quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Ora pôxa!

Enquanto “batiam” uma sueca ali na mesa do canto, Chico Molas e companheiros iam-se divertindo com as suas velhas histórias.

A boa disposição era contagiante e estímulo para mais uma rodada de "americano" lá do garrafão que o Silva tinha bem escondido na despensa.

O Sr. Toninho, que já conheceis, comerciante cá da terra, além da loja, armazéns e escritórios aqui na “nossa rua”, tinha outros negócios de comércio e serviços.

Pelas 9 horas da manhã lá vinha ele no seu Fiat 1100, anos 50, acompanhado pela esposa que na empresa exercia as funções de caixa (ou tesoureira, utilizando expressões mais actuais), enquanto que à entrada dos escritórios já os aguardava toda a equipa de robots, perdão, queria dizer, funcionários.

Homem na casa dos 60, poupado ao extremo. Sabem que o seu pessoal de escritório só tinha direito a nova esferográfica mediante a entrega da finada?! Ele próprio era um perfeito exemplo dessa disciplina, bastava olhar para a sua esferográfica, cuja ponta se aguentava só pela fita cola que a enrolava. Usavam-se aquelas esferográficas transparentes, tipo Bic, adquiridas à caixa a um fornecedor de Coimbra, ao preço de 1$00 por unidade.

Nesse dia, chegou ao escritório, pendurou o casaco, sentou-se na sua secretária e... a esferográfica?! Não, não estava, correu tudo, gavetas, bolsos, as secretárias do pessoal, a esposa... mas não estava em parte nenhuma.

-Toninho, olha que se calhar ficou no carro! –Lembra a esposa.
-Decerto, decerto, vou lá, vou lá, obrigado mi’Ani! – Agradece à esposa.

Dali a pouco, lá vem ele apressado, abatido, cara de chateado, pois que a dita não estava no carro!

-Ó Toninho, não a terias deixado além na Estação de Serviço? – Diz a esposa.
A estação de serviço era outro seu estabelecimento onde todas as manhãs, a caminho do escritório, parava para recolher as contas do dia anterior.
-Se calhar, se calhar, mi ‘Ani!

Instintivamente, salta para o telefone:
-Sra. telefonista ligue-me ao 201” - manda o Sr. Toninho!
-Tá, Sr. Gomes, olhe deixei aí a minha esferográfica?!
- .....-
-Sim? Ah, pois, então guarde-ma aí que na volta do almoço trago-a!
Pousa o telefone e, como que acordando, estrebucha, solta uma “profunda” exclamação de aborrecimento, “quase se arrepelando”, desalentado, com voz de arrependimento e revolta do tamanho do mundo:

-Ora pôxa, ora pôxa mi’Ani que lá se foi mais do que custa a esferográfica!

Importa lembrar que uma chamada local custava, naquele tempo, 1$30 !!! E ainda que, naquele tempo, não havia reciclagem!

9 Comments:

Anônimo said...

assim de repente vem -me a cabeça "semitico" ou 2esmifra" não sei porquê... digo eu .......... sei lá!

Ze dos Anjos said...

Era um grande homem!

E não tolerava ser aldrabado nas medidas. Quando veio pela 1.ª vez à tasca provar a tal bica, olhou prá chavena e exigiu. "Ó menina já viu por onde vem a chávena, ora fasssa favor, fasssa favor de encher, oh! oh! vejam bem" !!!
O que vale é que não era homem para una conhaques ou uns whiskyes!!!

Koole said...

Pois faz-me lembrar o meu primeiro patrão; senhor na casa dos 70 anos, podre de rico. De vez em quando dizia, alto e bom som: "Quem não gere o tostão não chega ao milhão..."
O que é certo é que ele chegou aos muitos milhões e veio do "nada".
Nem imaginam o ataque de nervos que ele tinha se visse o desperdicio de um simples clip...

Ze dos Anjos said...

o Sr. Toninho,
Assinava o jornal diário o "PRIMEIRO DE JANEIRO" (tempos áureos deste).... que, depois, vendia ao quilo! (não sei se para a Tasco do Silva... para embrulhar as "sandochas"!!!!!)

Anônimo said...

Ai cruzes credoooooooo.................
ò Silva vê lá se não levas aí com a ASAE em cima..........se ela te vê o jornal com a validade expirada :-)

Raposinha said...

Aposto que assim poupadiho usava as cuecas dos dois lados e da frente pra trás e de trás pra frente o que lhe rendia um total de 4 dias de com as mesmas cuecas e um agradável aroma a espanta gaijas nº 5!

Ze dos Anjos said...

"Aposto que assim poupadinho... usava as cuecas dos dois lados..."
!!!!
Essa não sei...
Mas sei, ainda pelo que o Chico Molas por cá nos conta que, o senhor
andava sempre munido de papel para pegar na coisa quando ia à casa de banho, penso que seria para depois lavar as mãos... poupando, assim, a água !

Ze dos Anjos said...

"... penso que seria para depois NÃO LAVAR as mãos... poupando assim a água."

Secreto said...

Hmmm... Aqui havi uma "Ti Tóino" mais ou menos assim... Curioso o nome, até podia ser "Ti Jaquim".