domingo, 5 de outubro de 2008

CSI:TDS - "Afinal havia outra" - parte III

Era grande a discussão junto ao posto médico, naquela manhã. A fila para a marcação de consultas já chegava à porta da Tasca do Silva, mas corria o boato que o Dr. Anacleto tinha levado a mulher para um congresso de medicina em Punta Cana e não haveria consultas tão cedo. Outro dos temas em vivo debate naquele “Prós e Contras” de bairro, era sobre quem teria mais razões para matar Tozé Vilarinho – uma amante ou a hipertensão arterial?
Apesar de ser voz corrente que o cardiologista já lhe tinha recomendado mais exercício físico, os 66% de matéria gorda do seu corpo pareciam indicar tanta atenção a este conselho como quando o Silva insiste em dizer “fiado só amanhã” aos clientes da sua tasca. Entre o mulherio ali presente, grande percentagem inclinava-se para a inveja da extrema sensualidade e sex appeal daquele que alguns insistiam em rotular de gordo, badalhoco, suado e pouco agradável ao olfacto. A este último argumento, havia mesmo uma quarentona que vociferava:
- A isso chamam-se feromonas, seus estúpidos! O Tozé era só um pouco descuidado com elas, apenas isso...

Na sede dos CSI, na sala de “Interrogatórios, Questionários e Perguntas Parvas”, Gil Grisso, Catarina Salgueiro e Nico, faziam perguntas a Chico “Búfalo” Dias. Devendo a sua alcunha à marca de pomada para calçado, Chico Dias, bem parecido jovem sub-30, de cabelo loiro e braços tatuados com personagens de BD, tinha ignorado o programa Novas Oportunidades e trabalhava de engraxador à porta da Tasca, sete dias por semana em full time, pelo que era uma testemunha dos acontecimentos que antecediam o apagamento de Tozé.
Ser engraxador é ter uma profissão sensível, tal como a de manicure ou barbeiro. Tem-se acesso a segredos íntimos da clientela, que só o restrito Código Deontológico impede que caiam na vox populi. Assim, Gil Grisso ficou sem perceber, quando questionou Chico Dias sobre possíveis amantes de Tozé Vilarinho, se o engraxador de facto desconhecia a sua existência, ou se o seu sentido deontológico falava mais alto que os sórdidos pormenores a que teria tido acesso.
No entanto, as persuasivas técnicas interrogatórias da equipa CSI (entre as quais se contou o abandono da sala por parte dos criminologistas durante mais de uma hora, deixando a testemunha entregue a si mesma e a um pequeno televisor que passava continuamente compactos dos Morangos com Açúcar) permitiram apurar que naquele mesmo dia, Chico Dias tinha ouvido, na travessa que faz esquina com a Tasca do Silva, e portanto, uma ocorrência do domínio público, uma discussão entre Tozé Vilarinho e Marineide Sueli, escultural mulata brasileira que trabalhava no centro comercial fazendo unhas de gel para as senhoras do bairro e, ocasionalmente, fazia algumas horas na Tasca ajudando Cátia Vanessa no serviço às mesas, quando o trabalho apertava.

Destacando imediatamente uma equipa de investigação rápida para o centro comercial, Gil Grisso enviou o colega Nico no seu potente Smart, interrogar Marineide Sueli e proceder à recolha de cera dos ouvidos para posterior análise de ADN. Nas palavras da brasileira, a discussão havia sido motivada pelo trabalho de unhas que ela tinha feito em Carmelinda Vilarinho, as quais se tinham quebrado na primeira vez que a mulher de Tozé tinha lavado a loiça, sendo que o amantíssimo marido pretendia ser reembolsado, apesar de Marineide explicar que trabalhava a recibos verdes e não podia fazer notas de crédito. Oferecido um desconto em próximos trabalhos, Tozé não tinha aceite e a discussão tinha acontecido. Muito traumatizada por pensarem que seria capaz de matar Tozé, Marineide refugiou-se no “banheiro” a chorar, não sendo possível apurar mais nada. O mistério adensava-se.

5 Comments:

Pinto Madeira said...

[PM tenta nao roer as unhas de emoção, para nao estragar trabalho de tesoura de poda e lima de carpinteiro de uma manha suada de
Sueli]

António Serra said...

Descobri a vossa "Tasca" quase por acaso. Gostei bastante e hei-de cá voltar!...

António Serra

PJ said...

Em nome da gerência, apresento as boas vindas ao sr Serra.
Entre, sente-se e mande vir um copo de 3.

Anônimo said...

Ò Pintas este Parménides só nos faz entrar em despesas...tanto trabalho...e lá se vão as unhacas...

XN said...

... Eu já vou nas unhas dos pés ... porra, isto não vai ser tipo prision break, pois não? ... é que não me estou a ver a pedir unhas emprestadas!

Parménides, uma coisa te digo - se há uma gaja a ganhar rios de dinheiro por escrever livros sobre a bruxaria de putos com sentido sexual duvidoso, tu vai-te preparando para um dia destes beberes o teu leite morninho em cálices de oiro! ... ou isso, ou vai-te saír o loto!