quinta-feira, 11 de outubro de 2007

A Pescaria do Sr.Toninho

O Sr. Toninho era um apaixonado pela caça e pela pesca, aquele viciado mesmo...


Não consta, contudo, que numa ou noutra, a sorte o bafejasse. Se calhar era mesmo questão de jeito.

São muitas as façanhas e insucessos que, em tais artes, dele se contam, como, por exemplo, daquela vez em que, com a sua pombeira calibre 16, lhe salta dos pés um enorme bando de perdizes – naquele tempo ainda as havia! - e ele, meio assustado e muito atrapalhado, grita para os companheiros:
“A qual atiro, a qual atiro?”
“Ó home atire ó mêo do bando, depressa”!

Disparar, disparou.... os dois cartuchos daquela canos longos, quase peça de museu, mas para onde ninguém percebeu porque as avezinhas continuaram o seu voo apressado e sem moléstia!

O Sr. Toninho era comerciante cá no burgo, muito conhecido e respeitado e visto como homem de bons haveres, tinha escritório, loja e vários armazéns aqui mesmo na rua da tasca. Homem de fino trato e, também, muito poupado, raramente nos visitava, no entanto foi visto por cá umas duas ou três vezes, não se sabe bem se para se certificar da qualidade do café da máquina nova (bons tempos!), tirado com mestria pela barulhenta funcionária, ou se rendido ao peito atrevido e ancas roliças da mesma.

Era um homem de palavra mas demasiado crédulo e tido até como algo ingénuo, condição de que, diz-se, alguns se aproveitavam e de onde resultaram também umas boas histórias.

Contava o Chico Molas, serralheiro com oficina mesmo em frente da Tasca do Silva, que um dia estava o Sr. Toninho à pesca, ali abaixo na margem do rio... e o raio do peixe nem sequer picava. Dos barbos, escalos ou bogas, nem um sinalzinho lá no anzol.

Verificou, admirado, que o companheiro do lado tinha feito uma boa pescaria. Curiosidade óbvia:
-Óh amigo, caramba, pelo que vejo hoje isso correu-lhe bem!
-De facto não tenho razão de queixa!
-Que isco utilizou? – Quiz saber o Sr. Toninho.
-Olhe trouxe grilos Sr. Toninho, gastei agora o último.
-Grilos? mas eu também estou com grilos e nem um peixinho!
-Pois, se calhar o Sr. Toninho trouxe os grilos vivos, eu queimei-lhes as cabeças, tá a ver como resulta e que difrença!
-Olhe que d'essa não sabia, na verdade, na verdade .... para a próxima vou experimentar!

Vai daí que no sábado seguinte, encomendados os grilos ao fornecedor habitual e recebidos estes, chama pelo Chiquinho, marçano mor lá do comércio, e manda:
-Chiquinho, vais ali à serralharia do Chico Molas queimar a cabeça dos grilos!
É lá foi o Chiquinho .... !!!

Do resultado da pescaria não reza a história!

Mas aquele Chico Molas não cala mesmo nada!!!!

1 Comment:

JC said...

A minha mãe é da aldeia e estas história do Zé têm vindo a avivar-me a memória no que se refere a nomes/alcunhas que carregam consigo magníficas histórias que ouvia quando era puto.

Onde moro neste momento também há nomes curiosos, mas como estou cá há pouco tempo ainda não sei a razão de ser do Zé Greta, da Rosa das Sete Pernas ou da Maria Conaça.