Antes de enveredar pela profissão de “tasqueiro” ainda fiz uma perninha como empregado do comércio (não Paulo, não fui músico... ) embora com um estatuto especial, pois devido à minha formação “universitária” em inglês, obtida com as “bifas” que vinham nos navios escola Dunera, Devonia e Southampton, e que teve como contrapartida o chumbo por faltas na Fonseca Benevides, eu era mais intérprete que propriamente caixeiro.
Estávamos em 1969 e nessa época alguns sindicatos destacavam-se não só pela defesa dos seus associados como pela tarefa de dar formação complementar a esses mesmos associados. É curioso que agora sempre que se vê uma notícia sobre sindicatos ficamos a pensar que em Portugal só os funcionários públicos têm sindicatos. Onde é que eles estavam no 25 de Abril?
Bom, deixemos a política que não fica nada bem a um estabelecimento de respeito como o nosso, aqui todos podem beber e comer independentemente das suas ideias políticas e mesmo o gajo mais reaccionário por vezes manda uns palpites razoáveis para o bem estar geral.
Regressando à minha função de intérprete, aqui vai a história. O Sindicato dos Empregados do Comércio decidiu valorizar os seus associados facultando aulas de línguas em horário pós laboral e dois ou três colegas meus do Eduardo Martins (não é publicidade, infelizmente ardeu no incêndio do Chiado e já não existe) decidiram aproveitar essas aulas. Um deles, que nunca aceitou muito bem que um puto de 17 anos entrasse a ganhar mais que um caixeiro já com muitos anos de serviço, decidiu logo após a primeira semana de aulas dispensar o serviço do intérprete e logo que cheguei à camisaria com um casal de americanos disse que eu poderia ir embora, ele ia atender. Está bem, retorqui, e fui para outra secção onde me estavam a chamar.
Cerca de dez minutos depois de deixar os americanos na camisaria fui chamado ao último andar, onde existia uma discoteca (venda de discos, não lugar de dança) e um pequeno bar, pois estariam lá dois estrangeiros e precisavam de mim. Subi e deparei com o casal americano que tinha deixado na camisaria. Perguntei o que se passara e o americano disse que tinha experimentado uma camisa e, como estava pequena, tinha dito isso mesmo e o empregado disse.... up stairs... fifth floor. Regressei com eles para o primeiro andar, onde se encontrava a camisaria, perguntei ao colega o que se passara e ele respondeu:
- O americano esteve no gabinete de prova e saiu de lá a transpirar imenso... deu-me a camisa e disse “sumol”* e eu mandei-o lá acima ao bar...
Mais divertido que isto, só uma vez que fui chamado para atender um casal de estrangeiros numa secção e, quando lá cheguei, constatei que eram portugueses, só que ambos mudos. Tal era o vício de chamarem o intérprete...
*Too small – Só para quem não saiba, é muito pequeno(a) em inglês
3 Comments:
Cá p'ra mim, amigo Vitor Martins, calhando, foi você que uns dias antes do Natal de 1970 me vendeu o único sobretudo que eu comprei em toda a minha vida.
Exactamente no Eduardo Martins e atendido por um jovem de cerca de 20 anos.
Era (e ainda é) todo aos quadradinhos, castanho e beje; e custou-me 1.500$00 (nesse tempo era quase o ordenado de um mês!!!)
Boa noite e até amanhã, que eu tenho que ir dar uma volta por causa da indigestão oriunda da minha insatisfação daquelas Necessidades de ontem, agravada com os chíxaros de hoje.
Abraço
Andaste na Fonseca Benevides? Hmmm, se tás na casa dos 50, na volta foste colega do meu irmão que tirava um curso de "Montador Rádio técnico" nunca mais me esqueci deste nome, eh eh!!
Pois.."montador......"
tá-se mm a ver porque não esqueceste o nome......:-)
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