quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Merece o nosso respeito

“O senhor Presidente, Blá Blá Blá, merece todo o nosso respeito, o Senhor Ministro, Béu Béu Béu, merece todo o nosso respeito.”
Este tipo de discurso faz-me rir. Ali ao lado estava uma mesa com novos clientes, desconhecidos dos habitués. Um deles, empolgado a respeito de determinadas figuras “importantes”, debitava um discurso de subserviência como se A, B ou C, não cheirassem mal do cu e dos sovacos, tal e qual como todos os outros. É que, para mim, toda a gente merecedora de respeito tem o meu respeito, mas esta mania meio podre e pouco clara de alguns merecerem todo o respeito só porque ocupam este ou aquele cargo dá-me vómitos e faz-me lembrar que pouco ou nada evololuímos, em determinados aspectos, desde o tempo do Cromagnon.

Títulos como Doutor, Engenheiro, Meritíssimo e Companhia só servem para nos lembrar que uns mandam e outros obedecem e que alguns, nem que sejam os maiores filhos da puta ao cimo da terra, à partida não são suspeitos e têm de ter um tratamento diferente do comum dos mortais, nem mais nem menos do que o Imperador Júlio César, que, se calhar, até era mais evoluído no que diz respeito a democracia do que nós somos em 2007.

Quem quiser reparar no que se passa, por exemplo, dentro dum tribunal, concluirá que aqueles que supostamente defendem a justiça têm uma pose de superioridade que roça as bordas da época medieval. Ou que um qualquer cidadão, face a um agente da autoridade, começa logo por estar em desvantagem em qualquer conflito de interesses que meta a “justiça” pelo meio.

O meu problema com este tipo de diferenciação de tratamento é tão só porque aqueles que estão lá em cima habituaram-se a viver e a moldar uma democracia à sua maneira e a, democraticamente, impingi-la a todos os restantes que estão ficando de pés e mão atados. É que os exemplos de pura máfia no seio daqueles que nos “orientam” são tantos que me espanta como é que continuam a querer teimar que - “O senhor Presidente, Blá Blá Blá, merece todo o nosso respeito, o Senhor Ministro, Béu Béu Béu, merece todo o nosso respeito”.

Pois às vezes, muitas vezes mesmo, só me apetece é dizer – “Ó senhor Ministro, o respeito que me merece é menos do que o que tenho por uma minhoca”.

3 Comments:

EB said...

Há tempos fui chamado ao tribunal como testemunha num caso judicial de lana caprina. Quando chegou a minha vez de ser inquirido, recebi instruções precisas para "não me sentar numa cadeira", tendo de aguardar de pé longos minutos até que o juiz me dirigisse a palavra. Tive de responder de pé

Ora bem, eu ali era um mero convidado a ajudar num processo de justiça de pouca importância. E mandam as mais elementares regras sociais que os convidados sejam tratados com alguma amabilidade e deferência. No entanto, naquele dia senti-me tratado da mesma maneira como se fosse eu um criminoso num processo da mais alta importância. Estar de pé poderá ser um sinal de respeito. Se é assim, acho que os senhores juízes e advogados deveriam também estar de pé perante mim, pois, como cidadão no papel em que me apresentava, não vejo que fosse merecedor de menos respeito do que eles.

Eu só não me senti muito ofendido porque comecei a ver que aquilo era, afinal, uma palhaçada. Os digníssimos agentes da justiça aparecerem vestidos com umas túnicas ridículas como se aquilo fosse um ritual esotérico de uma seita qualquer. Se nem costumes destes foram ainda abolidos, como se quer que a justiça se modernize e actue de forma normal?

Anônimo said...

Os tribunais são um exercício do mais podre autoritarismo, Eduardo... Os cidadão são achincalhados quando entram ali para dentro, como se fossem todos criminosos. Um amigo meu, pacata criatura, teve a infelicidade de, distraído, meter as mão nos bolsos e levou uma coça que parecia que tinha cometido um crime sanguinário. Os rituais e reverência feita aos juizes é do mais medieval que conheço, parece a povaça em relação à Santa Inquisição, até mete nojo.

Ze dos Anjos said...

São as únicas pessoas neste País que estão ACIMA DA LEI, e isso, decerto, dá-lhes a sensação de Deuses!
Mas, o certo é que são feitos da mesma m**** que todos os demais! Mas, quando no palanque, para eles, todos os demais são caca e não deixam passar a oportunidade para evidenciarem esse poder!
Quais frustados do carago!
Mas são intocáveis!