domingo, 2 de novembro de 2008

O "grande embuste" dos exames

Pela enésima vez na comunicação social, veio o jornal Expresso desta semana, em dois locais, criticar, enquanto medida política, o "grande embuste" do facilitismo dos exames nacionais do 9.º ano de 2008. Nem uma só vez se viu, porém, uma análise séria do fenómeno, quer justificando onde e porquê foram os exames deste ano mais fáceis que os dos anos anteriores, quer discutindo a inadequação do respectivo grau de dificuldade.

Eu experimentei resolver de uma assentada os exames de Matemática de 2005, 2007 e 2008. Dado que os critérios de correcção são muito objectivos, é fácil determinar resultados indiscutíveis. E os resultados que eu obtive foram, respectivamente, 85%, 83% e 95%. Estes resultados confirmam a maior facilidade do exame de 2008? Parece que sim. Mas a diferença observada não é, de maneira alguma, indiciadora de que se passou do 8 para o 80, como as mais calamitosas notícias podem fazer crer ao cidadão inadvertido. Eu pergunto, que dados objectivos como o desta minha experiência foram tidos em consideração para fazer juízos de valor como os que se têm visto na comunicação social?

Por outro lado, é estranho que nunca se discuta se o grau de dificuldade dos exames tem sido adequado (ou inadequado) em relação aos respectivos objectivos e à população alvo. É sempre apresentada a ideia de que os exames fáceis, ao "baixar a fasquia", são catastróficos para a formação do aluno. Esta atitude ignora duas coisas. A primeira, é que muitos professores têm uma inexplicável tendência para não colocar nos testes ou nos exames questões demasiado simples, apenas porque assim os alunos as iriam acertar e isso não lhes acarretaria qualquer mérito. Como se só houvesse mérito em saber as coisas difíceis. A segunda, é que está por fazer uma análise cuidadosa sobre as competências médias do aluno português, considerando questões históricas e culturais da sociedade em Portugal. Será que o aluno médio real é aquilo que se imagina? Ou estará uns 10% mais abaixo?

Espero que não haja pruridos em relação a este último aspecto. Voltando ao lugar-comum da fasquia, é perfeitamente aceite que as marcas nos saltos em altura sejam mais baixas para atletas do sexo feminino, sem que isso represente um anátema inferiorizador das mulheres. Ou será que, em analogia com o título de um dos artigos do Expresso, devemos considerar que a fasquia oficial mais baixa para estas atletas são um grande embuste?

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