domingo, 8 de março de 2009

Coisas que não são o que são

As coisas são o que são. Mas há excepções. Há coisas que não são o que nós dizemos que elas são. Não estou a referir-me a ilusões de óptica ou a outros erros de perspectiva. Há coisas que toda a gente vê que são uma coisa, mas diz descaradamente que é outra.

Um dos meus exemplos preferidos são os recibos verdes. Toda a gente fala nos recibos verdes e toda a gente sabe que se trata daqueles recibos de cor verde que os profissionais liberais passam. O senhor doutor, o senhor engenheiro, o senhor arquitecto... todos eles passam recibos verdes. Há quem passe recibos verdes indevidamente, mas isso é outra história.

O recibo verde tem três características fundamentais. A primeira é que se trata de um recibo. A segunda é que é verde. A terceira é que é azul.

O azul é a cor oficial do IRS. Por isso os recibos são azuis. Os verdes, claro.

Uma pesquisa no Google por "recibo verde" nas páginas de Portugal indica que existem cerca de 27.900 páginas com esta expressão. A pesquisa por "recibo azul" encontra apenas cerca de 85. Mais significativo não podia ser. Os recibos azuis praticamente não existem, apesar de diariamente serem passados centenas deles. Por sua vez, os recibos verdes vêem-se por todo o lado, apesar de não existirem.

Através deste exemplo podemos compreender que, se as coisas são o que são, há coisas que não são o que nós dizemos que elas são. Provavelmente o leitor estará neste momento a perceber finalmente alguns mistérios relacionados com justiça, liberdade, democracia, futebol, televisão, jornais, emprego, sexo, educação, clima, preços, comércio, religião, arte, viagens, saúde, leis, hábitos, instituições, electrodomésticos e coisas assim.

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