segunda-feira, 29 de junho de 2009

Morrer

O ar é forte, quente, a paisagem ampla, nenhuma vegetação, apenas terra, de um amarelo que se prolonga quase pelo céu. Atrás de nós vai-se formando uma nuvem de pó que os cascos dos cavalos levantam a cada galope rápido, em fuga dos nossos perseguidores, os índios, eles também montados em cavalos, soltando ruidosos gritos de guerra. De repente sinto uma dor forte nas costas, apercebo-me que fui atingido por uma flecha e caio. O som ruidoso do momento é substituído por um silêncio absoluto, não me consigo mexer, não vejo nada, não me apercebo de qualquer movimento em meu redor. Interrogo-me se morri, se é esta a sensação de estar morto. Acho estranho, porque me sinto tão bem, tão relaxado, mas incomoda-me sentir-me imóvel. Estou de barriga para baixo, completamente colado ao chão, como se os meus músculos tivessem congelado naquela posição. No entanto, aos poucos, com grande dificuldade, vou abrindo os olhos, ofuscados por uma luz brilhante que apenas me deixa perceber que há um enorme borrão vermelho à minha frente. Parece-me que ouço algo. Sim, uma voz feminina repete com insistência qualquer coisa que não percebo, ainda que me soe familiar. A voz vai-se tornando mais nítida e então, finalmente compreendo:
- João acorda, despacha-te, olha que vais chegar atrasado à escola!

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