domingo, 19 de julho de 2009

24 - Operação Moelas (V)



A dúvida corroía o pensamento de Bauer, com a estranha sensação de que o grupo de meliantes antecipara os seus movimentos. Em passadas largas, atravessou o jardim no encalço dos 3 homens que, como que adivinhando-lhe as intenções, começaram a correr cada um para seu lado.

Entre os canteiros de buganvíleas e hortênsias, os pequenos lagos com peixes vermelhos e os talhões de arbustos, desenhava-se um jogo de gato e rato semelhante a tantos outros que Parménides tinha jogado no recreio da sua infância e que tantas memórias lhe traziam, pelo que decidiu, resguardando a integridade da garrafa de tinto que trazia debaixo do braço, entrar na corrida. Contudo, um jogo de apanhada no jardim apresenta outro género de obstáculos que não existem num pátio de escola, pelo que Parménides não contava que os seus suspensórios ficassem presos num galho de buxo, o que fez com que uma força invisível lhe arrepanhasse as cuecas e o atirasse para trás, com violência, indo embater num dos vilões que, acto contínuo, se desequilibrou contra um dos lagos de cimento, embatendo com a cabeça no rebordo e desfalecendo de imediato. A força elástica dos suspensórios de Parménides foi ainda suficiente para que a garrafa de tinto se soltasse dos seus bracitos inocentes, voando cerca de 10 metros e atingindo em cheio, por trás, Mohamed, que caiu na gravilha do jardim.

Na outra ponta do espaço verde, Bauer ganhava terreno sobre Achmed, revelando especial habilidade para tornear canteiros de hortênsias. Retesando os músculos, o ex-agente saltou em frente conseguindo jogar as mãos ao pescoço do fugitivo, derrubando-o com o seu peso. Num rápido e bem treinado movimento, prendeu-lhe as mãos atrás das costas e forçou o joelho contra o peito de Achmed.
- Fala, meu sacana, onde está a receita das moelas?
- Muito tarde, infiel. Receita muito longe por estafeta.
- Para quem é que trabalhas? - gritou-lhe Bauer – Quem é que atacou a tasca do Silva? Fala, sacana, ou nem sabes o que te faço.
- Achmed não saber que estás a falar. - O indivíduo sorriu levemente.
- Posso fazer o teu corpo doer de formas que tu nem imaginas!
- Apenas Alá pode punir quem não cumpre os seus desígnios.

Face à urgência da situação, Bauer reviu mentalmente numa fracção de segundo todas as técnicas de persuasão possíveis de aplicar naquele instante e decidiu-se por aquela referida nos manuais dos serviços secretos como “Depila Dor”. Desumana, mas eficaz.
Rasgando a camisa de Achmed, tirou de um dos bolsos do seu colete uma tira de cera depiladora a frio, que aplicou sobre o peito do adversário. Com um sorriso cínico, Bauer deu um puxão brusco no autocolante, que arrancou um punhado de pêlos peitorais e, ao mesmo tempo, um grito de horror das profundezas da alma de Achmed. Felizmente, pensou Jack, a convenção de Genebra estava fora de questão naquele momento.
- Ok, ok, eu contar tudo!... - disse Achmed com dificuldade, de voz embargada e olhos rasos de lágrimas – eu contar, eu contar...
- Desembucha de uma vez. Onde está a receita das moelas?
- A receita está...

Ouviu-se um som forte e seco e a revelação morreu-lhe a meio da garganta, coincidindo com a sua própria morte, já que do outro lado do parque, tinha vindo a certidão de óbito sob a forma de uma bala, saída da carabina ainda fumegante de um snipper que, ao ver Bauer a olhar para si, largou a arma e fugiu a toda a velocidade numa Piaggio vermelha.

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