terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O Silva anda zangado

O Silva tem andado com um Stress que não se pode aturar, além de lhe provocar gazes insuportáveis, corre com todos da tasca. Ainda ontem berrava ele, num ataque de fúria:
- QUEM DISSER MAL DO TINTO, É POSTO NA RUA E NÃO ENTRA CÁ MAIS!!!!!
E eu:
- Ó Silva, a pinga anda boa!

sábado, 27 de dezembro de 2008

O sexo no quotidiano de homens e mulheres

Tendo em vista um estudo que espero publicar em breve, compilei já cerca de trezentos mil factos do quotidiano que exemplificam a curiosa diferença de pontos de vista entre homens e mulheres no que respeita a sexo. Mais especificamente, o estudo procura mostrar, através desses diversificados exemplos, de que forma o sexo está sempre presente no quotidiano dos homens, enquanto que para as mulheres ele apenas se revela... digamos... às vezes.

Nesta quadra natalícia, por exemplo, quando uma mulher deseja Boas Festas está a pensar no ritual familiar das prendas em família, no encanto das iluminações coloridas e nas iguarias de uma mesa farta e festiva. Para o homem será uma excelente oportunidade para imaginar algumas zonas do corpo onde, depois do jantar, das prendas e das luzes, as festas possam ser realmente Boas.

No vestuário encontramos um dos maiores desníveis entre os pontos de vista masculino e feminino. Por exemplo, o decote ousado. A ousadia, para a mulher, reside na dificuldade em combinar algumas peças de roupa, tendo em atenção a cor, de maneira que umas se vejam e outras não, e com isso exibir 80 por cento do peito. Para o homem, porém, decote ousado seria aquele que revelasse apenas os restantes 20 por cento, independentemente da roupa usada.

Esta forma de ver as coisas tem evoluído com o passar dos tempos, adaptando-se às novas práticas e às alterações tecnológicas. Uma das situações modernas mais eróticas, para os homens, é arranjar estacionamento nos parques que têm muito movimento. É evidente a similitude que existe entre a conquista sexual do macho e a procura de um lugar livre para estacionar, desde o circular exploratório de busca em ambiente concorrencial até à penetração final do veículo num espaço limitado. Alguns homens, encontrado o espaço livre, chegam mesmo a fazer sucessivos avanços e recuos do veículo, uma manobra de claros contornos explicitamente sexuais.

Imagino que a publicação deste estudo será apreciada por parte dos homens, que confirmarão nele várias ideias que já lhes tinham ocorrido, mas chocará provavelmente as mulheres. Como se sabe, para as mulheres, o principal defeito dos homens é eles estarem sempre a pensar em sexo. Já, para os homens, o principal defeito das mulheres é elas nunca pensarem em sexo.

Embora estas sejam verdades universalmente aceites, eu acho que elas pecam por algum exagero. Não é verdade que um homem esteja sempre a pensar em sexo. Eu, por exemplo, lembro-me perfeitamente que consegui estar cerca de sete minutos sem pensar em sexo numa tarde de domingo de Junho de 1973. Nesse período de tempo, fiquei completamente absorvido a ver na televisão as peripécias de um episódio do Bonanza, enquanto brincava distraidamente com as mamas de uma das empregadas do meu pai. Mas acredito que eu seja apenas a excepção que confirma a regra.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

TDS-TV - Emissão experimental?... inaugural?... final?

Chegados que estamos ao final do ano, altura em que a estimada clientela desta Tasca pensou já ter assistido ao que de pior pode acontecer neste cantinho (rectangulozinho… para ser mais exacto), eis que eu próprio decidi agoniá-los ainda mais com a abertura de um canal televisivo.

Senhoras e senhores, meninas e meninos, é com um enorme prazer que lhes apresento a TDS-TV!






Bem sei que estou sujeito a comentários jocosos, género “ai e tal, ainda te falta muito para chegares sequer aos calcanhares da TVI!”, mas de uma coisa não tenho dúvidas – pelo menos tentei!

Para todos um super-hiper-mega-fixe 2009! (espera… a Floribela dava na TVI ou na SIC?)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O método mais eficaz para emagrecer

Sempre me fizeram espécie as mil e uma referências a métodos e contra-métodos de emagrecimento, uma coisa que preocupa muita gente, principalmente mulheres que precisam urgentemente de engordar uns quilitos, mas enfim, isso é outro problema. Eu verifiquei que há um método muito simples para obter e manter o peso que se quer, que considero ser, de longe, o mais eficaz e, ainda por cima, o mais simples. Basta comprar uma balança de mostrador digital.

Na realidade, não basta comprá-la. É preciso comprá-la e usá-la. As balanças são uns aparelhos óptimos para medir o peso e é isso mesmo que quem quer emagrecer deve fazer – medir o peso todos os dias de manhã.

Esta prática irá dar um conhecimento total da forma como o nosso corpo se comporta em termos de peso face aos acontecimentos do dia-a-dia. O que comemos ou o que jejuamos, o que caminhamos ou deixamos de caminhar, o que dormimos ou deixamos de dormir, o stress, as gripes, o frio, o calor, tudo isto e muito mais se reflecte no nosso peso. E a balança dá-nos, ao fim de algum tempo, uma informação detalhada sobre isso. Depois é só dosear as coisas em função do peso que se pretende ter.

Nunca mais diga "ai, bolo não, que estou muito gorda!". Em vez disso, diga assim: "hoje de manhã pesava menos 300 gramas que ontem; como dei aquela caminhada extra à tarde que me deve ter retirado mais 600 gramas, e, como o resto do dia foi normal em termos de contribuição para o peso, dá perfeitamente para comer duas fatias de bolo". Quem fala assim não é gago. Nem gordo. Como dizia o outro, é só uma questão de... fazer as contas.

Um conto de Natal

Olá, o meu nome é Parménides Juvenal, moro aqui no bairro e tenho uma história de Natal para contar.

Ontem, como é tradição em época de Natal, depois de tomar o meu nestum ao pequeno almoço, fui com os meus pais à missa do padre Inácio. Quer dizer, na verdade foi a minha mãe que entrou comigo pela mão na igreja, porque o meu pai insiste sempre em ficar lá fora a dar esmola aos pobrezinhos que estão nos degraus da entrada, embora no último ano, a minha mãe se tenha chateado com ele por, ao sair, o ter encontrado na esquina agarrado a uma senhora das que vivem na casa da madame Sissi.
Eu até compreendo o meu pai, pois se já tinha dado toda a esmola que podia, estava a dar algum calor humano à pobre senhora, que estava de mini-saia e top a tiritar de frio, coitadita! Pelos vistos a minha mãe não pensa nas pessoas que, chegado o Inverno, não ganham para comprar roupa mais quente...

Bom... mas estava eu a falar da missa do padre Inácio. Já estávamos quase de saída, quando o padre lançou a pergunta às mais de 10 pessoas que estavam na igreja:
– ... meus irmãos, onde está Deus?
– Ele está nesta igreja – disse o sr. Almerindo da mercearia.
– Sim, muito bem visto, pois esta é a casa Dele. - replicou o padre Inácio.
– Ele está no céu, onde vela por nós – disse a amante do doutor Anacleto.
– Ele está nos nossos corações... - disse uma vozinha lá atrás.

Ora isso deve ser falso, pensei eu, pois venho cá todos os anos e nunca o vi por aqui! Aliás, acho que ele deve ser como o Bin Laden, pois diz-se que ele está em todo o lado, mas muita gente o procura e nunca ninguém sabe onde ele está. Foi aí que me lembrei de um episódio passado há muitos anos que me mostrara onde está Deus. E decidi intervir:

– Eu sei que Deus morava na minha casa-de-banho!
– ??... Ai sim?! E o que te faz pensar nisso? - perguntou o padre Inácio, depois de esperar cerca de dez minutos que a assistência acabasse de rir.
– Porque eu lembro-me, quando era mais novo, tinha para aí os meus trinta anos, muitas vezes ouvia a minha mãe a entrar na casa de banho, e passado uma hora ou assim, ouvia o barulho do meu pai a bater na porta, a torcer-se todo com a mão na braguilha e a gritar “Meu Deus, mas tu nunca mais sais daí?!”

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

THE T-FILES – Encontros Imediatos do Grau Esquisito (I)


TASCA DO SILVA

4ª FEIRA – 21H30

- Praticamente crescemos os dois juntos...- lamentou-se Parménides Juvenal afogado na sua dor e olhando para o fundo do copo, que repousava vazio no balcão da Tasca. Enquanto quebrava a casca a uns ovos cozidos para servir no dia seguinte, o Silva procurava que aquele jovem de 40 anos tomasse consciência de si.

- Não achas que por hoje já chega?

- Era mais uma gasosa, faz favor! - continuou Parménides sem atender ao que lhe dizia o taberneiro, que para não contrariar o seu cliente, e porque não era do seu feitio prejudicar o negócio, serviu-lhe uma gasosa pela terceira vez, aumentando o estado de alienação na exacta medida do seu desgosto - ...era um grande amigo, sempre disposto a ouvir-me, nunca se negou quando eu tinha de desabafar algum problema, eu sabia que a qualquer hora que precisasse ele estava ali e eu podia contar com ele...nunca pensei que fosse tão duro ver partir assim um amigo! Nem quis ver quando o meu pai o largou na sanita e puxou o autoclismo...

- Como?... - espantou-se o Silva, quase entornando a gasosa no balcão.

- ...pois é, nunca me esquecerei do meu peixinho vermelho...

O Silva rolou os olhos e mirou o relógio do Benfica que, na parede de fino azulejo Viúva Lamego, marcava o imparável caminhar dos ponteiros a caminho das dez.

- Não será melhor eu levar-te a casa?

- Não, mas é melhor eu ir andando, se eu chegar a casa depois das dez é capaz de a minha mãe se chatear e já nem me dá o banhinho antes de deitar...

Massacrado pela perda do ente querido e por 3 gasosas nunca antes tomadas de uma assentada, Parménides saiu para a rua, indo ao encontro da noite fria, que lhe despertou os sentidos do torpor produzido pelo dióxido de carbono da bebida. Num movimento pendular semelhante ao de um limpa-pára-brisas caminhou entre o passeio da esquerda e o da direita, escutando os seus passos no empedrado, agora que todo o bulício do bairro cessara no exterior, transferindo as actividades físicas nocturnas para o interior da casa de madame Sissi.

Parménides ía a meio da Travessa do Berbigão quando, subitamente, após um estrondo seco, os candeeiros da rua se apagaram todos, deixando-o apenas com a fraca companhia da lua, ainda em quarto crescente. O seu pequeno coração começou a palpitar mais intensamente quando foi tomado pela estranha sensação de estar a ser observado, sem saber muito bem de onde. Um arrepio percorreu-lhe a espinha de cima a baixo, logo seguido de um fenómeno idêntico em sentido inverso, pelo que decidiu alargar o passo.

De repente, algo o surpreendeu não conseguindo conter um pequeno grito de medo. À sua frente, em enormes letras vermelhas, estava a palavra “MORTA”! O nó que se lhe formou na boca do estômago acalmou um pouco quando percebeu que se tratava de um cartaz publicitário do Lidl, anunciando “Mortadela a 1,29 €”.

O seu passo foi de novo apressado quando ouviu o som nítido e não distante de lobos uivando à lua cheia, o que era tanto mais estranho quanto a lua estava em crescente e ao fundo da rua só se viam 2 cães vadios. Atalhando pelas traseiras da Tasca, Parménides não reparou no cadáver carbonizado de uma ratazana junto de um poste de alta tensão recentemente instalado, e que exalava um odor de morte. Contudo, não pôde deixar de reparar em algo que, no meio da rua, o fez estacar o passo, estarrecido.

Uma figura estranha, algo retorcida mas ao mesmo tempo de silhueta humanóide, irradiava uma aura em tons de verde, como que um brilho que acompanhava todo o corpo, simultâneamente atraente e repulsivo, e que estendeu um braço na tentativa de estabelecer contacto.

E então, a criatura emitiu som.

Uma voz grave e rouca, com um sotaque que, dir-se-ía numa disparatada comparação, semelhante ao de um emigrante de leste, falou:

- Não ter medo, senhor... - pareceu-lhe ouvir em português.

O cérebro de Parménides perdeu o controlo sobre o seu corpo e a razão cedeu lugar à emoção. O seu coração disparou a ordem, a bexiga aliviou-se e as pernas desataram a correr o mais rápido que podiam, a caminho de casa.