domingo, 7 de outubro de 2007

Insatisfação das Necessidades

Ora, então, muito boas tardes a todos os tasqueiros presentes!

Ó Silva, deita aí um penalty, que o meu almoço foi uma posta de bacalhau com chícharos e azeite de Alvaiázere! E o bacalhau estava salgadote!...
Chichar..., digo, xiça! - apesar de ter acompanhado com boa couve galega - ainda está tudo enrolado aqui no estômago.

Não. Ontem não fui à festa dos chícharos e dos marmelos a Alvaiázere. Passei por lá no dia 1 de Setembro, no regresso das férias, e trouxe uma taleiga de chícharos e um cesto de marmelos. Gosto muito; e tanto os chícharos como os marmelos fazem bem ao colestrol!...

Mas parece que hoje vai vir de lá muito boa gente com a barriga cheia de chícharos, sem, contudo, se esperar que, por isso, venham a sofrer do mesmo que hoje me ensombra o bem-estar!

- São servidos?
- Ó Silva bebe também e serve aí o pessoal todo, que agora pago eu. Bom, agora não; se não te importas, assentas aí no rol...

Então, com vossa licença: gont, gont... brrôt!

Pois, meus amigos, o enrolanço, aqui, do meu almoço, não tem a ver principalmente com a chicharada que comi. De facto, já desde ontem à tarde que ando com tudo enrolado no estômago. É que caí na asneira de ir visitar a Tapada das Necessidades... e vim de lá pior do que doente!

Exactamente. Fui ver a Tapada das Necessidades!
E que condizente - hoje em dia mais do que nunca - que é o nome que lhe deram(!):
- Tapada, porque o estava com uma corrente, no portão semi-aberto, quando cerca das 14 horas eu ali entrei passando por debaixo dela;
- Das necessidades, pois que todo aquele maravilhoso e verdejante parque está cheio delas (necessidades - e de toda a ordem!) e até nem há ali onde o visitante possa reservadamente fazer as suas. A sério! Eu nem queria acreditar em tantas necessidades que por ali via... nem que acabaria por não encontrar onde, a dada altura, satisfazer as minhas...

Ainda fui espreitar o actual espaço (ou Casa de Trabalho) do nosso ex-Presidente Dr. Jorge Sampaio, a ver se ali haveria uma solução; porém (Sábado...), estava tudo zeladinho, sim senhor, mas tudo fechado.

Foi uma grande desilusão(!):
- No grande lago, circular e ainda bonito - situado em frente do atelier (a Casa do Regalo) onde D. Carlos e sua amada Amelye muito desenharam e pintaram enquanto os Príncipes, Luizinho e Nelinho, jogavam as suas partidas de ténis - nadavam, com visível esforço de derradeira e heróica sobrevivência, numa água verde e gordurosamente conspurcada, milhares de peixes de tamanhos diversos, desde o equivalente a um grande salmão até àqueles mais semelhantes a minúsculos guppies;
- Na fachada da Casa do Frio, uma das estátuas apresenta-se selvaticamente decapitada, podendo ver-se bem que foi vítima de recente vandalismo; e todas as vidraças da porta de acesso ao interior deste antigo "frigorífico real" estão selvaticamente estilhaçadas;
- No interior da famosa e histórica estufa de D.ª Estefânea, debaixo daquela megalómana e maravilhosa abóbada de vidraças, vê-se um absoluto vazio; ali apenas se pode usufruir do prazer de ouvir os sonoros ecos dos sons de quem fale ou brade para dentro das grades do respectivo portão;
- As estéticas edificações e gradeamentos de ferro, artisticamente trabalhado, que foram o famoso canil (cães de caça e de guarda) de D. Carlos, estão cheios de sucatas, entulhos e com as portas abertas, podres e a cair; e as suas coberturas de originalíssima cerâmica cheias de falhas, dando origem a um acelerado apodrecimento dos artísticos tectos de madeira;
- No famoso Jardim dos Cactos ainda sobrevivem espécies únicas, mas tudo está completamente votado ao abandono e abafado por vegetação selvagem adveniente das sementes que o vento e as aves por ali vão espalhando;
- Vê-se que todo aquele exuberante e ainda verdejante arvoredo e plantio tem necessidade de ser visitado por podador encartado.

Até fico mal disposto só de estar a recordar muito do que vi!

- Apenas um grande relvado, situado na encosta, em frente da Estufa de D.ª Estefânea, a cerca de 100 metros da entrada e - lá mais no alto da Tapada - o pequeno relvado à entrada da Casa de Trabalho de Jorge Sampaio, se pode considerar estarem a ser assistidos.
- Será que tal abandono assenta no facto de aquele paraíso fazer recordar a monarquia?
- Mas..., então, e por que motivo foi ele o local escolhido para instalar o ex-Presidente da República?
- Será que o Dr. Jorge Sampaio mais não mereceu do que aquele "exílio"... naquele "desterro" abandonado?
Coitado do Dr. Jorge Sampaio, se quiser descer do seu espaço e vir por aquela encosta abaixo dar um passeio com a sua amada Zèzinha, como o fizeram os Reis com as suas Rainhas e os Príncipes com as suas Eleitas! Ou como, outrora e antes destes, o fizeram os frades da Congregação do Oratório de Lisboa, enquanto rezavam o seu breviário ou liam os velhos clássicos preparando as suas aulas de retórica e de filosofia.

Ai, se ali aparecesse, agora, o famoso jardineiro francês Bonard! Cairia com um colapso cardíaco!

Ó Silva, desculpa lá, enche-me aí mais um analgésico...
Que grande novelo que eu sinto no estômago!
Gonto, gonto... com vossa licença: brrrrrrôt!

1 Comment:

Anônimo said...

Por acaso é pena o estado a que chegam determinados símbolos independentemente do seu peso no passado monárquico ou republicano. A cidade da península ibérica que eu mais gosto é Barcelona porque penso que é um exemplo de cuidado com o seu património arquitectónico.