domingo, 16 de setembro de 2007

Que rica vida, quem me dera!!!

Gosto das experiências simples da vida, aquelas que não aparecem na "Revista Cor de Rosa", genuínas, sem espinhas. Ali no café do Fernando ou no do Nuno, vulgo "Café dos Pretos", aparecem sempre uns espontâneos que me põem a pensar bem mais do que o Diário da República. Uns quantos camaradas abancam logo às 5 da tarde e vai de mamar Imperiais e jogar à moeda. Em casa, estão as damas deles, que também estiveram a trabalhar todo o dia, mas suponho que, às 5 da tarde, já estão agarradas ao fogão, à máquina de lavar e à esfregona, enquanto que eles estão à espera que anoiteça para lhes irem à cona. Não sem antes, e durante umas 3 horas, arranjarem maneira de ficarem com um bafo pior que o alambique da Adega Cooperativa do Cartaxo, e depois chegarem a casa, mamarem o belo do jantar, voltarem ao Café e beberem mais 3 bagaços, só para lavar os dentes, enquanto elas de roda da cozinha ficam. No meio das conversas em tom de tenor, de maneira a que todos ouçam e ninguém fique com dúvidas que eles são muito homens. Estão fartos de trabalhar, (eu vejo-os é todo o dia em fila indiana correndo tudo quanto é tasca, de manhã à noite) e agora vão para casa fazer aquilo a que têm direito antes que elas lhes ponham os cornos com outro qualquer. Isso é que não, queres picha, tá aqui a minha, - "Um hóme é um hóme, um caracol é um bicho."

Mas a felicidade dos outros, não é o que eu penso. É que as damas deles andam felizes da vida. Ao Domingo, a seguir ao almoço, têm ordem de soltura para acompanharem os "Shô Tôres" a beber a bica… Estou eu sossegadinho em casa, quando começo a ouvir o barulho característico daqueles carros pequenos, a que eu chamo de "Mata Velhas", aqueles que custam 2000 contos, não andam a mais que 50 e nem é preciso carta (esta é que me fode) para os conduzir, estão a ver? Cabelos encharcados para que se saiba que lá em casa há água para o banho e, o mais importante, óculos escuros, tipo Kenu Reeves, comprados a 25 tostões o kilo no Chinês e telemóveis topo de gama, irreconhecíveis e totalmente kitados com capas compradas ao cigano na feira de Carcavelos, com toques mesmo a condizer com as figuras em questão. E então, é um granel deles, qual Tribo Sioux que combinam o sítio e a hora através de sinais de fumo (SMS porque os telemóveis são para se mostrar, mas a conta da Vodafone não) para, no meio do café e do bagaço, se vangloriarem alto e bom som dos feitos da semana que está acabar, enquanto elas, as damas, concordam e ficam orgulhosas de terem tamanhos machos em casa.

Nos entretantos, ouve-se, alto e bom som - "Vai p'ra casa e leva o rapaz pequeno" e lá estão eles toda a santa tarde, porque ao domingo não se trabalha, a beberem cervejas, bagaços, e a jogarem à moeda e nas máquinas electrónicas. Mais uns arrotos bem alto, para que se ouça bem, os colhões são constantemente coçados com uma enorme unha no dedo mindinho, muitas certezas de tudo e mais alguma coisa, porque ali nunca há dúvidas, e assim fico eu a pensar – "Que rica vida, quem me dera."

0 Comments: