A cozinha e o futebol são dois universos óptimos para usar como modelo a fim de melhor compreendermos os restantes aspectos deste mundo em que vivemos. São duas coisas fascinantes. Quanto à cozinha, toda a gente acha que não percebe nada do assunto (principalmente os homens), mas diariamente sobrevivemos à custa do que cozinhamos. No que diz respeito ao futebol, toda a gente se acha especialista na matéria (principalmente os homens), mas são raros aqueles que praticam a modalidade. Melhor conjugação entre teoria, prática, técnica, ciência e disparate não se consegue arranjar.
Eu não fujo à regra. Em matéria de futebol, estou convicto de ele seria revolucionariamente alterado se fossem postas em prática meia dúzia de ideias que eu tenho sobre este popular desporto. Algumas são tão elementares que brada aos céus que nunca ninguém se tenha lembrado delas!
Golos, por exemplo. Basta ver a frenética e entusiasta resposta do público aos golos para se perceber que eles são aquilo que mais deve acontecer nos estádios. Mas há jogos e jogos em que nem uma vez a bola alcança a desejada meta, para desespero e frustração das audiências. Pois bem, sendo assim, por que raio não se aumentam as balizas um metro em altura e quatro em largura? O problema ficaria resolvido de vez. Lógica mais elementar que esta não há.
Sempre comparei os treinadores de futebol aos governos. Eles podem ter a visão apurada para imaginar brilhantes regras (tácticas no futebol, legais na política), mas quem tem de suar as estopinhas e suportar as caneladas mais dolorosas são os que laboram no terreno.
Por sua vez, no terreno, cada equipa pode parecer um todo equalitário a lutar por um objectivo comum, a vitória, mas isso está longe de acontecer. É por demais evidente que em qualquer equipa há os privilegiados e os sacrificados, aplicando-se a cada subgrupo regras bem distintas. Uma das coisas que mais me choca no futebol é que os defesas não podem falhar, mas aos avançados é desculpável toda a espécie de falhanços. Quando uma equipa perde por dois a zero, é verdadeiramente incompreensível que milhões de adeptos fiquem convencidos que a sua equipa perdeu porque a defesa deixou entrar dois golos e não porque o ataque foi incapaz de marcar três.
Há perigo junto à “nossa” baliza, o defesa estende a perna e falha. É uma nódoa, um nojo, devia ficar no banco o resto da época! Há perigo junto à baliza adversária, o atacante estende a perna e falha. Foi azar! O guarda-redes lança-se reagindo numa fracção de segundo e deixa passar a bola a cinco centímetros da mão. Foi frango! O avançado tem quinze segundos de concentração antes de marcar o livre directo, toma balanço, parte para a bola... e atira-a dois metros e meio por cima da baliza. Foi falta de pontaria!
Quando o guarda-redes falha infantilmente tem um nome - é um frango. E qual é o animal quando a infantilidade sai dos pés do atacante? Não há. Basta este pormenor para se avaliar da diferença de tratamento entre os erros de quem defende e os falhanços de quem ataca.
Ora é elementar resolver uma coisa destas. Bastará constituir toda a equipa apenas com defesas. Defesas na defesa, defesas no meio campo e defesas no ataque. Estes, treinados que estão para não falhar, decerto aumentariam, e de que maneira, a produção de golos, esse raro sal que falta a tantos encontros de futebol. Ponham defesas a jogar ao ataque e verão como o futebol retorna aos primitivos mas gloriosos tempos em que se mudava de campo ao fim de cinco golos e o jogo terminava aos dez.
Não sei se perceberam que na vida, tal como no futebol, também há equipas onde se desequilibram os privilégios quando devia haver igualdade. Mas isso e a relação com a culinária terão de ficar para a segunda parte, pois está na hora regulamentar de acabar este post, já depois de quatro linhas de compensação.
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
As minhas tácticas de futebol, primeira parte
Servido por EB às 00:45
Etiquetas: Filosóficas e bagaceiras
2 Comments:
Ó EB, mas... e o Nuno Gomes? Onde fica no meio disso tudo?
É que quando ele falha já ninguém se atreve a dizer que é azar.
Será ele a excepção que confirma a regra?
Pois eu cá não percebo nem de culinária nem de futebol, o que me vale é o meu homem que me explica tudinho de ambas ;-)
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