sábado, 29 de dezembro de 2007

As estufas de Almeria

Eu tenho um problema com as malaguetas quando quero preparar coisas como o chetnim de coentros. As que se encontram à venda com mais facilidade são espanholas. O mesmo quer dizer que não prestam. Idêntica dificuldade existe com os tomates, os alhos, as cebolas, os pimentos e mais uma longa série de outros vegetais.

É fácil perceber a razão disto numa visita à região de Almeria. A visão do "deserto de estufas" é impressionante. A foto abaixo abarca, em largura, cerca de 30 quilómetros, mas é apenas uma parte da infindável paisagem de plástico. No meio deste incrível amontoado podemos ver, um pouco à esquerda da zona central, a localidade de El Ejido, que tem actualmente cerca de 75 mil habitantes. E à direita, junto à costa, Roquetas de Mar, com 70 mil. Em termos comparativos, qualquer uma delas mete Castelo Branco ou Guimarães num bolso.

É também impressionante o aproveitamento do espaço. A cadeia de estufas, em alguns sítios, só pára a escassos metros das casas, literalmente asfixiando as povoações mais pequenas. E a montanha vai sendo progressivamente convertida em socalcos.

O termo "deserto de estufas" tem um duplo sentido. Desértico é o efeito interminável de centenas de quilómetros quadrados de ininterrupta alvura plástica. Desértico é também o solo, ou não estivessem perto as desoladas terras de Tabernas, onde foi recriada a paisagem americana em vários filmes western spaghetti.

Em qualquer zona que seja plana, cada estufa alberga preciosos metros quadrados de cascalho arenoso de cor cinzenta prateada. É nele que crescem os vistosos legumes que nos enchem o olho e desconsolam a língua, à força de água deitada a conta-gotas. E, claro, de uns pozinhos misteriosos, mas decerto com qualidade e efeitos devidamente certificados pelas ASAEs nacionais e comunitárias. Uma bosta.

2 Comments:

Jacques said...

Este meu arroto saíu-me extremamente azedo, somente por ter assimilado esta leitura, que expressa muito bem uma realidade que desde há uns anos venho constatando sempre que eu ou a patroa caímos na asneira de -- atecipada e precipitadamente -- "comer com os olhos" nos supermercados e trazer para casa na errada convicção de que o que parece também é.
Na verdade, nada como o sabor dos raquíticos, feios e deformados tomates, maçãs, laranjas, etc. -- maid in Prtugal -- criados à rédea-solta!!!

Anônimo said...

Só faltou aqui mencionar os milhares de imigrantes ilegais que trabalham de sol a sol e em condições absolutamente degradantes nesses locais e vivem em casa feitas de plts . Eu estive a passar 15 dias em Roquetas e circulei por varias povoações vizinhas e posso testemunhar que ficamos com uma sensação de grande amargura quando vemos á nossa volta tanto aproveitamente da miseria alheia (a inda dizzem mal de Cuba, mas sinceramente nesta nossa Europa, a zona de Almeria não fica nada bem na fotografia, uma primeira linha de mar cheia de hoteis e resorts, e por traz e á volta desses hoteis, milhares de estufas de plastico e milhares de imigrantes ilegais a trabalhar em condições perto da escravatura).