domingo, 28 de outubro de 2007

Factos e gravatas

Uma das maiores aberrações da cultura ocidental é o valor atribuído ao fato e gravata masculinos. Há décadas e décadas que esta monótona forma de vestir é obrigatória em determinadas pessoas, cargos, funções ou momentos. Este facto é tanto mais surpreendente quando se sabe que ele encerra diversos absurdos e contradições. Vejamos alguns:

- O valor atribuído a este tipo de farpela só é válido para homens. As mulheres são livres de se vestir de uma forma completamente variada.

- Esse valor não é atribuído apenas à forma, mas essencialmente à cor e ao padrão de tecido. Se um homem usar fato de padrão largo e gravata berrante fica um palhaço, cómico e ridículo. Se um palhaço usar fato escuro e gravata sóbria transforma-se num político credível.

- Na generalidade dos objectos, a evolução do design e da tecnologia impõem constantemente o seu aperfeiçoamento. Usar automóveis, televisores ou telefones iguais aos que se usavam em 1960 não valoriza ninguém. Usar fato e gravata iguais aos de essa época, sim.

- O respeito por esta norma social contradiz a maior parte dos restantes valores que se querem veicular. Este homem pretende ser jovem, moderno, dinâmico e inovador, mas usa uma vestimenta velha de um século; aquele político diz que vai ser diferente do seu adversário, mas veste-se da mesma maneira que ele. E por aí fora…

Recentemente realizei um pequeno mas significativo estudo. Entrevistei várias pessoas, principalmente funcionários bancários machões e costureiros abichanados. Consultei também alguma bibliografia especializada, como foi o caso da revista Caras. E descobri algumas coisas que não são assim tão evidentes a quem não segue as regras da ditadura fatal (fatial? fatóica? diabo, esqueci-me de estudar este pormenor semântico… Adiante!).

Por exemplo, a imagem pode ser insipidamente repetitiva mas, afinal, há diferenças fundamentais. Uma das mais curiosas reside no nó da gravata. Com efeito, eu descobri que há cerca de seiscentas formas diferentes de fazer nós de gravata. De entre os mais vulgares, temos 10 nós simples, 8 duplos, 4 triplos, 4 pequenos, 6 cruzados, uma trintena de variantes do nó inglês, quase outras tantas do nó francês, etc., etc. Mas a revelação mais surpreendente reside no facto de que o nó pode ser feito de acordo com as características pessoais da pessoa que o usa. E é aqui que verdadeiramente se faz sentir a diferença, pois há uma incrível variedade de nós especiais com significado muito particular. Apenas para ilustrar, vou indicar alguns:

Nó Bre – nó usado por homens que têm a mania da superioridade.

Nó Civo – nó adoptado essencialmente por homens que não têm qualquer tipo de respeito por coisa nenhuma.

Nó Minativo – nó usado por pessoas muito vaidosas, cuja forma se parece com a letra inicial do nome da pessoa que o usa.

Nó Doa – nó muito em voga na classe política, é usado principalmente por gajos ignorantes que se metem a fazer leis que transtornam a vida dos cidadãos.

Nó Velo – nó usado por gajos que andam metidos em grandes embrulhadas.

Nó Nagenário – nó usado por aqueles homens que querem aparentar ser mais velhos do que na realidade são.

Nó Meado – nó usado por pessoas que desempenham cargos para os quais não têm qualquer tipo de competência.

Nó Ticiador – nó usado praticamente só por jornalistas e outros fazedores de opinião.

Da próxima vez que vir um homem de fato e gravata, ignore o que ele diz. Provavelmente é treta. Centre a sua atenção no tipo de nó da gravata que ele usa. Vai ver que é muito mais significativo do que tudo o resto.

3 Comments:

XN said...

Eu acrescentaria o:
Nó Ivo: Nó usado pela primeira vez por individuos inocentes, tão inocentes ao ponto de não saberem que muitas vezes estão a dar um verdadeiro nó cego na sua vida e/ou na dos outros!

Anônimo said...

Ora aí está uma coisa que não se me aplica, é que não uso mesmo. Com 43 anos, terei usado gravata, no máximo 2 vezes, uma das quais mesmo em cima do pescoço, hahahaha :-)... Tinha uma dessas de couro que a minha mãe me ofereceu para usar como adoorno no Rock'n'Roll e mesmo assim, pouco a usei. E fatos à homem... Népias, não curto.

Raposinha said...

Tá bem entendi o recado.
Quando vir um gajo de gravata ignoro o que ele diz e centro a atenção no nó da gravata.. certo! aí já não estou a prestar nenhuma atenção ao que ele diz.Mas também não tou a perceber nada do nó que ele usa.
Vê lá se arranjas desenhos que assim não vou lá!