sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Uma mulher de armas !

A Maria "Paradela" era uma mulher de armas! À sua volta tudo bulia!

O marido, mestre, muito requisitado, na arte de trabalhar o xisto, trabalhava à jorna (geira) na profissão de pedreiro. Passaram-lhe pelas mãos muitas pedras daquelas velhinhas casas que hoje vemos lá na aldeia e nas outras em redor.

A ausência do marido obrigava a que Maria "Paradela" ("Paradela" porque veio da aldeia com esse nome quando o Chico com ela se casou e com tantas "marias" na terra...) fosse o "homem" da casa. Sete filhos, 4 rapazes e 3 raparigas. A lavoura, os bois... era preciso fazer girar tudo! E não era fácil "dobrar" aquela rapaziada "turbulenta"! A vida era dura, não havia baldas para ninguém!
Bastava sentirem, ou só pressentirem, os passos da Maria "Paradela" para tudo girar!
Ainda o nascer do sol vinha longe já a Maria "Paradela" fazia soar a alvorada lá em casa.
Mas se a hora de levantar era cedeira, a do recolher também o tinha de ser.

Armando, rapaz alto, robusto, físico de atleta, um tanto "desastrado", era a generosidade-força em pessoa, estaria aí pelos 18 a 20 anos, dos rapazes era o mais novo.
São recordadas as vezes em que o Armando se zangava com os bois e com olhar penetrante, os olhava fixamente nos olhos, agarrava-os firmemente pelos cornos e, testa com testa, berrava-lhe com aquela voz grossa e firme capaz de fazer tremer as pedras: "O meu filho da p..... olha que aqui quem manda sou eu, ouviste?"!!

Numa noite, estava o Armando na Tasca do Silva, um temporal do caraças, chovia que Deus a dava, há mais de uma hora que queria ir para casa, a hora do recolher já lá ia e a mãe não tolerava atrasos, não seria até de estranhar se de um momento para o outro ela aparecesse à sua procura, e isso não convinha mesmo nada!
Mas o raio da chuva não havia meio de parar e a ninguém apetecia sair com uma "zurbada" daquelas!

Será que esta chuva está para parar?, questionavam-se ansiosos os presentes.
"Ó Armando, chega aí à porta a ver se pára", sugere um dos fregueses.
O Armando, já inquieto também e morto para se ir embora, foi à porta, olhou para o negro do céu de onde caía como caleiras, e porque cada vez chovia mais, exclamou lá para fora:
"E a paradela está boa" !
"AH meu malandro que a paradela dou-ta eu !!! Soou uma voz feminina autoritária!
Qual oficial a reunir tropas! Era a mãe, a Maria "Paradela" que, no escuro da noite, sem chuva que a parasse, ali vinha ela à sua procura...!

Grande mulher!

3 Comments:

JC said...

Mulher de barba rija, sim senhor!
Belas histórias estas com que o colega Zé dos Anjos nos tem presenteado.

Anônimo said...

Hmmm!!!... Esta Paralela, era bem capaz de ser a minha avó Julia, mãe do meu pai que, nunca conheci mas que, consta-se ter uns colhões maiores que os de um boi, embora fosse mulher, assim mesmo como descrito aqui pelo Zé dos Anjos.

Não são estórias, são histórias...

Bem esgalhado, amigo ;-)

Ze dos Anjos said...

Podes crer caro Colega!!!
Olha que são mesmo histórias... da vida real!
Um abraço!