal. Num dos lances do jogo de ontem, um jogador aproveita a queda do adversário para deliberadamente lhe maltratar as coxas com os pitões das botas, enquanto finge olhar para cima, para a bola. Punido com o cartão vermelho, esboça ainda um gesto de surpresa e de negação de qualquer falta.

Eis o futebol na sua vulgaridade habitual. Uma cambada de gajos violentos, fingidores, mentirosos e porcos, pagos chorudamente porque a populaça uiva de satisfação com estas práticas, a coberto de uma idiota e irracional simpatia clubística.

domingo, 31 de agosto de 2008

Manias e preconceitos

Os feitos do atleta Francis Obiorah Obikwelu durante anos não despertaram qualquer interesse em Portugal, pelo simples facto de ele ser um cidadão nigeriano. Mas o interesse subiu e generalizou-se no nosso país a partir do momento em que Francis passou a ter a nacionalidade portuguesa. Um simples acto administrativo mudou a forma como passámos a ver a actividade daquele atleta.

Nos meus arquivos de bagatelas e preciosidades, conservo um cartaz que uma escola do ensino secundário, há já uma boa dezena de anos, usou para publicitar uma actividade. Essa actividade era de divulgação musical e tinha por título "Por que é que a música clássica é tão chata?". O cartaz tornou-se uma curiosidade porque um aluno escreveu nele um rotundo e categórico "Foda-se a escola". Aquilo que eu acho mais significativo nesta relíquia é que a antipatia em relação à escola conseguia, neste caso, ser ainda maior do que aquela que, sem dúvida, o aluno teria em relação à música clássica.

Uma serpente, mesmo que inofensiva, causa calafrios e medo a quase toda a gente, apenas porque é uma serpente. Milhares de pessoas são indiferentes à música clássica ou até a detestam, apenas porque ela é música clássica. Todos estes exemplos mostram como há um certo tipo de rótulos que atribuem um valor de preconceito a tudo quanto existe à face da Terra, sejam pessoas, nações, animais, instituições, obras de arte ou resultados desportivos.

Se eu vos convidar para ouvir o belíssimo tema principal do segundo andamento da Sinfonia n.º 1 do compositor português Luís de Freitas Branco, imagino que poucos aceitarão o convite. Bah! Música clássica e, ainda por cima, de um reles compositor português! Que isto do nacionalismo português dá para os dois lados - glorificam-se umas merdas sem interesse nenhum ao mesmo tempo que superiormente se denigrem sólidos valores e mesmo riquezas absolutas. Mas esta mesma música decerto iria comover toda a gente que a ouvisse num aclamado filme americano, caso ela tivesse sido escolhida como leitmotiv do simpático e nostálgico herói, a quem tudo acabou por correr bem para maior contentamento do espectador.

Querem experimentar? Ora então fechem os olhos, imaginem a cena e ouçam os 2 minutos anteriores ao The end deste inexistente filme.




Luís de Freitas Branco (1890-1955)
Tema principal do 2.º andamento da Sinfonia n.º 1
RTÉ National Symphony Orchestra (Irlanda)
Maestro Álvaro Cassuto
Naxos (8.570765), 2008

sábado, 23 de agosto de 2008

Introdução ao caril

Encontrei há dias numa página da Internet uma intervenção gastronómica extraordinária. Um fulano divulga nessa página uma receita de caril de camarão retirada de uma revista, mas vai adiantando que "ou o cozinheiro que planeou esta receita percebe tanto de cozinha como eu de engenharia aeroespacial, ou a tipografia enganou-se na impressão da revista e trocou os ingredientes". Na realidade, a receita usa coisas como alho, malagueta, gengibre, cominhos, coentros e açafrão-das-Índias. E o peremptório chefe apresenta mais à frente esta espantosa conclusão pessoal: "caril de qualquer-coisa, sem caril, para mim, não é caril de coisa-nenhuma, açafrão da Índia, penso eu e na minha modesta opinião, não é o mesmo que caril".

É altura para esclarecer uma coisa básica sobre caril. Ao contrário daquilo que muita gente pensa, o caril não é uma especiaria de sabor característico e cor castanho amarelado que se encontra por todo o lado à venda em frascos ou em pacotes. A palavra caril deriva de termos asiáticos que designam simples molhos ou cozinhados que utilizam vários condimentos ou especiarias. E o pó de caril é apenas uma invenção ocidental que se popularizou porque facilita a confecção de pratos com um sabor exótico.

O pó de caril é, efectivamente, uma mistura de várias especiarias. Como a variedade e quantidades parciais destas especiarias fica ao critério de cada fabricante, não há dois pós de caril exactamente iguais, embora pareça que todos sabem mais ou menos ao mesmo - ou seja, a "caril". Para aumentar a confusão, há duas plantas normalmente associadas ao caril mas que não têm a ver directamente com ele: a Helichrysum italicum (que tem um cheiro próximo do pó de caril industrial) e a Murraya koenigii ou "folhas de caril" (usada como aromática na cozinha asiática).

As especiarias mais vulgares e mais fáceis de conseguir em Portugal para utilizar em caris são a pimenta, os coentros (semente), os cominhos, o cardamomo verde (na foto) e o cravinho. A cor amarelada é obtida acrescentando curcuma (vulgo "açafrão-das-Índias"). Para aumentar o picante, utilizam-se malaguetas, frescas ou secas (por exemplo, piri-piri), bem como pimenta-de-caiena ou outras pimentas. Podemos ainda variar subtilmente o sabor global acrescentando outros produtos como canela, sementes de funcho, nós moscada, macis, gengibre, sementes de mostarda, paprica (colorau), entre muitos mais.

Como qualquer outro produto "enlatado", o pó de caril tem a desvantagem de não ser tão genuíno como o artesanal. Algumas marcas que por aí se vendem são mesmo más em termos de sabor. Assim, nada melhor do que sermos nós a preparar o nosso próprio caril a partir de especiarias naturais.

Uma coisa muito interessante é que no caril feito por nós o sabor pode variar bastante conforme utilizamos mais ou menos de cada uma destas especiarias. Podemos ainda evitar usar um ou outro produto menos atraente para o nosso palato. Além disso, podemos optar também em algumas variantes de confecção, como seja utilizar as especiarias moídas ou não moídas; ao natural, fritas ou ligeiramente torradas; secas ou em pasta ou molho de marinada, etc. Tudo isto nos dá, portanto, a possibilidade de experimentar diferentes combinações e optar depois pelas misturas pessoais e pelos processos que mais nos agradem.

Os produtos devem preferencialmente ser adquiridos e conservados em grão, isto é, não moídos. A maior parte deles pode ser comprada em qualquer supermercado na prateleira das especiarias. Há, porém, algumas dificuldades. Os coentros em grão só costumam ser encontrados na zona das... sementes hortícolas e de jardim. Desde há algum tempo que tenho encontrado cardamomo numa "secção exótica" do Jumbo. Mas o melhor é ir a uma casa especializada. Em Lisboa, podemos encontrar locais de venda destes produtos no Martim Moniz (nos túneis de acesso ao metro na estação do Socorro e num centro comercial anexo). No Porto, conheço uma loja na Rua de Cimo de Vila (fica à direita de quem desce da Praça da Batalha para a estação de São Bento, mesmo em frente do entroncamento da Rua do Cativo).

Finalmente, há uma outra confusão sobre a confecção do caril, que é pensar-se que qualquer caril tem de levar leite de coco ou um qualquer preparado à base de coco. O coco é apenas uma opção para obter um caril mais suave, podendo o sabor quente das especiarias ser também balanceado com vegetais (por exemplo, tomate, pimento, beringela, funcho), iogurte natural ou sumo de limão.

Deixo uma sugestão para uma iniciação ao caril caseiro. Não se espante se, ao provar, não souber a... "caril".

Caril
Preparar num pequeno prato a seguinte mistura de especiarias. Estas podem ser trituradas num almofariz ou numa máquina de moer, mas recomendo que não sejam moídas numa primeira experiência, excepto a pimenta. Isto tem a vantagem de se encontrarem os grãos ao comer, o que permite perceber melhor o sabor que cada especiaria confere ao todo. As quantidades são indicativas para 4 pessoas.

  • 1 colher de sopa de sementes de cominho
  • 2 colher de chá de sementes de coentro
  • 1 colher de café de pimenta preta moída no momento
  • 2 colheres de chá de curcuma (açafrão-das-Índias)
  • 2 cravinhos
  • 3 vagens de cardamomo verde (apenas os grãos internos)
  • um pouco de raspa de noz moscada
  • 1 malagueta vermelha (ou 1 colher de café de pimenta-de-caiena ou piri-piri) se desejar mais picante
Refogar em azeite uma cebola picada. Acrescentar depois a mistura de especiarias e deixar fitar durante 1 minuto. Juntar carne cortada em pedaços pequenos. Por razões culturais o borrego é a carne mais utilizada pelos povos do Médio Oriente, mas pode ser usado porco, vitela ou frango. Fritar durante 2 minutos mexendo sempre. Acrescentar um pouco de água (2 ou 3 colheres de sopa) para parar a fritura.

Juntar em seguida 2 dentes de alho picados, 2 tomates cortados em cubos, 1 iogurte natural e sal. Tapar e deixar cozer em lume brando até a carne ficar macia. Mexer de vez em quando e controlar o nível do líquido acrescentado água se necessário. É preferível que fique mais seco (molho grosso) do que excessivamente líquido. Se estiver muito líquido, deixe ferver um pouco mais sem a tampa até atingir uma melhor consistência. No momento de servir, juntar um raminho de coentros frescos cortados finamente. Acompanhar com arroz pilau.

O meu arroz pilau
Refogar uma cebola pequena em azeite. Juntar 2 vagens de cardamomo verde inteiras, 2 cravinhos, 6 grãos de pimenta, 1 folha de louro e 1 pau de canela. Fritar durante 1 minuto. Acrescentar água e sal. Quando a água ferver, juntar arroz basmati. Tapar e cozer durante 10 minutos exactos em lume brando.

Retirar do lume e escoar a água que ainda possa ter. Polvilhar um dos lados do arroz com um pouco de curcuma e o outro lado com mistura vermelha para tandori. Mexer de forma que os pós e o arroz se misturem um pouco mas não totalmente (a ideia é a mistura ficar tricolor). Deixar em repouso durante 5 minutos. Com um garfo, mexer com cuidado para soltar os grãos de arroz antes de servir. O arroz é servido com as especiarias, mas elas não se comem, principalmente o pau de canela e os cravinhos, dado o seu sabor muito concentrado.

Se não quiser um sabor mais acentuado a canela, pode tirar o pau imediatamente antes de juntar o arroz. A mistura vermelha para tandori pode ser encontrada numa loja especializada, mas é apenas opcional. Se não a conseguir arranjar, pode também substituir a operação de coloração final, adicionando 1 colher de chá de curcuma às restantes especiarias no momento da fritura.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Breiquingue niúse

Interrompemos aqui este blog para novos desenvolvimentos sobre as horas de pânico que se viveram à porta da Tasca do Silva, onde um presumível imigrante ucraniano manteve refém o tasqueiro-mor, Sr.Silva, sob a ameaça de um potente corta-unhas, durante mais de 3 horas.

Contactada a GNR para confirmação da nacionalidade do meliante, obtivemos como resposta "Ucraniano? Não foi nada traumatismo ucraniano! Ele é que caiu nas escadas no posto e foi mandar com a cabeça na coronha da pistola do cabo Antunes..."

Após um prolongado impasse, a situação terá sido resolvida quando um habitante aqui do bairro, de seu nome Parménides Juvenal, não se apercebendo do perigo entrou na Tasca para, ao que apurámos, comprar uma garrafa de ginjinha para sua mãe. Este factor de distracção para o sequestrador foi aproveitado pela Brigada de Intervenção Rápida da GNR para entrar pelos fundos do estabelecimento e manietar o perigoso elemento, antes que ele pudesse usar o seu corta-unhas na unhaca do dedo mindinho do sr. Silva, que mede mais de 5 centímetros e é um dos seus orgulhos.

No final, o sr. Silva e Parménides Juvenal saíram da Tasca sob fortes aplausos da população que bloqueava por completo as imediações, enquanto o meliante, de cabeça coberta, era transportado para o jipe da GNR sob imensa revolta do povo, que pretendia um linchamento do sequestrador: "Gatuno, vai prà tua terra! Está aqui um homem cheio de sede vai pra 2 horas e nem se pode chegar ao balcão da Tasca!...ruços dum cabrão!..."

No meio dos desacatos, uma senhora idosa queixa-se de violência policial, pois na retirada do sequestrador, uma cotovelada na cara fez-lhe voar a placa cerca de 15 metros, quebrando dois queixais.

Tentámos obter algum comentário do sr. Parménides, mas o mesmo declarou-se muito nervoso e que só prestaria qualquer declaração na presença do seu..."copo de leite morninho", o qual não foi possível obter.

domingo, 10 de agosto de 2008

O diz c'o urso do presidente

Olá, o meu nome é Parménides Juvenal e moro aqui no bairro. Há quem diga que por aqui nunca se passa nada, mas não é verdade. Ainda hoje, por exemplo, foi um dia de emoções fortes.

Primeiro, foi o zipper das minhas calças que ficou trilhado numa das minhas bolinhas (a esquerda), obrigando-me a esfregar grandes camadas de halibut, o que me deu horas de muito prazer. Depois ficámos a saber pela rádio aqui do bairro (Águas Furtadas-109.99 FM) que, às 20 horas, o presidente da junta ia interromper as suas férias para fazer um comunicado à população, o que era inédito, pois o presidente nem os bons dias costuma dar, a não ser a quem lhe prometa votos.

Bom, na verdade, este dia começou com o meu pai a ficar em casa. Por um lado, foi triste vê-lo assim doente, enquanto ele telefonava para o emprego a dizer que estava com papeira, mas, por outro lado, foi bom vê-lo a recompor-se tão depressa e a propor que fôssemos à praia. Eu parece-me que o que lhe fez bem foi o amor da minha mãe, pois dizem que o amor faz milagres, e na verdade ela ficou tão feliz, tão feliz, de o ver em casa que, cada vez que alguém chegava, tal como o leiteiro, ou o padeiro, ela gritava excitadíssima: "O meu marido está em casa... O meu marido está em casa..." e eles abalavam a correr, certamente para espalharem a boa nova pelo bairro.

E então lá fomos. O caminho demorou pouco mais de duas horas, mas mesmo assim já não chegámos a tempo de apanhar o melhor local e o meu pai já não pôde erguer vedação de arame farpado que normalmente ele mete para reservar um espaço de 2 metros quadrados só nosso, de modo que foi só montar a mesa de picnic, com as geleiras e o garrafão por baixo, enquanto eu e meu pai aproveitámos a sombra da minha mãe, que ficou de pé. Ela ainda quis montar a piscina insuflável para mim, mas eu disse que desta vez não me apetecia nadar. Não é que não estivesse calor. Estava. Tanto assim que até desapertei o botão do colarinho da minha camisa de flanela, mas nadar não me apetecia.

Eu por acaso aprecio bastante os cuidados que a minha mãe tem comigo, porque sei que é para meu bem. Basta ver tanta gente pobre na praia, que não tem roupa para se cobrir, e tem de estar ao sol apenas com umas pequenas cuecas e uns soutiens reduzidos, ou às vezes nem isso. Coitados, ficam uns tempos de papo pró ar, outro tanto virados para baixo. De vez em quando lá vão mudando de posição, num movimento contínuo semelhante a um assado no espeto. Tirando o facto de não ter um pau enfiado no cu. Falo por mim, claro.

Uma das coisas que mais me intriga na praia, é o porquê do meu pai, cada vez que passa um grupo dessas raparigas pobres com pouca roupa, se volta de barriga para baixo na toalha. Quando ele de lá sai, noto que fica na areia uma ligeira cova no sítio do baixo ventre ou, por vezes, uma pequena mancha nos calções, pelo que desconfio que ele já esteja de alguma forma a ter problemas com a próstata.

Ao almoço, estávamos de volta do arroz de feijão com as divinas pataniscas feitas pela Cátia Vanessa, que a minha mãe trouxe da Tasca do Silva, quando às tantas diz o meu pai - “Epá, cum catano! Temos de ir ouvir o Aníbal”, e como o rádio de pilhas tinha ficado em casa, lá tivemos de vir embora, eram 3 da tarde, para evitarmos as filas de trânsito e chegarmos a casa a tempo do comunicado.

O Aníbal Silva é o presidente da junta, mas, apesar do nome, não tem nada a ver com a Tasca do Silva, excepto quando anda em campanha e lá vai distribuir uns autocolantes à clientela do outro Silva para que esta passe a ser clientela dele próprio.

A minha mãe dizia que ele era capaz de ir falar sobre alguns assuntos, enquanto o meu pai era da opinião que ele se iria debruçar sobre alguns temas. Eu não percebo muito de política, o meu forte são mais as colecções de caixas de fósforos, mas achava que o presidente iria falar daqueles problemas que mais se ouvem nas conversas às mesas da Tasca: a falta de dinheiro nas caixas multibanco, a falta de emprego que dê muito dinheiro com pouco trabalho e a falta de vontade de trabalhar de quem tem emprego.

Foi uma verdadeira emissão estereofónica, pois o comunicado foi para o ar em todos os aparelhos de rádio do bairro, excepto os que estavam desligados ou tinham sido atingidos por uma trovoada. Afinal, o que o Aníbal veio trazer foi uma lufada de ar fresco e esperança aos moradores aqui do bairro que pensam que tem uma vida cheia de problemas e de dívidas, mas que ao saber dos problemas que o presidente relatou, pensam: “Afinal existem vidas muito piores que a minha”, ganhando desta forma uma nova força e um novo ânimo para lutar contras as adversidades e dar a volta por cima.

E o que disse o presidente neste discurso verdadeiramente mobilizador? Que a vida dele era uma desgraça desde os 18 anos, altura em que casou com uma mulher que lhe batia todos os dias com um pé de cabra e que o violava, algumas vezes sem o seu consentimento. A sogra entrevada foi viver com eles, na época em que o Aníbal ganhou uma pedra nos rins e uma úlcera no estômago com as preocupações da mãe ter apanhado um problema de alcoolismo e a mulher ter começado a injectar-se nos braços, depois de ter sido despedida por sofrer de incontinência urinária trabalhando como portageira de uma SCUT.

Quando já tudo parecia perdido, uma reunião da Igreja Universal do Reino dos Meus mudou-lhe a vida como que por milagre. Hoje, a mulher já só lhe bate com o cinto e já não chuta nos braços, pois prefere o pescoço. Foi operado ao estômago e por engano tiraram-lhe os dois rins, pelo que já não tem problemas nem da pedra nem da úlcera. A sogra morreu e a mãe já não tem problemas de alcoolismo, ficando-se por simples bebedeiras. Tudo isto pela dízima mais baixa do mercado, de 9,25% dos rendimentos mensais!

Daqui resulta que, o que parecia ser o fim do mundo para Aníbal Silva, quando a amante descobriu que ele era um homem casado, tornou-se apenas um problema para o bairro, pois a amante era presidente da assembleia de freguesia, e sentindo-se enganada, tornou-se mais desconfiada em relação aos actos do presidente da junta, fazendo com que ele tivesse de obter o parecer positivo dela para toda e qualquer acção, coisa que não lhe parecia bem de acordo com a constituição local.

Porra - diz o meu pai - interrompe um gajo um dia de praia a pensar que havia aqui alguma coisa de importante, que iam aumentar o preço das pataniscas vendidas para fora na Tasca e vai-se a ver... tem razão quem diz c'o urso tem uma amante...

Desconfio que o meu pai também não percebe muito de política!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Férias Trocadas, Férias Gozadas!

Estava o Silva descansadinho na sua casa, lápis na mão e papel à sua frente, porventura escriturando o parco apuro do dia (custa aceitar mas, com a Cátia Vanessa de férias... as pataniscas não são as mesmas!), ou quiçá refazendo a Ementa para o dia seguinte (acrescentando-lhe a "Sopa de Morangos", chamariz doutra tasca vizinha), quando lhe entra, porta adentro, um outro Silva, com "a patroa e os gaiatos atrás"!

Não faltava mais nada! Então não é que estes, tendo anunciado aos "sete ventos" umas férias em "litorais de águas quentes, com tudo pago", resolvem afinal trocar para umas férias "em interiores de águas frias, com tudo a pagar"??! Forretas!!!

No entanto, como Deus ajuda os pobres, e estes ajudam-se entre si, eis que no dia seguinte o Silva residente oferece ao Silva forasteiro (e famelga incluída) uma visita guiada pelas redondezas. Coração grande o deste Homem!

Tasca fechada, montanha arriba, lá foram eles, cantando e rindo!
E foi aqui que descobriram que, pelos interiores que "só os bons conhecem" , também há:

Quintas do Lago

Festivais de Sossego


Auto-Estradas de Paz


Hipermercados de Tranquilidade


Desafios de "Outros Tempos"


... e até Monstros de Beleza


Chegados ao fim do dia, "completamente bêbados" de imagens inesquecíveis e "empanturrados" de sensações únicas, ficou a impressão de que os muitos "Muito Obrigado" ao Silva .. pareceram "poucos".




Contudo ficou uma certeza: valeu a pena "A Troca"!

domingo, 27 de julho de 2008

Barjacking - A tragédia, o drama, o horror

Olá, o meu nome é Parménides Juvenal e moro aqui no bairro. Pelo menos enquanto não for realojado pela Junta de Freguesia, porque a insegurança está a aumentar e hoje fui a primeira vítima registada em Portugal de um caso de barjacking.
Queria aproveitar que já estou no conforto do meu sótão, acompanhando um copo de leite morninho com um palito Larréne, para explicar a quem não saiba que o barjacking é uma evolução do carjacking, mas em que os senhores maus atacam bares, cafés e, neste caso, tascas.
Sei que dizem por aí que o carjacking é uma coisa recente vinda dos Estados Unidos, mas eu sou um tipo que não se deixa enganar facilmente, vai daí fui estudar o assunto e descobri que o carjacking foi inventado pelo D. Afonso Henriques no cerco da tomada de Lisboa, quando mandou o Martim Moniz forçar a entrada num estabelecimento que era o castelo, de modo a que o resto dos meliantes pudesse entrar em força e tomar de assalto aquilo tudo aos mouros. Foi exactamente porque o Martim Moniz ficou entalado na porta, à altura do baixo ventre, tendo levado uma pancada valente no car.., quer dizer, no joãozinho, ou jack em inglês, que ficou o nome carjacking.

Eu sei que há carjacking aqui no bairro, pois ainda no mês passado, a Zundapp do amola-tesouras, o Chico Naifas, foi abalroada por trás por uma acelera toda artilhada e veio de lá um senhor mau e encapuzado que em menos de um foguete levou tudo o que brilhava naquele veículo: as tesouras de aço inoxidável, os retrovisores que tinham sido adquiridos em regime de empréstimo a uma Ford Transit, os guarda-lamas cromados e o dente de ouro que o Chico tinha no maxilar superior.

Se alguém prestasse atenção ao que eu digo, nesta altura estariam a perguntar-me se eu não estava no fundo de um pipo de moscatel, na arrecadação da Tasca do Silva. Nesse caso, eu responderia que sim e explicaria a situação nestes termos.
A coisa deu-se pela manhãzinha, pois o Silva abre a Tasca a horas de dar o mata-bicho aos ucranianos aqui do bairro que trabalham nas obras. O Silva estava a abrir a porta, quando um senhor malandro, com uma meia na cabeça (daquelas de nylon com buracos como as que usam as funcionárias da madame Sissi), se encosta a ele por trás (como fazem as funcionárias da madame Sissi) e aponta-lhe uma coisa às costas (foi aqui que o Silva percebeu que não era nenhuma das funcionárias da madame Sissi).
O Silva cheio de medo de nunca mais ver a sua Adozinda, fez tudo o que o senhor malandro lhe pediu, deu-lhe o dinheiro de caixa, os maços de cigarros Kentucky e o boião de pastilhas Gorila, antes de ser amarrado atrás do balcão, com um pano na boca. Pano esse que era utilizado pela Cátia Vanessa, quando era preciso limpar o balcão do vinho que se entornava no avio de penaltis e copos de 3, pelo que, dado o estado de encharcamento do pano, pelo menos o Silva não ficava com sede.
Na hora de fugir, o senhor malandro corre para a porta, escorrega nas cascas de tremoços que estavam no chão, porque a Vanessa não tinha varrido os mosaicos, cai de encontro à porta que dá acesso à cave, vem por ali abaixo aos trambolhões nas escadas, a arma destranca-se e começa aos tiros para tudo quanto é sítio. Ficou tudo feito em cacos, as lâmpadas do tecto, os presuntos de contrabando que estavam pendurados, o alambique do medronho e a pipa onde eu estava, que rachou ao meio e eu caí dentro dum alguidar de barro, onde repousavam entremeadas e fêveras em vinha d'alhos, para os petiscos dessa noite.
O senhor malandro ainda tentou dizer qualquer coisa, que não percebi bem por causa dos dentes partidos que lhe saltavam da boca. Pareceu-me “Não te mexas, Carvalho”, mas deve ser engano, porque eu não me chamo Carvalho nem estava ali mais ninguém. Antes que eu tivesse oportunidade para lhe chamar a atenção que não me chamava Carvalho, houve um último presunto, com osso, que se soltou da trave mestra e lhe caiu em cima da cabeça, deixando-o inanimado. Coitado.

Bom, mas o que importa é que consegui sair de lá sem problemas de maior, porque eu sou um tipo que está sempre alerta. Malandros e aldrabões, comigo, nunca levam a melhor. Estou a lembrar-me da vez em que um cigano me perguntou se eu queria comprar cavalo, quando eu vi muito bem que o que ele tinha para vender eram saquinhos de plástico com farinha lá dentro. Ou de quando encontrei um tipo aqui na rua que me queria propor um negócio, e eu avisei-o logo que não me deixava enganar facilmente, que até já me tinham tentado vender os Jerónimos e a Torre de Belém mas que eu não sou parolo, nem quando a minha mãe me deslarga a mão para fazer as compras.
Ele deu-me os parabéns por ser tão astuto e disse logo que não estava ali para enganar ninguém, que toda a gente sabia que esses sítios não estavam à venda. Afinal, o que ele queria era propor-me um negócio de estalo, alugando-me o Cristo Rei.
Eu disse para mim, espera lá Parménides, que isto não é coisa para o teu bolso, mas o homem parece que me leu os pensamentos e tratou logo de me sossegar, porque aquilo era uma pechincha, por 20 euros por semana, recuperava-os facilmente só com o dinheiro das entradas cobradas aos visitantes. E se tivesse alguma reclamação a fazer, podia contactá-lo no Palácio de Queluz, que era lá que ele atendia os clientes.
De modos que avaliei a situação e passei-lhe para a mão os 20 euros, não deixando de o avisar:
- Já sabe, se houver alguma aldrabice nisto, o senhor tem-me à perna! É que eu nunca me deixo enganar...