domingo, 30 de setembro de 2007

Estes britânicos

O casal de ingleses entrou e sentou-se numa mesa à esquerda da entrada, esperando que alguém os fosse atender. Sem falsa modéstia, sou o único elemento na tasca capaz de entender a linguagem dos súbditos de sua majestade, qualidade nata em mim... já nasci a entender (falar é que é mais difícil...) línguas estrangeiras.
O inglês começou por dizer: plize, put de culote on de taible... claro que vi logo o que o gajo queria... o plize é facilíssimo, e a taible, aprendi quando vou a um bar aqui no bairro e o Calvin arranja sempre uma garina para a taible dance... se ela dança em cima da mesa, é claro, taible é mesa. Não percebo é porque é que o gajo quer que eu limpe a mesa com uns culotes...! Discretamente fui ao vestiário e, como sou um gajo moderno, quem não tem cão caça com um gato e eu não tenho culotes... uso boxers. Limpei a mesa com as boxers e coloquei a toalhita de papel.

De seguida perguntei: Uat du tu queres tu almosseixame ? É evidente que o meu inglês deve estar a melhorar porque o inglês escreveu num guardanapo: Two... beef ... cow. Mas o que é isto, ele pensa que está na China, bife de cão? Albarda-se o burro à vontade do dono (hoje estou numa de provérbios) e foi o que pedi na cozinha.

Penso que não devia ser cão de boa qualidade porque ambos comeram muito pouco e ela teve mesmo uma crise fulminante de diarreia. Disse ele: A Ui cagou ai ave bin iare. Nem me preocupei com o que ele quis referir do Mister Bin, o que percebi foi que a esposa dele, a Ui (raio de nome para uma inglesa), se cagou. Imediatamente, como um cavalheiro que se preza peguei na senhora ao colo e levei-a à casa de banho. A mal agradecida disparatou e ainda por cima me deu uma bofetada e saíram os dois porta fora.
Ainda hoje não sei como o cozinheiro arranjou o bife mas o facto do cão da padaria aparecer com menos uma perna...

PS: Neste "filme" tudo é ficção, não tendo sido maltratado nenhum animal. Só eu é que levei a bofetada!!!

Um clássico preferido

A francesa Radio Classique levou a efeito uma eleição destinada a apurar as 100 peças da música clássica preferidas pelo seu público, tendo participado cerca de vinte mil ouvintes. O resultado não foi surpreendente. Os principais clássicos do clássico encontram-se na lista, distribuídos mais acima ou mais abaixo, pois o resultado de uma coisa destas é sempre subjectivo.

Nos 10 primeiros lugares, por exemplo, ficaram peças tão universais como a Ode à Alegria da Sinfonia n.º 9 e o Adagio do Concerto Imperador de Beethoven, o Dies Irae do Requiem e o Adagio do Concerto n.º 23 de Mozart, o Prelúdio n.º 1 do Cravo Bem Temperado de Bach. Não faltou um toque de nacionalismo, com a Pavane de Fauré a ficar num honroso sétimo lugar.

Contudo, a peça vencedora foi, talvez, um resultado inesperado. Trata-se do Andante do Trio para piano n.º 2, op. 100 (D 929), de Schubert. Embora seja uma peça corrente entre os melómanos, ela dificilmente poderá considerar-se popular. É certo que ela tem sido usada em bandas sonoras no cinema, tendo obtido uma maior notoriedade no filme Barry Lyndon de Stanley Kubrick. Só que as referências às peças clássicas no cinema diluem-se no tempo. E o filme de Kubrick é de 1975, já lá vão 30 anos.

A explicação para o êxito talvez resida noutro elemento. E ele dá pelo nome de Franz Schubert. De facto, este Andante tem lá tudo aquilo que mais nos maravilha no compositor austríaco: a inspiração melódica e um ambiente simultaneamente triste e sereno. Para confirmar, o melhor é ouvir. Eis a versão adaptada que foi usada na banda sonora de Barry Lyndon.


sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Ajudar os outros, tem muito que se lhe diga

Um dia destes ouvi uma história aqui na tasca que me pôs a pensar. O "Unhas de Falcão", alcunha que lhe ficou desde um dia em que foi visto na piscina com umas unhas nos pés que até se enrolavam à prancha, no entanto bom rapaz e muito prestável, queixava-se de que só os que se envolvem em seja o que for é que se metem em problemas. E tem toda a razão.

Então, viu-se embrulhado numa rixa danada, por tentar ajudar o "Narigueta", que não estava a perceber muito bem um artigo no jornal Record a respeito da rescisão do contrato do "Special One" com o Chelsea. O "Narigueta", de inteligência, coitadinho, não tem nada, mas, quem o ouvir falar, até parece doutorado em tudo e mais alguma coisa.

Sentados lado a lado, cada um com o seu copo na mão, o "Unhas" olha para o artigo e, nas calmas, explica o sucedido. É carapau!!! O outro não gostou e desatou aos berros – "Tás-me chamar estúpido? Achas que eu não tinha percebido logo à primeira?" Daí a ameaças físicas foi um instante.

O "Unhas" levantou-se e saiu, enquanto que o "Narigueta" continuava a barafustar e a chamar-lhe cobarde e medricas.

Diga-se a bem da verdade que o "Unhas" não foi visto por aqui durante 2 ou 3 dias, com vergonha provavelmente, quando a vergonha não deveria ser ele a senti-la.

Pensando nisto tudo, conclui-se que quem tem juízo mesmo é quem trata da sua vidinha e os outros que se desenrasquem. O reconhecimento é efémere - "Quem está, está, quem foi, foi" - como diz o outro. É num ápice que ninguém mais se lembra de quem tantas vezes lhe deu a mão. É tudo virtual, volátil, mas…

…Mas alguns não pensam assim, passa-lhes depressa, e o "Unhas" é um desses. É uma coisa qualquer que o empurra a estar de peito aberto, assim como que uma necessidade de respirar. Não tem nada que ver com ser vaidoso, ou querer arrecadar dividendos e reconhecimento, ele é assim mesmo, dá-se e pronto.

Na tasca, entra e sai de cara levantada, como em todo o lado por onde se desloca. Figura franzina, expressão sincera, nada na manga, não levanta a voz mas, quando larga alguma, tem muita piada e sempre um fundo de mais qualquer coisa.

Suponho que quem vai ficar mal nisto tudo é o "Narigueta" que, às tantas, vê-se sozinho pelos cantos. É que o pessoal não quer entrar em filmes daqueles. Qualquer conversa pode dar em provocação e, eventualmente, porrada.

Ter amigos dá muito trabalho.
Nada fazer pelos outros é facílimo mas a resposta é o desprezo.

Pensando melhor, mais vale ter trabalho e ter amigos.

Despertares


Levanto-me assim que toca o primeiro despertador. No total – e já descontando os desvios intestinais matutinos – tenho dois despertadores. Programo sempre dois alarmes, em dois telemóveis diferentes, sendo que o segundo proporciona uma alvorada bastante turbulenta.

No dia em que não conseguir acordar com tamanho cagaçal é sinal que ensurdeci. Ou então que me finei. “E por que razão dois alarmes?”, pergunta-me o boçal cliente da Tasca. Porque homem prevenido vale por dois; e porque Trolha prevenido vale por quatro, principalmente na região do baixo-ventre; e também porque tenho um vasto historial de não-conseguir-acordar-a-horas, no qual decidi colocar um ponto final. Eu conto:

Há coisa de uns meses, uma noite especialmente bem dormida, aliada a uma falha técnico-humana (e aqui fica uma das Verdades Absolutas de Trolha: “Despertador não programado não desperta”), resultou num atraso de hora e meia na chegada ao local de trabalho. Nesse dia acordei com a sensação de que era sábado. Mas não era. Entorpecido, peguei no relógio com toda a calma do mundo e parei uns segundos a contemplar os seus ponteiros, que é como quem diz a tentar perceber que horas eram. Relógios digitais uma vida inteira dão nisto. Quando finalmente consegui decifrar qual era o ponteiro das horas, já não foi preciso procurar o dos minutos porque o mundo acabara de desabar em cima de mim.

Dei um salto da cama, vesti os primeiros trapos que apanhei pela frente e fiz-me ao caminho.
Ao deparar-me com a fachada da Tasca hesitei um pouco. Foi então que resolvi aplicar a velha técnica de “entrar às arrecuas”. “Ó Trolha, só agora?”, diz-me, em tom acusador, aquela sonsa que na semana anterior havia feito horas extraordinárias comigo em cima do balcão enquanto o marido estava em casa a cuidar dos filhos. “Só agora o quê? Não vês que estou de saída?”. Boa tentativa, mas não pegou.

Pior do que sentir-me imundo com o mau aspecto da barba por fazer, banho por tomar e camisa amarrotada e desabotoada no colarinho (escusado será dizer que com a pressa vesti uma camisa que não estava engomada, ainda que se lhe houvesse aplicado a minha arte com o ferro não resultasse grande diferença) – foi a expressão divertida de cada um dos meus colegas que deixava transparecer um nítido e sempre reconfortante “estás fodido”.

O feitio difícil do patrão é sobejamente conhecido. A espuma que ele fabrica quando está irado descamba num dilúvio tal que é aconselhável o uso de guarda-chuva e gabardina quando ele se faz ouvir. No entanto, para espanto e desilusão de todos, o homem não tocou no assunto, dando-me apenas um normalíssimo “bom dia”. Este deve ser aquele silêncio que dizem valer mais do que mil palavras. Aquele “bom dia”, seco e pungente, fez com que os cabelos do cu se me encaracolassem. “Dois despertadores!! Dois despertadores!!”, foi o melhor que consegui murmurar entre dentes. “Diga, Shôr Trolha?”. "Nada, nada…". E lá fui directo à casa de banho limpar o suor que já escorria em bica.

Perguntam vocês: “mas… ó Trolha, e tu não tens quem te acorde?”. Umas vezes sim, outras não. Tudo depende de passar ou não pelo Intendente. É aqui, neste preciso momento, que revelo aquilo que a clientela da Tasca, mormente a do sexo feminino, anseia saber muito mais do que a chave correcta para os 130 milhões de logo à tarde: sou solteiro sim senhor. E a minha lendária beleza absolve-me de justificar que o sou por opção. Também a modéstia, essa imagem de marca que está para mim como o cavalinho está para a Ferrari, impede-me de dizer às senhoras o quanto e onde sou mais abastado.

Um coisa posso assegurar-vos: o próximo despertador que arranjar terá que saber engomar camisas. Abrem castings brevemente para o efeito.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

A carta

A carta veio pela manhã.

Horácio
Se prezas a boa amizade, ajuda-me nesta provação. Espero-te às onze horas na estação.
Sempre tua
Adelaide

A princípio fiquei tentado a ir imediatamente. Depois surgiram-me dúvidas. Reli aquilo.

Em primeiro lugar, não gostei da adjectivação da amizade.
Em segundo lugar, não gosto de provações.
Em terceiro lugar, já eram onze e meia.
Em quarto lugar, a Adelaide nunca fora minha, nem eu sabia sequer quem era a Adelaide.
Em quinto lugar, eu não me chamo Horácio.
Não fui.

O Côncavo e o Convexo

Porque hoje precisei de ti como um drogado precisa da sua "dose". Precisei que me acalentasses a alma, porque é isso que timidamente conheço de ti.

Não resisti, fui à Tasca do Silva. Comprei não uma mas duas garrafas da melhor pinga do mundo! Oh, que prazer saborear aquele néctar dos Deuses e sentir o seu efeito!

Aquele líquido vermelho escuro, parecia percorrer-me as veias, parecia levitar.... não deixei que o efeito toldasse a imaginação e naquela leveza electrizante, fechei os olhos e deixei-me levar pelo doce encanto e desejo que aquele estado inebriante avivava em mim.

Lembrou-me a fusão do teu espírito com o meu. Juntos, como um mar revolto, com ondas gigantes, rebolamos na areia. Entrosámo-nos com força e energia meia bruta, meia sádica num amor quase infernal.

Em cada vaga sentíamos o côncavo e o convexo em frenesim. Tu estavas num êxtase atroz e eu dentro do mais recôndito do teu ser. E... a cada onda tudo se repetia... No ondular estonteante sentia-se um líquido viscoso que fluía pelo corpo, pelas pernas que me abraçavam...

E nesta agitação de dose dupla, o mar acalmou e o ondulante das ondas era mais suave, mais calmo, mais azul. Sentia-se uma preguiça latente como que a fundir-se na areia, no outro corpo também exausto de prazer...

Juntos, na união diabólica dos deuses e dos anjos esta transformação foi mais clara, mais pujante, mais única...

Eu, agora, sentia-me um ulmeiro forte, frondoso que espetava sem pejo as suas raízes dentro de ti. Tu, a terra, era o meu alimento, a minha salvação.

Nesta fusão permanente de fornicadores, estendia vaidoso os braços como que a dizer: "Juntos até ao infinito"!!....

Aí, éramos todos os elementos da Natureza: o mar vibrante cheio de paixão quando se enrola na areia e a árvore e a terra em comunhão única de "perfuração".

Bem, o efeito passou, deixa-me agora o espírito mais lúcido.

Que merda de realidade!!!!

Um dia destes, vou outra vez à Tasca do Silva buscar mais duas daquela pinga....

Bagaceiros & Taralhocos

Bem que a tasca estava aberta no Sábado passado mas, Silva, nem vê-lo, agora vim a saber porquê, já que ontem ele me contou tudo.
Então o Silva tem um grupo de tasqueiros e taberneiros amigos que dão pelo nome de "Bagaceiros & Taralhocos", que todos os anos se reúnem numa festarola organizada por eles, em sítios diferentes do País. Este ano calhou na Merdaleja, mesmo no centro do País.

Logo bem cedinho, de norte a sul, foi um "prego a fundo", direitos ao local combinado. Aos poucos foram chegando e muitos novos apareceram. Os nomes eram conhecidos, as caras é que era novidade.
-"Olha, olha, este é qu'é o Testas?" – "Aquele conheço eu, é o Fusgas." – E a recepção foi continuando, reencontros para uns, novidade para outros.

Diz o Silva que quem pensa que aquilo é uma cambada de bêbados, desorganizados, que se desengane, porque eventos com um nível daqueles não é para todos. Segundo ele, os "Bagaceiros & Taralhocos" são gente muito elevada, capazes de conversar, nas calmas, a respeito de seja o que for, alguns até desordeiros, mas sempre pacíficos. Gente culta que nada tem que ver com as aparências de quem está atrás dum balcão a aviar copos de tintol.

Um aspecto interessante que eu nem sabia é que há tantas ou mais Tasqueiras e Taberneiras como os seu similares masculinos, ou, se calhar, até bem mais. E grossas, diz o Silva... Barulhentas, bem dispostas e prontas para a curte.

O Silva estava deleitado, ele diz que não há gente como os "Bagaceiros & Taralhocos" em mais parte alguma. Aquele pessoal tem atravessado os séculos com todas as adversidades dos tempos modernos, onde as inspecções às comidas e bebidas cada vez estão mais apertadas, onde as tascas e tabernas já não são bem vistas, onde o cliente quer pagar menos por melhor pinga, onde o estado lhes chupa o tutano sem dó nem piedade e eles, de manhã à noite, labutam nas suas tascas e quando os clientes saem às 2 da manhã, ainda ficam a lavar o chão e a arrumar as mesas.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

A Tasca e o "Toque" !

Ao entrarmos portas adentro, deparamo-nos com um espaço deveras sui generis.

Paira no ar um aroma místico, onde se nota a mistura de odor a fritos por um lado e doçaria conventual por outro. Quem espera encarar com o vulgar cheiro a vinho a martelo e chouriça fumada, tão típico de muitas tabernas, engane-se em definitivo.

O espaço está bem recheado, quer de mesas quer de clientes.

A um canto joga-se a Loba, e noutro quatro amigos disputam fervorosamente uma “bisca lambida”. Dizem que estes quatro são frequentadores assíduos da Tasca, e a mesa “está sempre reservada”! Contudo estranhamente passam as horas a tomar notas em blocos de folhas quadriculadas, encimadas por um desenho estranho, semelhante a uma “esfera armilar amarela” rodeada de “estrelas amarelas”, e que, sempre que alguém deles se aproxima, se apressam a guardar os blocos numas estranhas pastas azuis com fecho de velcro!

Sempre a rondar por entre as mesas, e numa azáfama estonteante, serve-as uma roliça e buliçosa moçoila, de avental bem asseado, com as letras PM bordadas em ponto de cruz, a quem alguns chamam de Cátia Vanessa.

Do lado de dentro do balcão, os Tasqueiros vão-se revezando. Sempre em trio, enquanto um atende à “esquerda”, um outro despacha “à direita”, e o terceiro, “ao centro”, controla o movimento ! De portes altivos e cabelos grisalhos, onde a brilhantina que empasta as fartas cabeleiras contrasta com as duras barbas mal “escanhoadas”, ei-los sempre presentes, intercalando uma “vai uma Mini e uns Caracoizinhos Doutor?”, com uma outra “mexe-me essas coxas Vanessa ! Olha-me a Salada de Polvo para a mesa 3!”

De vez em quando, lá na sombra, aparece um outro tasqueiro, deveras reservado, homem de poucas falas, bem rechonchudo mas de avental sebento (já não deve ver a água desde as cheias de 1964), também com umas iniciais bordadas a ponto de cruz mas já muito imperceptíveis ! Dizem que serve uns “copos de 3” bem servidos! Outros retorquem que as canecas de Maduro Branco tiradas por ele ou estão meias cheias ou meias vazias! Por vezes lá expele uns “silenciosos” arrotos de “postas de pescada”. Enfim ... opiniões!

Às sextas feiras, dia preferido da Cátia Vanessa, há música ao vivo. Prudêncio Gaspar, de “Balalaica” na mão, delicia os presentes, e também os ausentes, com acordes de Sonho. Suspiram os corações e satisfazem-se muitos estômagos!

Mas ao comum dos mortais que nesta Tasca entre, e perante a excelsa organização, coloca-se-lhe sempre uma questão: esta Tasca estará nos “Pequenos Retalhistas”, no “Simplificado” ou no “Regime de Isenção”? E quem será o “Mangas de Alpaca” responsável pela “Escrituração”?

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Maionese... para a Sapateira

A verdadeira "Sapateira Recheada à Silva" exige a verdadeira maionese caseira.
Cá fica a receita

(e alguém sabe como se faz uma sapateira?)

Ingredientes:
1 gema
1 colher de chá de mostarda
1,5 colheres de sopa de vinagre ou de sumo de limão
sal
pimenta
1,5 a 2 dl de azeite ou de óleo

Confecção: Coloque todos os ingredientes sobre a pedra da mesa de trabalho 20 minutos antes de começar a preparar a maionese. Deste modo todos ficarão à mesma temperatura. Deite a gema numa tigela e junte a mostarda, 1 colher de sopa de vinagre ou de sumo de limão, sal e pimenta. Misture e deixe repousar 5 minutos. Em seguida, adicione o azeite ou o óleo, batendo com uma vara de arames. Comece por juntar o azeite, gota a gota, aumentando a quantidade progressivamente. Junte o resto do vinagre ou de sumo de limão e rectifique os temperos.

Truque: Respeitando o repouso de 5 minutos antes de adicionar a gordura, não é natural que a maionese talhe. Se, contudo, tal acontecer, deite uma colher de sopa de água a ferver numa tigela e junte a maionese talhada em pequenas porções, batendo entre cada adição. Não junte a maionese talhada sem que a porção que adicionou anteriormente esteja impecavelmente ligada. Para poder conservar a maionese no frigorífico durante 2 dias sem talhar, regue-a com 1 colher de água a ferver assim que acabar de a preparar e mexa energicamente.

Teresa

Teresinha é bibliotecária… simples, modesta, muito tímida… Muito, muito tímida, sempre que alguém lhe diz bom dia envergonha-se, atrapalha-se e murmura um “Assim que nascemos, choramos por nos vermos neste imenso palco de loucos”, não percebe porque recitou William Shakespeare, e cora, volta a atrapalhar-se e foge a chorar... Anda sempre com livros de poesia num braçado, e uma agenda cor de rosa com muitos corações… É uma romântica e sonha com Calvin e com Trolha e com o resto dos homens da tasca, menos Guizos, que lhe mete uma náusea do caraças, confessa-me que o homem lhe mete arrepios quando coça os tintins pelos bolsos das calças…


Vou mazé esconder a Playboy

Sapateira recheada à Silva

Ingredientes
1 Sapateira fêmea, média (o Silva sabe escolhê-las)
1 Ovo cozido
Sal
Maionese
Mostarda
Ketchup
Cerveja
Brandy ou Cognaque
Pickles
Pão Ralado (se necessário)

Modo de preparação
1-Virar a Sapateira de pernas para o ar, levantar a tampinha protectora do sexo da bichana e largar, para os 2 buraquinhos que lá estão, umas gotas de vinagre. Isto serve para a matar porque se a cozemos viva, ela vai espernear e babar-se toda.

2-Esperar que a sapateira morra (nota-se quando já não se mexe e as pernas ficam relaxadas), colocá-la numa panela, cobrir com água e temperar com sal, a gosto. O Silva bota mesmo bué de sal. Quando a água começar a ferver, deixar cozer durante dez minutos. Escorrer a água da panela e esperar que arrefeça, caso contrário, ela morde.

3-Desmontar a bicha dentro duma travessa, para aparar a água que ficou dentro dela. Começa-se pelas pernas e no fim, separa-se a carapaça, puxando na parte da frente entre os olhos. Retirar a nhanha toda que está lá dentro, excepto as barbas e a pele transparente que está à volta da carapaça e introduzir num prato de sopa.

4-Com um garfo, esmagar o conteúdo juntamente com o ovo cozido de forma a conseguir-se uma massa consistente. Adicionar um pouco da água que estava dentro dela, para que o recheio fique mais ralo e adicionar a maionese a gosto, uma gota de ketchup e mostarda, um pouquinho de cerveja, brandy e pickles. Tornar a misturar tudo. O Silva aconselha que os ingredientes sejam misturados aos poucos e com cautela, enquanto se vai provando, para que tenhamos um sabor a sapateira e não a outra coisa qualquer. No caso de o recheio ter ficado muito ralo, pode-se engrossar adicionando pão ralado; se ficou muito grosso, adiciona-se água da cozedura.

5-Lavar a casca da sapateira, deixar escorrer e enfiar lá o recheio. Servir numa travessa com as pernas à volta da casca, com pão torrado.

Para beber, um verde gelado vem mesmo a calhar.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Tequila Sunrise

O xarope de romã, também conhecido por grenadine (do francês grenade, romã) já não é o que era. Agora o produto que se encontra nos supermercados é feito à base de outros frutos silvestres, como cassis, framboesas ou groselhas. Paciência, mas também serve...

A grenadine é um dos ingredientes da
Tequila Sunrise, bebida imortalizada pelos Eagles na canção com o mesmo título. Tomem lá só para avivar a memória:



Colocar num copo alto cubos de gelo e deitar por cima uma mistura de 2 doses de tequila e 4 a 6 de sumo de laranja. Finalmente verter de uma só vez 1 dose grenadine. Não se deve beber por uma palha, pois a grenadine vai ao fundo e é muito doce. Não usem sumo empacotado, espremam antes algumas laranjas, pois, além do melhor sabor, o sunrise fica muito mais fotográfico. Os olhos também bebem.

Pedir desculpa....

O acto de “pedir desculpa” será um acto de puro arrependimento? Ou será um “atirar-a-pedra-e-esconder-a-mão”? um “fazer-o-que-se-pretende” fazendo de “conta-que-não-se-queria”...

Tenho andado a pensar nisto!

Fico admirada com a facilidade com que certas pessoas pedem desculpa e logo de seguida repetem a façanha que originou tal pedido.

Pedir desculpa pode ser uma nobre demonstração de arrependimento e de tentar minimizar os efeitos negativos da acção que o originou. Mas minimizar que efeitos? Os efeitos na pessoa lesada ou os efeitos na pessoa que lesou?

Todos nós nos fartamos de ver/ouvir pedidos de desculpa; acho mesmo que se tornou um acto “muito político”.

Diz-se o que se pretende, faz-se o que se quer... depois é só pedir desculpas e tudo fica apaziguado! Fica a “brilhar” na praça pública... acto muito honrado, nobre, admirável... Pois... mas entretanto a ofensa foi proferida, a “bolachada” foi dada, o dano foi efectivado.

E quem tem coragem de dizer que não desculpa? Assumir publicamente que não se aceitam as desculpas é passar para o papel de “mau-da-fita” invertendo os papéis.

Então é mais fácil aceitar as “desculpas” e ficar de pé-atrás... enquanto os apoiantes do “agressor” usam o Pedido-de-Desculpa como bandeira... símbolo da dignidade e da honra de quem pediu desculpas. Com um acréscimo... se alguém voltar a levantar o assunto ele é logo arrumado: “...mas já foram pedidas desculpas...”. Como se isso tivesse apagado por completo toda a questão ou tivesse esclarecido tudo e todos!

Peço desculpa se ofendo alguém....

Óh Silva... serve aí mais um absinto!

A porca da política!

Nos últimos tempos tenho recordado amiudadas vezes o Ti Zé do Canto, homem de forte carácter, inteligência rara, perspicácia ímpar, sede e fonte de conhecimentos sem medida.

O saber ouvir, o saber falar e o saber estar, aliados ao seu jeito de homem sem medos, predicados tais que fizeram dele um símbolo e uma referência de coragem, respeito, determinação e sapiência. Não tinha cursos universitários, mas ouvi-lo e partilhar dois dedos de conversa com ele, era um privilégio.

As artes, as letras, a música, a sociedade e a política eram, para o Ti Zé do Canto, assuntos enxergados com largos horizontes, sem medos nem tabus. A leitura dos seus escritos, poesia ou prosa, é marcante e absorvente. As suas marchas populares ainda hoje são lembradas e trauteadas, com saudade, pelos mais velhos.

São também recordadas, e fizeram história cá pela freguesia e concelho, as suas intervenções perante os políticos da época, directas, frontais, tête à tête, que deixavam todos os que o ouviam a tremer, pois em tempos que ninguém podia sequer abrir a boca - "alguém" podia ouvir - ele, ia em frente, sem vacilar nem tremedouras, fosse perante o simples secretário camarário fosse perante o próprio ministro que por ali passasse (e não perdia uma oportunidade!), em vez dos aplausos encomendados e ensaiados, erguia-se apoiado nas suas muletas e, em voz clara que irradiava respeito e convicções, questionava os porquês, exigia respostas!

Incomodava o poder, incomodava os eterna e obrigatoriamente aplaudidos porque, sabia o que dizia - era incontestável -, como dizia - irrepreensível no trato -, quando dizia - no exacto momento - de tal modo que, quando soava a sua voz forte, segura, de muita boa dicção, nada mais se ouvia! Nem pio em redor!

A razão da sua luta, quando até ouvir era proibido, era a comunidade, a sua terra, os seus vizinhos. Não fosse ele grande deficiente motor e certamente os calabouços da PIDE/DGS teriam tido mais um hóspede assíduo.

Recordado porquê?
Tenho-me lembrado, muito especialmente, de uma das muitas visitas que ele fazia cá pela Tasca do Silva, estava ele sentado, como sempre, encostado a uma das suas muletas, rodeado por todos os fregueses, qual tertúlia domingueira - naquele tempo não havia bola nem telenovelas na TV - alguns de olhar medroso (não estivesse por ali algum bufo encoberto, ajuntamentos de mais de 2 pessoas eram proibidos e falar de "certas coisas" também o era), outros de olhar fixo, bocas semi-abertas não perdendo uma palavrinha do que o Ti Zé do Canto dizia.

Presenteava-nos ele com mais uma das suas brilhantes conversas, falava, com ímpar clarividência, de factos e coisas recentes que a todos, directa ou indirectamente, tocavam, de injustiças, de oportunistas, do abuso do poder, das necessidades do povo (não, não era comunista, nada disso!), etc., etc., e, no fim, deixou escapar um desabafo, ou exclamação, tão alto que se ouviu em toda a tasca:
A PORCA DA POLÍTICA!
o tom de voz foi tão profundo, de tamanha convicção, de lamento e de desilusão, tão sofrido, que calou cá bem no fundo da alma de cada um dos fregueses, de tal jeito que, ainda hoje, passados muitos anos, ouço de vez em quando aquela voz forte, aquele desabafo de encher a alma e doer o coração:
A PORCA DA POLÍTICA!

PS:
Sim, há coisas que são intemporais!

domingo, 23 de setembro de 2007

A4 = 210 x 297 x 0,1 mm

Todos nós temos necessidade de nos guiarmos por certezas, baseados na compreensão de tudo o que nos rodeia. Para isso usamos as informações que nos chegam através dos nossos sentidos. E depois temos a capacidade de raciocinar. Outras vezes agimos tendo em conta apenas informações parciais mas que não deixam margem para dúvidas na nossa cabeça. Ou então usamos a intuição, essa capacidade que o ser humano tem de formar conhecimento e opinião sem utilizar o raciocínio.

Contudo, a realidade prega-nos partidas com muita frequência. E o que é mais fantástico é que os mistérios e os absurdos que enganam a nossa mente ou fogem à nossa compreensão podem esconder-se em coisas tão insignificantes como folhas de papel A4 completamente em branco.

Uma folha de papel A4 de 80 g/m2 tem de espessura cerca de 0,1 milímetros. Coloquemos uma destas folhas no chão, subamos para cima dela e saltemos para fora. O salto é, obviamente, de apenas um décimo de milímetro de altura, nada que dê risco para se partir uma perna. Se colocarmos agora uma segunda folha em cima da primeira, nada de novo parece acontecer. O aumento de altura é ridículo e o salto far-se-á sem qualquer risco ou dificuldade.

Pensemos agora que idêntica coisa acontece sempre que adicionamos ao monte mais uma folha. A diferença de altura em relação à anterior é sempre irrelevante. Poderíamos, portanto, concluir que, por mais folhas que se coloquem na pilha, o salto em qualquer momento será sempre fácil e sem consequências, pois com menos uma folha era isso mesmo que acontecia. Sabemos que não é verdade. Mil folhas terão de altura apenas 10 centímetros, mas cem mil folhas totalizarão 10 metros, o que já é altura que baste para para fazer mossa visível. E por aí fora...

Esta é a lei da união das pequenas coisas. Uma gota de água é inofensiva, mas muitas gotas de água juntas podem fazer uma catástrofe. O que escapa à nossa compreensão é que é impossível determinar a partir de que folha ou de que gota o conjunto se torna fatal. Por esse motivo, porque nos parece que "só mais uma" não traz nada de novo, é que insistimos tantas vezes em adiar, em não evitar, em condescender que certas coisas ocorram e o resultado acaba por ser desastroso.

Retomemos a folha A4 inicial com 0,1 milímetros. Imagine que a dobramos ao meio. A folha dobrada passará a ter a espessura de 0,2 milímetros. Imagine agora que dobramos a folha ao meio sucessivas vezes. A folha dobrada ficará cada vez mais pequena e mais grossa. Suponha que a folha é dobrada 16 vezes. De forma intuitiva, sem fazer qualquer conta, quanto acha que poderá medir em espessura a folha assim dobrada? Pense mesmo num número, pois só assim poderá avaliar a sua capacidade para intuir certos fenómenos.

Façamos agora a conta, valores em milímetros:

1.ª dobra = 0,2; 2.ª dobra = 0,4; 3.ª dobra = 0,8;
4.ª dobra = 1,6; 5.ª dobra = 3,2; 6.ª dobra = 6,4;
7.ª dobra = 12,8; 8.ª dobra = 25,6; 9.ª dobra = 51,2;
10.ª dobra = 102,4; 11.ª dobra = 204,8; 12.ª dobra = 409,6;
13.ª dobra = 819,2; 14.ª dobra = 1638,4; 15.ª dobra = 3276,8;
16.ª dobra = 6553,6

A espessura da folha teria 6,5 metros de altura. Se lhe parece muito, confira os cálculos e veja que não há erro. Ou pense no efeito de mais uma dobra. Ela duplicaria a espessura, uma vez mais, pelo que o efeito dessa décima sétima dobra seria colocar a espessura em 13 metros.

Parece ser uma forma fácil de subir ao quinto andar de um prédio pelo lado de fora, numa situação de urgência. Basta ir dobrando uma folha de papel e ir subindo para cima de cada dobra. Na realidade, esta experiência não poder ser realizada, pois o máximo que se conseguirá dobrar uma folha A4 serão sete vezes e ficaremos a pouco mais de um centímetro do chão.

Estes dois exemplos mostram como a nossa mente nem sempre consegue compreender uma parte da realidade ou como a nossa percepção das coisas nem sempre é próxima do real. Para a próxima, não seja tão categórico nas suas apreciações. Dê uma hipótese ao invisível e outra ao absurdo. Vai ver que passará a errar menos vezes.

sábado, 22 de setembro de 2007

Caldeirada

Antes de mais, as minhas desculpas ao Silva pela minha fraca produtividade aqui na Tasca, desculpas essas extensíveis aos colegas tasqueiros (menos uma) e a toda a nossa digníssima clientela.

Quando ia a entrar aqui no estabelecimento, não pude deixar de reparar na tabuleta colocada à entrada. Jesus, aquilo só pode ter sido escrito por essa linguaruda que é a Patrícia Micaela (PM), nome tipicamente português. Confesso que ainda não percebi muito bem como é que tal personagem foi admitida neste estabelecimento, que se pretendia digno e de sã convivência. Bem, se calhar até percebo, basta ver que ela é filha do Quim das Toiras, Presidente da junta aqui do burgo. Como a rapariga já vai a caminho dos trinta e ninguém se chega à frente para ficar com aquela rica prenda, o Quim lá pensou “ora bem, se a rapariga trabalhar ali na Tasca do Silva - o qual me deve uns favores - pode ser que alguém a leve, de preferência um daqueles camionistas de transportes internacionais que necessite de companhia pràs viagens, a ver se a miúda desatranca lá de casa, que eu já não tenho pachorra para a aturar”. Coitado do Quim (e de nós), desconfio que tão cedo não vai ter essa sorte, dado o tamanho da língua da filha, as suas linhas arredondadas que estão na fronteira entre uma bola de râguebi e uma de futebol (mais a fugir para esta última), o seu aspecto desajeitado, já para não falar em questões de higiene, nomeadamente aquele seu ar seboso e aquele avental sempre todo badalhoco, que mais parece uma pintura abstracta de um pintor em inicio de carreira. Rezemos para que um dia apareça aqui no estabelecimento um daqueles camionistas não menos sebosos que a dita cuja, aqueles indivíduos cabeludos e barbudos, de “unhaca” alongada para fins higiénicos, com uma tatuagem no braço alusiva ao seu amor pela Mãe e com as calças descaídas a ver-se a “regueira”. Em suma, um daqueles indivíduos que tanto arrotam por cima como por baixo, num total despudor.

Bem, reconheço que aquela tabuleta também teve efeitos positivos na minha pessoa, pois pôs-me a pensar na temática da caldeirada, prato muito apreciado cá no nosso rectângulo à beira mar plantado. Ele há a caldeirada de borrego, a de cabrito, entre outros animais, sendo no entanto a mais famosa a caldeirada de peixe.

Debrucei-me então nesse rico prato de peixe, no qual se podem juntar, de uma forma harmoniosa, belos peixes, nomeadamente o tamboril, o robalo, o salmonete, a sardinha, a raia, o ruivo e até o carapau, entre outros.


Há no entanto um peixe que não encaixa num prato daqueles, no qual, como já disse, impera a harmonia. Perguntarão vocês que raio de peixe será esse??? – Eu respondo: O tubarão! - Sim o tubarão, verdadeiro predador dos oceanos, nunca poderá ficar bem ao lado de outros peixes de dimensões substancialmente mais pequenas. Se não vejamos este exemplo:

O que acham que o TUBARÃO estará a pensar ao cumprimentar o CARAPAU??? – Eu digo-vos o que vai no pensamento do peixe que se julga o maior desse oceanário em ponto gigante, que é o mundo de hoje: “Este gajo é mesmo artolas. Um dia destes abocanho-te e tu nem dás por isso!”

Mas, meus amigos, o mal deste mundo não está propriamente nos tubarões. Digamos que está mais no peixe miúdo com aspirações a ser graúdo, nem que para isso tenha de se subjugar àqueles que mais não querem senão comê-los!

É pá, com isto tudo, quase me esquecia de mencionar outros dois peixes, com os quais nós aqui na Tasca fazemos autênticas iguarias e que também são dois sérios aspirantes a aspirante de tubarão. Quem são eles, quem são?????

Minhas Senhoras e meus Senhores, é com muita honra que lhes apresento ……(rufos de tambor) …., o JAQUINZINHO e a ENGUIA:

Bem, agora, se me dão licença, tenho de ir andando, uma vez que a histérica da minha mulher está a chamar por mim para a punheta... de BACALHAU (esse sim, o verdadeiro petisco).

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Ei-los que partem ...

Em véspera de Encontro Nacional, a RT (Reportagem Tasca) deslocou-se à estação de S. Bento no Porto, onde, como se pode constatar, a multidão se acotovela, em filas intermináveis, com vista a serem os primeiros, não a entrar no IKEA, mas no comboio para Coimbra. Resta desejar aos participantes votos de um dia Bem Passado, Bem Comido e Bem Regado. E... Ei-los que partem !


Ei-los que partem
novos e velhos
buscando a sorte
noutras paragens
noutras aragens
entre outros povos
ei-los que partem
velhos e novos

Ei-los que partem
de olhos molhados
coração triste
e a saca às costas
esperança em riste
sonhos dourados
ei-los que partem
de olhos molhados

Virão um dia
ricos ou não
contando histórias
de lá de longe
onde o suor
se fez em pão
virão um dia
ou não

Manuel Freire

Mafaldinha

Mafalda é uma… Sardinha!!??!!, não... não é peixe… é pequena e rechonchuda, é a autêntica portuguesa. Possuidora de uma cara de boneca de porcelana, é a mulher mais bonita que já vi até hoje e gosto de a ouvir falar... Ah... e é Peixeira!! É habitué na tasca desde que seu namorado Chico se mudou para Cascais com os pais, senhores de bem e de muitas posses, é um autêntico menino da mamã, e mete-me um nojo do carago quando olha para os copos da tasca quando vem chamar Mafalda. Ela trabalha na Ribeira e recorda todos os dias o Bolhão com uma lágrima no canto do olho, bebe o seu café com cheirinho, ou melhor despeja o café no copo do bagaço, e fala-me da Odília, Adosinda, outras companheiras de língua afiada, relembra os beijos besuntados que deu em Paulo Portas, e do fiscal que a safava sempre das multas, os "filhos da puta" e os "cabrões" dos caloteiros… Sempre que Calvin entra na tasca ela emite um som parecido com um “lá vem o lambe cus”. Irrita-lhe os olhares galãs que ele lhe lança com um bom dia educado!! Bebe o copo de um trago e deseja com um sorriso rasgado, o resto de um bom dia para os frequentadores, amanda-me uma piscadela com um “boa sorte e até logo”… e quando sai pela porta começam os comentários ridículos sobre o redondo traseiro de Mafalda e de como ela deve ser BOAAAAAAAAAA ...dona de casa!!! Grunho um “café de respeito… café de respeito”, mas sem efeito… Enfim!

Vou mazé acabar de fritar os pasteis

Uma mulher de armas !

A Maria "Paradela" era uma mulher de armas! À sua volta tudo bulia!

O marido, mestre, muito requisitado, na arte de trabalhar o xisto, trabalhava à jorna (geira) na profissão de pedreiro. Passaram-lhe pelas mãos muitas pedras daquelas velhinhas casas que hoje vemos lá na aldeia e nas outras em redor.

A ausência do marido obrigava a que Maria "Paradela" ("Paradela" porque veio da aldeia com esse nome quando o Chico com ela se casou e com tantas "marias" na terra...) fosse o "homem" da casa. Sete filhos, 4 rapazes e 3 raparigas. A lavoura, os bois... era preciso fazer girar tudo! E não era fácil "dobrar" aquela rapaziada "turbulenta"! A vida era dura, não havia baldas para ninguém!
Bastava sentirem, ou só pressentirem, os passos da Maria "Paradela" para tudo girar!
Ainda o nascer do sol vinha longe já a Maria "Paradela" fazia soar a alvorada lá em casa.
Mas se a hora de levantar era cedeira, a do recolher também o tinha de ser.

Armando, rapaz alto, robusto, físico de atleta, um tanto "desastrado", era a generosidade-força em pessoa, estaria aí pelos 18 a 20 anos, dos rapazes era o mais novo.
São recordadas as vezes em que o Armando se zangava com os bois e com olhar penetrante, os olhava fixamente nos olhos, agarrava-os firmemente pelos cornos e, testa com testa, berrava-lhe com aquela voz grossa e firme capaz de fazer tremer as pedras: "O meu filho da p..... olha que aqui quem manda sou eu, ouviste?"!!

Numa noite, estava o Armando na Tasca do Silva, um temporal do caraças, chovia que Deus a dava, há mais de uma hora que queria ir para casa, a hora do recolher já lá ia e a mãe não tolerava atrasos, não seria até de estranhar se de um momento para o outro ela aparecesse à sua procura, e isso não convinha mesmo nada!
Mas o raio da chuva não havia meio de parar e a ninguém apetecia sair com uma "zurbada" daquelas!

Será que esta chuva está para parar?, questionavam-se ansiosos os presentes.
"Ó Armando, chega aí à porta a ver se pára", sugere um dos fregueses.
O Armando, já inquieto também e morto para se ir embora, foi à porta, olhou para o negro do céu de onde caía como caleiras, e porque cada vez chovia mais, exclamou lá para fora:
"E a paradela está boa" !
"AH meu malandro que a paradela dou-ta eu !!! Soou uma voz feminina autoritária!
Qual oficial a reunir tropas! Era a mãe, a Maria "Paradela" que, no escuro da noite, sem chuva que a parasse, ali vinha ela à sua procura...!

Grande mulher!

Assim sendo, bora lá ao fadinho

Quanto à sugestão dos fadinhos, eu estou de acordo. Ao sábado à noite, podia-se variar com este tipo de espectáculo. Ali o Zé Caguetas até que lhe dá na guitarra portuguesa, o Chico Laró na guitarra clássica e castiços a dar uma goela é que não faltam cá no Bairro.
Quem tem dúvidas, ouçam bem o Perninhas de Alicate a esticar o pescoço e o sobrolho, ali agarrado ao cigarrinho e ao copo de 3, carago, até parece o Marceneiro.

Por falar nisso, ontem apareceu aqui o Quinas, que andava emigrado lá pós lados do Linhó depois de ter sido transferido de Pinheiro da Cruz, por tentativa de suborno a um guarda. Consta-se que andava no contrabando. Outros dizem que ele tinha uma casa de alterne, cheinha de pito de qualidade, de Leste. A verdade é que ele desmente, alegando que o único crime que cometeu foi falsificar o próprio registo criminal.
Seja como for, o Quinas era o Rei dos Castiços e por 3 vezes ganhou o concurso de fado ali do Clube Recreativo do Bairro das Marianas.

Ali no canto, à entrada, botava-se um estrado no chão, coisa pequena, e era suficiente para uma boa noite de fazer chorar as pedras da calçada. Mas ó Silva, não venhas com coisas muito elaboradas porque, para tal evento, o cardápio tem que ser curto, é assim mais umas iscas, umas sandes de coiratos e torresmos, uns caracóis o belo do tintol e está a andar de mota.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Ainda as Tascas...

Andava eu na escola primária, a escola típica daquele tempo...

Funcionou no piso térreo de uma casa (que em tempos fora o alojamento de uma vaquinha) e no Inverno era tão frio que era necessário acender o fogareiro; mas como não havia fogareiro, uma alma caridosa arranjou uma grande lata de tinta, daquelas de chapa, e a “setora” lá conseguiu acender a fogueirinha para nos aquecer... só que a fogueira queimou a lenha e a tinta seca que ainda restava na lata... lá tivemos que fugir todos antes que alguém ficasse intoxicado!!

As condições eram tão miseráveis que fomos obrigados a mudar de escola... mudámos para um “palácio”... sim aquela garagem, no rés-do-chão da vivenda, era um palácio para quem esteve na outra escola. Lá as coisas eram muito melhores... já tínhamos um aquecedor a óleo (que só ficava quente no fim do dia) e uma casa de banho (sim, uma sanita e um lavatório já eram uma casa-de-banho! Que luxo!).

Esta escola era tão boa e espaçosa, um único aposento (para além da casa de banho) onde funcionavam 2 classes ao mesmo tempo, e com uma “setora” apenas... que bom era estar na 2ª classe e poder assistir à 3ª classe também... a dada altura acho que gostava mais das aulas da 3ª do que da minha!!!

Mas olhem que era mesmo espaçosa, e como não havia espaço exterior para recreio, o intervalo era passado lá dentro na brincadeira...

E era precisamente no intervalo que a “setora” requisitava os nossos préstimos... ir à Tasca lá do sítio para comprar um “pão com marmelada” para a o seu lanche. Íamos sempre em grupos de 3 ou 4... todas contentes!

Lá chegadas, a Ti Maria que já sabia o que queríamos, deixava o seu filhote de 2 anos, nuzinho como veio ao mundo, sentado no balcão, mesmo em cima do papel grosso e cinzento que ela usava para embrulhar tudo. E lá preparava o pão para a “setora”... bem recheado de marmelada, usando a mesma faca que partia o bacalhau às postas, ou cortava as barras de sabão azul. E lá vinha ela com o pão na mão... tirava o pimpolho do papel e lá colocava o pão para embrulhar. Bem embrulhadinho!! Pagávamos com as 5 coroas da “setora” recebíamos o troco e regressávamos à escola...

Isto é que eram TASCAS (não me refiro à escola!!)

Faduncho



Tasca que se preze tem o seu momento de fado. Ora baixem as luzes, fáxavor. (Clicar no "play" lá em baixo)
Meu Triste, Triste Amor
(Ana Moura)






Meu triste, triste amor
Das noites inocentes
Que o amor ao possuir-me
Inocentiza-me o ser

Por sobre a minha pele
As tuas mãos reluzentes
Afadigam-se no corpo
P'ra melhor o conhecer

Meu triste, triste amor
De anseios prematuros
De ventos circundantes
Incentivados por nós

O amor se faz ouvir
Por entre beijos seguros
Num sussurro insolente
Que não nos chega a ser voz

Meu triste, triste amor
De inuzitada memória
De incontadas promessas
Em tímido pudor

Somente a nossa voz
Poderá contar a história
Do quanto nos amámos
Meu triste, triste amor

Calvin

Calvin realmente é um fulano dúbio e enigmático, sempre que entra na tasca dá-me um arrepio na espinha, não por ter um porte altivo e musculado, …nãoooo, mas sim porque anda sempre de escuro… de preto… negro como carvão… vive sozinho sem dúvida alguma, e a roupa... essa... não a deve lavar, logo o escuro tem uma razão de ser... já por várias vezes me deparei com ele a olhar de esguelha para a Mafaldinha, a única cliente com quem consigo manter uma conversa sem ser strip ou minis geladas, com um sorriso matreiro de quem não come nem deixa comer... pensa que é um galã... deve ter as suas manias... taras... que não desejo conhecer!!??!!, que eu sou de bem, não dou conversa a homens musculadosss... e... enigmáticosss... e... bem parecidossss. NÃO... eu sou de bem... (rrrauf!), e ontem não me admira nada que tenha ido todo o caminho a cheirar a cuequinha da Luisinha, o caminho todo... é... não me admira nada... tem umas piadas idiotas e sem graça, sempre que conta uma o granel é aparatoso... risos com tossidelas e escarradelas, a mistura cria um ambiente de tasca que desesperadamente tento dissimular astutamente com um “café de respeito… café de respeito”... cambada de biltres...

Vou mazé virar os couratos

A Tasca e o Arroz de Pica-no-chão

O melhor Arroz de Cabidela (Pica-no-chão, como se diz para estes lados) que já comi (excluindo aquele que a minha mãezinha prepara, obviamente!) foi precisamente numa TASCA...

Uma tasca à séria, daquelas em que o “Ti Antone” serve um kilo de açucar à “Ti Maria” e depois um pastel de bacalhau, a acompanhar uma caneca de tinto, ao “Se Zacarias”...

Uma tasca em que as canecas ou as malgas mostram bem as tonalidades deixadas pelos litros de tintol já servido ao longo dos anos, cheias de lascas, daquelas que nos permitem saber qual é a “nossa” caneca... mas é nessas canecas que o tinto sabe melhor.

Uma tasca que hoje em dia seria considerada ecológica ou “biológica”, pois lava a louça só com água, sem detergentes ou outros químicos; onde não se usam insecticidas pois as moscas ainda são apanhadas pelas fitas com cola, que pendem do tecto para deleite dos nossos olhos, (serão estalactites?). Uma tasca que ainda tem serrim ou serradura a cobrir o chão...

Lá entramos, e somos guiados pelo “Ti Antone”, pelo meio do labirinto de garrafões, caixas emlotadas, sacos empilhados... chegados à sala lá nos instalamos...

Uma mesa central, rodeada de velhas estantes, carregadas de Renova, Colhogar, Evax, Fula, Galo, Ajax, CIF... um colorido que nos aconchegava.

Para começar lá vieram os pastéis de bacalhau, as azeitonas, a “broa da aldeia”... as canecas, as malgas e o tintol... e a conversa animava cada vez mais!

Era um grupo grande, bem animado, que ficou em alvoroço quando a esposa do “Ti Antone” lá traz o “Pica-no-Chão” fumegante... era um aroma divinal...

Num ápice tudo foi devorado, nem a cabeça do “pica-no-chão” escapou, foi o Zé que lhe afinfou... com que deleite fincou os dentes na crista do bicho, e que crista, e como saboreou os “brincos”...;
as patas, cujos esporões exigiam cuidados, foram apanhadas pelo Narciso;
e o pescoço foi maravilhosamente sugado pelos beiços do Sebastião.

O repasto foi saboreado até altas horas...

É com saudade que recordo esse jantar e essa tasca... Seria a TASCA DO SILVA?

A cueca da Cinderela

Ontem foi um dia especial na Tasca.
Para ser mais correcto, foi uma noite especial. Depois de muita insistência da PM, lá acedemos a substituir a música ao vivo por um show de strip masculino e por acaso até tivemos um sala muito composta. Os elementos masculinos da Tasca sempre ao balcão e a PM deambulando pelas mesas, só interrompendo o seu caminho para, numa velocidade próxima de um TGV desgovernado correr para o striper cada vez que este perguntava “Quem me segura aqui?” ...., (na peça de vestuário, claro!).

A Luisa Sardinheira, que era das mais fogosas a aplaudir o striper foi mesmo sentar-se ao colo deste, quando foi pedida uma voluntária. Nunca pensámos que uma senhora incapaz de dizer uma asneira tivesse esse atrevimento mas o mais curioso foi que mais tarde, durante a arrumação da tasca, depois de todos saírem encontrámos uma peça íntima feminina por debaixo da mesa em que a Luisa se sentou. Um cliente frequente que por acaso fica sempre para um último copo, (tem uma alcunha gira.... Calvin) ofereceu-se generosamente para ir devolver o “artigo” à proprietária, que esta manhã veio agradecer e comentou:
- Que romântico, o vosso amigo... ele disse que se o príncipe calçou o sapato à Cinderela, a minha formosura não merecia menos e não é que insistiu em vestir-me a cueca?

Brahms - Sonata para piano e violino n.º 1, em Sol maior, op. 78

Toda esta sonata é nostálgica e melancólica, com temas melodicamente muito bonitos. Um clima muito próprio é conseguido com os três andamentos em tempo suave, intimista. Há uma unidade temática que reforça esse clima praticamente constante de toda a obra. Uma partícula inicial (as 3 primeiras notas) do primeiro tema do primeiro andamento é usada como célula inicial do primeiro tema do terceiro. E este terceiro, por sua vez, inclui a meio o tema principal do segundo andamento e termina citando alguns elementos dos andamentos anteriores. A forma em todos os andamentos é clássica, simples e perceptível.

Alguns pontos de especial interesse. No primeiro andamento, o segundo tema, muito belo (a partir de 1'30); o pizzicato do violino sobre o primeiro tema no piano (cerca de 3'45). No segundo andamento, a serenidade do tema principal no violino em cordas duplas (cerca de 4'15 e 7'15), a "suspensão" dos instrumentos numa indefinição indescritível (todo o sexto minuto). No terceiro andamento, outra bela melodia no segundo tema (cerca de 1'30); a já referida utilização do tema do segundo andamento, em tempo um pouco mais vivo (a partir de 4'00), o final que retoma o tema do adágio (a partir de 7'45) e, mesmo antes do final, uma rápida alusão à célula de 3 notas comum ao primeiro andamento (8'30) para reforçar o clima único de toda a peça.











Versão usada nos tempos do texto:
Pinchas Zuckerman (vl), Daniel Barenboim (pn)
Deutsche Grammophon, 1975
Tempo dos 3 andamentos: 11'12; 8'17; 9'00

Versão usada nos excertos musicais:
Augustin Dumay (vl), Maria João Pires (pn)
Deutsche Grammophon, 1992
Tempo dos 3 andamentos: 10'59; 8'41; 9'12

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O Tonho "Rosa"

Muitos eram os “Antónios” lá da aldeia! As Marias, se calhar, não eram menos!

Uns e outros eram conhecidos não pelos apelidos próprios mas sim pela extensão do nome do cônjuge ao seu próprio nome. Então, quanto a Antónios, tínhamos o Tonho “Bernardete”, o Tonho “Heleno”, o Tonho “Carmelino”, o Tonho “Rosa”, o Tonho “Belo”, o Tonho “da Adriana”, etc. etc.

Tonho “Rosa” era homem magro, com pouco mais de 1,50m, seco de carnes, tez tostada pelo trabalho árduo do campo durante toda uma vida. Já teria ultrapassado os 50 anos. Homem de paz e boas vontades, por isso não é de estranhar que as Senhoras do grande feudo da aldeia, D. Flora e D. Isménia, lá do seu “inexpugnável” palacete Século XVIII, o chamassem amiudadas vezes para vários “recados” do quotidiano.

Nesse dia, vinha o Tonho “Rosa” de mais uma tarefa de que as Senhoras o haviam incumbido: Ir à estação buscar uma encomenda que chegou no comboio desse dia. Mais ou menos uma légua de caminho. Cansado pelo peso da “tarifa” – mais de uma arroba - e do passo apressado por causa da chuva que já “lhe molhava os ossos” e não se via jeito de parar, com os pés a nadar dentro dos socos de pau bem revestidos de brochas, curvado sob a roupa a pingar água que pesava que se fartava, esbaforido... eis como o Tonho “Rosa” chega a casa das Senhoras.

- Viva Vossa Excelência Sr.a D. Isménia muito boa tarde!, saudou o António depois da porta se abrir.
- Ó António, como é que vens!!! Exclamou a D. Isménia condoída.
- Saiba V. Exa. que o comboio veio “atrasiado”! Justificou-se o Tonho pela demora.
- Ó António, entra, entra!
- Não Senhora, não senhora. Não é preciso...
- Entra homem, que estás todo molhado, ENTRA...! Ordena a boa D. Isménia.
- Muito obrigado a V. Exa. mas não é preciso, tem aqui a sua encomendinha!
- Anda, homem, ENTRA, vem aquecer-te um pouco à lareira, não sejas bruto, sai-me dessa chuva!
- Muito agradecido, mas não vale pena, muito obrigado a V. Exa.
- Ó seu grandessíssimo BURRO.... ENTRA que ainda apanhas uma pneumonia...
- Então com sua licença.

Às vezes só mesmo quando nos tratam pelo nome!

Dia de CARAS

Estou farta da leitura badalhoca que deixam na tasca… A BOLA, O CRIME, A PLAYBOY, O POC… uma leitura cor de rosa ficava bem… A CARAS… sempre com capas de gente gira, escultural e rica, ou que se fazem, as festas e festas, os amores, os sonhos... e como quem vê caras não vê corações, como diz a minha adorada mãe, que apesar dos seus 63 anos ainda é de uma doce inocência… “sim mãe… não vê corações, estômagos, vísceras e afins”…, decidi esfolhar as entranhas da mágica revista, cujo Rosto não me seduziu.

"Pinto da Costa confirma casamento com Filomena”... mas… Filomena não era a ex-mulher??? Aquela que ele (com 50 anos), conheceu (tinha ela 24), uma nova secretária que chegara ao clube... Diz ela então na cor de rosa... “Além do amor, há entre nós carinho, compreensão, respeito, admiração” calma… CALMA... mas ESTA é a mesma mulher que em Julho de 2003 apresentou queixa devido a “uma valente estalada”?????? AQUELA que foi trocada pela famosa bailarina clássica, a não menos polémica Carolina Salgado??? E esta A que desconfiava que… “Desde Dezembro que ele andava diferente, eu sabia que ele me andava a trair. Desligava o telemóvel, eu não o conseguia contactar... Sei que reatou com a Maria Elisa.” ??????? Ok… my GOD... agora fiquei confusa... o homem deve ser uma máquina de cariz, ia dizer sexual, mas prefiro dizer financeiro, é que ele deve ter um arcaboiço bem robusto para aguentar tanto mulherio (tradução: uma carteira bem recheada)… e essas…admiro-lhes a coragem de tolerar uma pessoa que além de ter aspecto horripilante, tem ar de asco… enfim… ao menos o cota aprendeu algo... “ É maravilhoso não falar de futebol em casa, pois permite-me separar a vida profissional da familiar”.

Tiago Monteiro e Diana Pereira vão ser pais, depois do namoro de há quase dois anos e hoje têm uma relação estável e fortes perspectivas de um futuro a dois… ohhhhhhhh... Diana minha querida, prepara-te para inchar e ficares como um balão, coisa que não lhe deve ficar mal pois a miúda não deve comer para não cagar… e para ficar separada quando o bébé nascer…

Em noite de festa no Centro Hípico de Real Clube de Campo D. Carlos I, fonix… Tasca do ti Carlos, demorava menos tempo a dizer, em que 200 convidados prestaram homenagem ao Rei D. Carlos I, sem comentários.., D. Isabel de Bragança que ainda recupera da queda de cavalo desabafa. “Logo que possa, quero voltar a montar.” , claro que queres minha querida... tens ar de quem precisa…

Kate McCann continua a sorrir após 4 meses de desaparecimento da pequena Madeleine, palavras para quê… e Isabel Leal, professora no ISPA, escreve, escreve e fico sem perceber nada.

Mãe… minha querida... tens razão… uma CARAS tão linda e só tem merda lá dentro...
oh Vitinho... passa-me a Playboy que tem a Diana Chaves. Há aí um cupão que quero cortar!!

Vou mazé continuar a ler o informe

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Estudo bio-lógico

Estava eu a deliciar-me com uma portuguesíssima peça de literatura quando, a páginas tantas, o herói beijou os pólipos da sua amada. Após um momento de estranheza, dei por mim a inventariar mentalmente as mais recessas regiões da anatomia feminina, procurando descobrir em que raio de centímetro quadrado teria sido depositado o carinhoso ósculo. Admitida a ignorância, socorri-me desse velho companheiro que tantas vezes me iluminou em transes similares - o dicionário.

Fui à procura do pólipo e fiquei a saber que é a forma que podem apresentar os celenterados e os briozoários, e que se assemelha a um saco cuja abertura está rodeada de tentáculos. Fiquei intrigado. Mas como não sabia o que eram celenterados e briozoários, decidi não formar opinião antes de fazer novas consultas. Assim, começando por atacar os primeiros, concluí que celenterados são animais fitozoários acelômatas, em regra com dois folhetos nas paredes do corpo e portadores de células urticantes.

Eu não sou daquelas pessoas que desistem à primeira, muito menos à segunda. E estava decidido a esclarecer a coisa, pois, além do óbvio aspecto cultural, eu pressentia haver especial interesse prático nesta questão. Fui-me, por isso, aos fitozoários. Que é uma designação que se refere a metazoários de simetria radiada. Aquilo complicava-se.

medusaVirei-me, então, para os metazoários, tendo ficado a saber que este complicado nome serve muito simplesmente para designar os animais que são constituídos por mais do que uma célula. “Sou um metazoário”, tive de concluir, sentindo um inexplicável mal-estar ao nível do estômago.

Um aspecto interessante da nossa vida é que a gente, para aprender uma coisa, acaba sempre por aprender mais meia dúzia delas sem querer. Porém, no que diz respeito ao local do beijo, não havia meio de se fazer luz no meu espírito. Mas, como se sabe, qualquer estudo sério leva o seu tempo e exige paciência.

Atirei-me com esperança redobrada aos acelômatas. Para logo me decepcionar, ao saber que se chamam assim os animais que não têm celoma. Suspirei, resignado, e avancei até ao celoma, tendo ficado esclarecido que se chama assim a cavidade que se forma no meio da mesoderme e que existe na maioria dos metazoários.

O mistério adensava-se. Eu já via bichinhos por todo o lado, com tentáculos asfixiantes e patas peçonhentas, sentindo-me cada vez mais longe dos afectos corporais que estavam na origem da minha curiosidade. Os briozoários eram a minha última esperança. Mas, compulsado de novo o calhamaço, encontrei apenas mais um grupo de animais. Desta vez aquáticos, associados em colónias e da classe dos moluscóides. Polvos, não sei se estão a ver…

Que fazer? Agora que eu tinha chegado tão longe, custava-me desistir. E, após alguma reflexão, decidi-me a voltar ao princípio. Aos pólipos, claro. Reparei então que este vocábulo tinha no dicionário um segundo significado que me escapara na anterior leitura. Pólipo é uma excrescência carnosa que se desenvolve em algumas mucosas, sobretudo as nasais.

Fiquei esclarecido. Mas, porra, que raio de sítio este para se dar um beijo!

Orient’ices

Sempre senti curiosidades orientais, japonesas mais concretamente, a "terra do sol nascente”, dos olhos rasgados (e segundo línguas porcas outras coisas mais)…. A Gastronomia, os desportos, as gentes, a língua… a primeira, é para mim no mínimo dispensável… O café da manhã japonês tradicional, por exemplo, normalmente é constituído de misso shiru (sopa de pasta de soja), arroz e algum legume em conserva. A refeição mais comum O sushi (?, ? ou ?? pronuncia-se suchi, seus incultos) e é um prato de origem desconhecida, constituído à base de arroz temperado com vinagre e açúcar e recheado com peixe, frutos do mar, vegetais, frutas ou ovo... agora entendo o “origem desconhecida”.

O Desporto Sumô é uma luta de competição japonesa, em que dois atletas (os rikishi) competem num ringue circular onde o primeiro a tocar o chão com qualquer parte do corpo excepto os pés ou pisar fora do ringue perde a luta. Também perde a luta se aplicar algum golpe proibido
(desapertar a fralda por exemplo). É escusado dizer que uma bofatada de um praticante desta modalidade parte os ossinhos todos que temos na cara… não vamos sequer ponderar se eles se sentam em cima de nós!!

As Gueixas (
??, Gueixas) ou Gueigi (??, Gueigi) (posso continuar???) são mulheres japonesas que estudam a tradição milenar da arte da sedução, dança e canto, e se caracterizam distintamente pelos trajes e maquilhagem tradicionais. Contrariamente à opinião popular, as gueixas não são o equivalente oriental da Prostituta (ouviram??????). A tradução literal de gueixa para a língua portuguesa será "artista" ou mesmo "entertainer". Não confundir com onsen gueixa, que são prostitutas que se vestem de forma similar (estas sim… as onsen essas).

A língua japonesa é uma língua aglutinante ("
processo de formação de palavras por composição, em que duas ou mais se fundem numa só"…. o Calvin podia não entender) e caracteriza-se por um sistema complexo de construções honoríficas, com formas verbais e vocabulários particulares que variam de acordo com o status relativo entre interlocutores. O repertório de fonemas da língua japonesa é relativamente pequeno, e tem diferenciação léxica baseada em um sistema de pitch accent... Ou seja, sei que Pinto Madeira se escreve… ?? Ishimaru (round stone) ? Ayumi (walk, deeper meaning: walk your own way) e que significa.. pedra redonda que anda à sua própria maneira (sem comentários)

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Enfim..... depois desta pequena viagem à origem do sol, já tenho saudades da bela bifana e copo 3 ao pequeno almoço, da bela espreguiçadela na cadeira, da linguagem porca do trolha, e até da Karina Vanessa que acabou de passar de mini saia… (sua porcavai trabalhar… ok ok... é bem mandada a miúda… escusava era de ter levado a clientela toda da tasca)... Gosto tanto de ser portuguesa e consumir o que é nacional…


vou mazé continuar a jogar game boy e a ver o dragon ball…

Foto da tasca


E cá estamos nós à espera da visita das "altas individualidades" !

Não se ponham é a adivinhar quem é quem porque estes, que não sei quem são, estão à porta à espera de lugar para se sentarem lá dentro ! Eu sou o que estou do lado de cá da câmera fotográfica !

Grelhados à Tóino Jorge

A Tasca do Silva promete. Os petiscos estão no ponto e a imperial é bem tirada. A juntar a isto tudo, a clientela, conhecedora da gastronomia nacional, vai sugerindo novos pratos, alguns até inventados por eles mesmos, mas que, pela descrição, só pode ser coisa boa.
Ontem, o Tóino Jorge e eu estávamos na mesa 3, saboreando uns pezinhos de coentrada, quando entra uma febra daquelas capazes de fazer levantar os mortos. Eu estava de costas para a porta, e o Tóino Jorge faz-me um sinal subtil. Estica a cabeça para a frente e baixinho, diz-me – "Paulinho, aquilo cru é tão bom, imagina assado". – Ora aí está uma boa sugestão para o chefe, "Bordas na grelha".

O exemplo é a melhor ordem

Naquele dia, em vez do acordar ao som da alvorada, Eduardo acordou com o plantão da caserna a sacudir-lhe os ombros, dizendo que o tenente, comandante da companhia lhe queria falar, antes do inicio da instrução.
Eduardo cumpria o serviço militar obrigatório e odiava a guerra. Não desertara mas prometera a si próprio que se o mandassem para a guerra colonial iria para a clandestinidade tal como o seu amigo de infância, o Carlos "Carapau" que de repente desaparecera porque a PIDE/DGS já andava no seu rasto. Eduardo soube já depois de 1974 que o Carlos pertencia ao MRPP.
Calmamente fez a barba, vestiu a farda de instrução e olhou furtivamente para o espelho para uma ultima verificação se tudo estava de acordo com a forma como se deveria apresentar um militar, pois embora não morresse de amores pela instituição respeitava e fazia respeitar os princípios dos que envergavam uma farda das forças armadas.
Avançou pela parada, passo firme e sincopado com um tambor imaginário, em direcção ao gabinete do tenente que estava como sempre de porta aberta e verificou que lá dentro já estavam o seus três camaradas (atenção, não colocar conotações partidárias, é assim o tratamento entre militares) que com ele davam instrução aos quatro pelotões da companhia. Nunca percebeu porque eram aqueles ridículos batimentos com as botas mas faziam parte do "cerimonial da continência" e nos três últimos passos de aproximação à secretário do tenente bateu com o calcanhar da bota enquanto levava a mão direita à testa, ligeiramente acima do sobrolho, dizendo ao mesmo tempo, bom dia senhor tenente.
O tenente retribuiu o cumprimentos e começou a explicar a razão da reunião:
- Tenho em cima da secretária doze participações que informam o corte de fim de semana a recrutas que de uma ou de outra forma desobedeceram a ordens de superiores, nomeadamente vossas. Não entendo é uma coisa e por isso os chamei, para saber a razão porque sendo quatro os pelotões, só tenho queixas de três.
Um a um o tenente questionou cada um dos furriéis quais as razões dos cortes da saída de fim de semana dos seus recrutas e as respostas dos três primeiros foram sempre semelhantes.... ordenei que passasse na vala da merda e recusou (a vala da merda era uma pequena lagoa de água estagnada, que servia como "piscina" ao condomínio de ratos do quartel), ordenei que pagasse uma completa de cinquenta e não completou, ordenei que saltasse do pórtico para o galho a um metro do final e não o fez.... etc.
Quando chegou ao Eduardo o tenente perguntou se os homens dele obedeciam a todas as ordens, pois o facto de não existirem punições era no mínimo estranho.
Eduardo respondeu que não dava ordens aos seus instruendos.
- Como, não dá ordens. Mas se não dá ordens o que é que eles fazem ?
- Senhor tenente, os meus homens fazem tudo o que tem que fazer sempre que estamos em horário de instrução
- Sem ordens? Como pode ser isso?
- Com ordem, senhor tenente.
- Como? então não disse que não dava ordens? Em que ficamos?
- Nisso mesmo senhor tenente. Eu não dou ordens.... apenas dou uma ordem.
- Sim e qual?
- No inicio da instrução, apenas digo aos instruendos "Todos atrás de mim".... ai do filho da mãe que depois de eu entrar na vala da merda se atreva a não o fazer!
O tenente, que até era profissional, percebeu nesse dia que os milicianos tinham novas ideias... se calhar estava ali a semente das novas forças armadas.....

Bavaroise de manga


Ingredientes:

2 carteiras de gelatina em pó de sabor e cor neutra;

1 lata de leite condensado magro;

1 lata de polpa de manga;

Preparação:

Dissolva bem as carteiras de gelatina em pó em ½ litro de água a ferver.

Adicione depois ½ litro de água fria e mexa bem até não ficar nenhum resíduo de pó.

Leve ao frigorífico enquanto prepara a polpa de manga.

Junte a polpa de manga ao leite condensado, mexendo bem até obter uma pasta homogénea.

Verta depois esta pasta sobre o preparado de gelatina, mexendo sempre bem.

Leve ao frigorífico, colocando o recipiente na parte de cima do mesmo.

Convém servir depois de solidificar.

Para desenformar, envolva o recipiente em água morna e depois o conteúdo solta-se na perfeição.

Notas:

As carteiras de gelatina em pó podem ser substituídas por folhas de gelatina.

A polpa de manga, que já há à venda enlatada, pode ser feita em casa, descascando 3 mangas, cortando-as aos pedaços, e desfazendo tudo num liquidificador.

Na “Tasca do Silva” ® serve-se uma fatia desta bavaroise por cada hora de consumo.

Aceitam-se arrotos após o seu consumo.

O "biscómetro"


Estava eu descansado na minha secretária, deambulando entre a problemática de como dar vazão ao monte de papéis acumulados na dita cuja e ao mesmo tempo saciando a minha fome de informação disponível na net, nomeadamente em sites e blogues mais-ou-menos censuráveis ou censurados, quando eis que de repente me aparece uma mensagem no pc, a convidar para contribuir no “bom” funcionamento deste novo estabelecimento cibernáutico.

Ora bem, reconheço que a primeira coisa a vir-me à cabeça foi “rais parta, queres ver que estes gajos às tantas precisam de alguém para limpar as latrinas e há que convidar aqui o desgraçado, que já passa a vida a limpar a merda que os outros fazem?”. Por sinal a proposta era séria, pelo que só tive de a encarar assim mesmo - com seriedade – e então, depois de comunicar ao Silva a minha disponibilidade, debrucei-me logo sobre o assunto.

A primeira coisa que fiz foi saber até que ponto o meu conceito de tasca estava gramaticalmente correcto, socorrendo-me para o efeito de um daqueles dicionários comprados em fascículos e que mais não servem se não para encher as prateleiras e aumentar os nossos encargos mensais. De facto, lá dizia que tasca significa taberna – até aqui tudo bem – o problema veio a seguir, dado que lá também dizia que tasca era sinónimo de casa de pasto reles e ordinária. Aqui confesso que fiquei novamente possuído daquele meu primeiro pensamento em relação aos verdadeiros intentos de quem me convidou – “ou é para limpar sanitas, ou, pior do que isso, limpar aquelas coisas em que, na juventude dos nossos Pais, os homens praticavam o lançamento da bisca e que eu, por insuficiência de tempo para procurar o termo correcto, decidi chamar de biscómetro”.

Certamente os mais novos desconhecerão que noutros tempos havia esses utensílios nas tascas e outros estabelecimentos, mas de facto eles existiam e parece que ainda os estou a ver ali num canto. Era assim uma coisa parecida com um penico a fugir para aqueles cinzeiros modernos compostos por duas partes, a de baixo que contém água para o cigarro se apagar e a de cima que possibilita que a “pirisca” não seja visível, como se o acto de fumar fosse uma vergonha, a qual se pode esconder num cinzeiro de linhas modernas, que mais parece um objecto de adorno.

Pensará a única pessoa que ainda tem pachorra para ler este meu post (a minha esposa - que remédio tem ela – ou isso, ou levar um arraial de porrada) “porra que o gajo, além de não ter piada nenhuma, é mesmo nojento!”. Não minha amada, não sou nojento não senhor, ou tu ainda não reparaste que este mundo está cheio de lançadores de biscas???. O que é que tu achas que fez o Sr. Bush, ao inventar uma guerra contra o senhor do mal, o Saddam??? – Mais não foi do que, encapotado por esse suposto intento, apoderar-se do controlo pelo ouro negro, nem que para isso tivesse que atirar umas valentes biscas esverdeadas para cima do povo iraquiano!. E porque achas que a igreja tanto luta contra o uso do preservativo e outros métodos contraceptivos??? – Mais não é do que tapar os olhos aos seus fiéis mais acérrimos, enquanto que ao mesmo tempo vai atirando umas biscas (e indemnizações chorudas pagas com o dinheiro angariado junto dos seus fiéis), para cima daqueles desgraçados que por esse mundo fora são vítimas de pedofilia por parte dos próprios pregadores!

Como se vê, o “biscómetro” não é um utensílio assim tão em desuso!

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Quem eram eles?

Há coisas que permanecem ocultas e que eu gostaria de as ver clarificadas, até porque, alguns, muitos mesmo, já cá não andam, fruto duma geração, a minha, que se degradou e foi desaparecendo, sobrando apenas uns raros espécimens.
A rapaziada da minha criação não tinha nome, tinha alcunhas. Quer-se dizer, nome tinham de certeza, qual, é que nem eu nem ninguém sabia.

Quando entrei para a Primária, havia todos os dias a chamada, à qual nós respondíamos – "Presente" – Ora, naquela turma, fruto de ouvir a mesma lenga-lenga todos os dias, vim a saber o nome de alguns dos meus amigos, mas e os outros? Naquele tempo, eu vivia num bairro com 118 casas. As famílias eram numerosas, tudo para cima de 7 filhos, no mínimo, porque a maioria era bem mais do que isso. Multipliquem isto por 118 e vejam que éramos umas largas centenas que ultrapassavam o milhar, à vontade, de putos naquelas ruas onde se brincava porque não haviam os perigos de hoje em dia, como, e principalmente, o trânsito.

Alcunhas existem em todo o lado, mas algumas delas, às quais eu não passava cartolina nenhuma na altura, simplesmente chamava por eles daquela forma, hoje em dia tenho uma curiosidade louca de saber de onde vieram. É que tínhamos o "Gordo", o "Pernas", ou o "Marreco", mas essas alcunhas tinham uma origem conhecida, nada de anormal.
O pior é que havia um "Da", um "Ratos", 3 "Cagados" (Irmãos), um "RRR" (Não se lê "R, R, R", lê-se "REEEE", um "Mácátula", um "Catôna", um "Farri-Farróla" e um "Conas" e um "Pichas"… E mais uns quantos que nunca percebi de onde vinha tal coisa.

Parece que não tem importância nenhuma, mas é muito importante. É que tudo é possível, mas crianças de 4 e 5 anos serem alcunhados de "Conas" e "Pichas" é meio esquisito. O "Pichas", eu ainda conjecturo umas teorias, do tipo ou a tinha grande de mais, ou a tinha pequena demais. Mas e o outro? Hmmm!!!…

C'um catano...

Todos os dias mal entro na tasca, mordo a cenoura e digo… “preferia borrar um pé de merda que trabalhar”… enfim… hoje para além de trabalhar ainda tenho que limpar o pé… e se alguém tiver o azar de ser solidário com a máxima do… ‘é sinal de dinheiro’ vai ter problemas com a procriação futura!!! É que limpar merda de cão não dá dinheiro… dá TRABALHO!!! O que mais me irrita é o passeio matinal dos lulus… fazem o cocozinho ou o pupuzinho, como lhes chamam as madamas, e que acaba por ser um Titanic, exactamente por onde a chinela matreira vai passar… azar do caraças.
E não sei o que raio de ração alguns cães comem… ou será que eles bebem um cafezinho e fumam uma cigarrada???
Nã…! Alguns devem é beber UCAL para lhes dar a volta a tripa!!

Vou mazé bulir!!!

A minha primeira

Já sei... o titulo é demasiado sugestivo e estão todos a pensar "naquilo", na Efigénia a levantar a saia para mostrar que o que eu tinha a mais, tinha ela a menos... estão enganados. Não é mesmo nada o que estão a pensar.
Isto é (apesar de ter pelo menos 6 estrelas) uma tasca, portanto temos que relacionar a nossa primeira intervenção com o ambiente em que decorre.
A minha primeira (e por acaso a última) bebedeira. Isso mesmo, foi a primeira e foi no casamento da minha mãe... (não, não desistam de ler porque o gajo está embriagado, eu explico..)
O meu pai separou-se da minha mãe quando eu tinha dois anos e depois de consumarem o casamento durante tanto tempo nunca se lembraram de o consumar em termos legais ou seja, nunca casaram e por razões que eu próprio nunca aprofundei separaram-se.
Aos 10 anos a minha mãe pensou que seria melhor para mim tentar arranjar alguém para que fosse menos dificil a tarefa de me educar e isso aconteceu. Casou e foi nesse dia que me embebedei.
O Luisinho, rapazola de 12 anos, depois de todos sairem de casa da sogra da minha mãe, decidiu instruir-me na arte de bem beber todo o Porto e ai começou o "vai mais um".... aquela coisa era doce e marchava bem.
Só acordei no dia seguinte e fui informado que tinha sido encontrado debaixo da mesa e nem dei por me terem levantado.
Pelo menos até aos 17 anos nem podia ouvir falar em álcool e só comecei a beber uma cervejita de vez em quando porque os amigos do bairro começaram com tendência a chamar-me "copo-de-leite".
Recordo com alguma saudade o Luizinho, pois pelos vistos a tendência para as drogas (sem paninhos quentes, o álcool é uma droga e pode matar e destruir com a mesma facilidade que os opiáceos) já era inata nele e perto dos 40 teve o destino dos que não resistem ao mundo de ilusão proporcionado pela heroína.
Reconheço que a tal coisa com a Efigénia foi muito melhor que a ressaca da bebedeira e pode ser que um dia vos conte (mas com bolinha vermelha)

Domingos

Fico angustiado todos os domingos, estado que tende a acentuar-se com o avançar do dia. Domingo é dia que não é carne nem é peixe. Não se trabalha mas já se sente o peso do trabalho que se aproxima a grande velocidade.
O meu domingo é, por norma, bastante curto. Já não dá para fazer muita coisa e eu, otário, consigo que dê para não fazer porra nenhuma.

Levanto-me tardíssimo porque no sábado estava com gás a mais e fiz uma noitada a ver televisão. Ou porque saí até às quinhentas. Ou porque juntei uns amigalhaços cá na barraca e apanhei com eles um pifo valente. Ou, em última instância - e para não inventar mais desculpas -, simplesmente porque me apeteceu.

A partir daqui é um martírio. Os planos para dar uma arrumação geral àquele quarto onde vou amontoando tralha, a pintura das paredes interiores que as daltónicas das visitas insistem ser amarelas ou a poda da hera que cresce a olhos vistos e me estorva a entrada do quintal ficarão inevitavelmente adiados para o fim de semana seguinte.
Depois vem o remorso a corroer-me as entranhas: "Trolha, pá, saíste-me cá um inútil...Grande coirão! Tu mexe-te, rapaz."

É um pesar de pouca dura. Concluo que não posso sujeitar-me a grandes esforços dominicais. Tenho que recarregar as baterias para a semana que se avizinha e o sofá está mais perto que o balde da tinta e a tesoura de podar.

Julgo ter encontrado o verdadeiro sentido daquela velha anedota que diz que "Há Dias cabrões e os Domingos são todos".
Mas posso afiançar que me esforcei para que este post fosse publicado ainda no domingo.

Cous-Cous

Um dos mistérios maiores dos hábitos dos portugueses é o arroz com batatas fritas. Entramos numa tasca, café, snack-bar, restaurante, cervejaria, casa de pasto, cantina ou marisqueira e sentamo-nos a uma mesa para almoçar. Vem o cardápio. Por norma, podemos optar por vários pratos de peixe ou de carne, por vários tipos de bebidas, por diferentes sobremesas. Mas, para acompanhar o prato principal, é certo e sabido que, em 99 por cento dos casos, só há duas escolhas possíveis: ou arroz com batatas fritas, ou batatas fritas com arroz.

Dir-se-ia que a maior parte dos cozinheiros portugueses tarimbou na cozinha de uma qualquer ordem conventual que fez voto de pobreza, tal é o escrúpulo com que, sistematicamente, se nega à comida a infinita variedade de sabores que a Natureza permite. Todas as receitas, invariavelmente, são feitas com óleo, cebola, alho, louro, salsa, colorau, sal e pouco mais. E o arroz, sabido que há duzentas mil maneiras de o confeccionar, é sempre apresentado da forma mais rudimentar que existe. Arroz com especiarias como coentros, cominhos, canela, pimenta, cardamomo, gengibre ou cravinho, por exemplo, é proibido. Arroz com legumes, só se for de vez em quando com "uma cenourita" ou "umas ervilhitas", só para dar cor de acordo com a simpatia clubística do cozinheiro.

Espanta-me o verdadeiro estoicismo que o pessoal por essas cozinhas fora demonstra, não se desviando um milímetro desta monotonia culinária, dia após dia, ano após ano, seja Verão, seja Inverno. Mas o que mais me surpreende é verificar como esta prática se generalizou a todo o país de uma forma espontânea, como se houvesse algum motivo evidente para que ela se impusesse. A ditadura do arroz com batata frita é um fenómeno cultural e social digno de ser estudado.

Eu sei que há aspectos de tempo e de logística a considerar numa cozinha. Mas precisamente por isso é que me admira que não se optem por certas alternativas facilitadoras desse ponto de vista. É o caso do cous-cous.

O cous-cous (pronunciando à francesa diz-se "cussecusse"), é um acompanhamento comum no norte de África e consiste em grãos muito pequenos de sêmola de trigo. Cereal, portanto, óptimo para desenjoar do arroz. A preparação é tão simples que pode ser feita na hora de servir. Mas também pode ser confeccionado previamente, mantido quente ou reaquecido.

Para 4 pessoas, deitar num tacho meio litro de água, um pouco de sal e umas gotas de óleo. Quando ferver, retirar do lume e juntar 400 gramas de cous-cous, alisando com um garfo para que se espalhe uniformemente pela água. Tapar o tacho e aguardar 5 minutos. Juntar depois pequenos pedaços de manteiga e envolver suavemente com um garfo de forma que os grãos fiquem soltos.

O cous-cous combina maravilhosamente com o molho das carnes estufadas com legumes. Uma outra hipótese, principalmente para os dias quentes de Verão e para acompanhar carnes sem molho, é servi-lo frio ou morno acompanhado com tomate, pimento e cebola cortados finamente.