terça-feira, 16 de junho de 2009

24 - Operação Moelas (III)



Em redor do balcão da tasca estava montado o quartel-general da operação “moelas”, com o Silva envergando o seu avental de situações de crise (com várias nódoas de Borba e Vidigueira), Cátia Vanessa, a sua diligente colaboradora, o inspector Agostinho, Jack Bauer, o cobrador da água e, um pouco mais à margem, Parménides Juvenal, jovem de boas famílias, morador no bairro e que aguardava vez para ser aviado na encomenda de um litro de vinho tinto, que sua mãe usaria para o coelho à caçador do jantar.

- Potenciais suspeitos? - perguntou Bauer, enquanto vestia o seu colete de intervenção, cujos bolsos estavam recheados de sprays de gás lacrimogéneo, cartuchos de munições 6.35, granadas de defesa pessoal e folhas avulsas de papel higiénico dupla-face.
- Tenho ouvido uns rumores sobre a instalação de um fast-food aqui no bairro... - avançou o Silva ainda meio atarantado com tudo aquilo. - Talvez seja uma forma de demarcar território e assustar a concorrência.
- Não creio, - disse o inspector – isto é claramente um ataque político ao dr. Aníbal Silva. Não é segredo para ninguém que as moelas do Silva não são umas moelas normais e muito das hipóteses de reeleição do presidente da junta passam por este evento com as forças vivas do bairro e com a imprensa adversa que lhe faz oposição. Não me admiraria que houvesse aqui dedo político da oposição ao PITA, ou mesmo uma manobra suja da gazeta do bairro.
- Sr. Silva, - interrompeu Parménides – eu não queria incomodar, mas precisava do vinho para o coelho à caçador...
- Ó rapaz, vai ali ao fundo e tira do pipo, que eu agora não te posso atender.
Parménides Juvenal dirigiu-se aos bastidores da tasca, onde repousava um pipo de carrascão mais indigesto, geralmente reservado para os cozinhados. Por sinal, o mesmo local onde o Silva tinha sido atacado pelos assaltantes aquando do roubo da receita que impedia agora o presidencial evento.
- O sr. Silva tem de lavar mais vezes este chão, que até já se cola às solas dos sapatos.

Algum género de gatilho disparou no cérebro de Jack Bauer, que correu para a sala dos fundos, seguido pelos outros.
- Pegadas! - disse ele, apontando para o chão onde se viam os rastos dos assaltantes, conservados numa espécie de matéria viscosa que os mantinha perceptíveis, em direcção à porta das traseiras da tasca e, como em breve se perceberia, pela rua abaixo no caminho de fuga dos meliantes.
- Mas que coisa é esta? - perguntou o inspector Agostinho, sentindo o visco entre o polegar e o indicador.
- Não há tempo a perder. - resoluto, Bauer agarrou em Parménides Juvenal que estava mesmo a seu lado – Tu, vem comigo, preciso de apoio, vamos seguir esta pista antes que desapareça.
Os dois saíram da tasca a correr, Bauer empunhando a sua Sig Sauer P226, Parménides segurando a garrafa de tinto. No interior da tasca, iniciava funções a “tasca-force” da operação “Moelas”. O inspector Agostinho lambia várias amostras viscosas para identificar a estranha substância. O Silva pegava na esfregona para limpar os mosaicos. O cobrador da água continuava à espera que lhe indicassem onde era o contador.
Cátia Vanessa, ao telefone público de moedas que estava no balcão, marcava nervosamente um número.

1 Comment:

Pinto Madeira said...

ahaahah.. tssssss.. vai sobrar pra KatiaBanessa.. tadinha...