sábado, 13 de junho de 2009

O Mergulho

Costumava ao acordar sentir a sensação de um mergulho. Alongava cada pedaço de mim num espreguiçar lento enquanto saboreava na imaginação o gosto de me lançar de cabeça na água, sentir-me leve, sentir-me envolvida pela água, pelo som náutico, como se aquele momento me permitisse nascer com ânimo renovado para aquele dia que começava.

Na piscina observava cada mergulho dos outros com alguma ansiedade de o vir a fazer também. Perguntava-me porque a monitora nunca nos tinha colocado em fila para mergulhar, tal como faziam com as crianças mais pequenas. E o quanto elas se divertiam…

Resolvi naquele dia colocar-me de pé na berma da piscina, imaginando-me a fazer os gestos que via outros fazerem, alinhando as mãos em frente ao peito, e lançar-me após o impulso que me faria desligar do chão, permitindo-me a sensação há tanto sonhada. A monitora reparou em mim e, adivinhando a minha intenção, colocou um sorriso enorme de incentivo para eu o fazer, acenando que sim com a cabeça. Sem pensar, atirei-me!

A leveza da água desaparece, sinto-me embater numa dureza estilhaçante. A água arde no corpo e sinto-me pesada. Não percebo… Ao regressar à tona da água olho a expressão frustrada da monitora, que sem grande entusiasmo pergunta se quero tentar de novo. Não o faço, disfarçando o meu próprio desapontamento.

Perdi o sonho, aquele que ao acordar me trazia uma envolvência única. Ganhei um novo ensinamento, refrescante ainda assim. Temos de perceber o quanto de realidade existe nos nossos sonhos, se os pretendermos concretizar.

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