domingo, 30 de setembro de 2007

Um clássico preferido

A francesa Radio Classique levou a efeito uma eleição destinada a apurar as 100 peças da música clássica preferidas pelo seu público, tendo participado cerca de vinte mil ouvintes. O resultado não foi surpreendente. Os principais clássicos do clássico encontram-se na lista, distribuídos mais acima ou mais abaixo, pois o resultado de uma coisa destas é sempre subjectivo.

Nos 10 primeiros lugares, por exemplo, ficaram peças tão universais como a Ode à Alegria da Sinfonia n.º 9 e o Adagio do Concerto Imperador de Beethoven, o Dies Irae do Requiem e o Adagio do Concerto n.º 23 de Mozart, o Prelúdio n.º 1 do Cravo Bem Temperado de Bach. Não faltou um toque de nacionalismo, com a Pavane de Fauré a ficar num honroso sétimo lugar.

Contudo, a peça vencedora foi, talvez, um resultado inesperado. Trata-se do Andante do Trio para piano n.º 2, op. 100 (D 929), de Schubert. Embora seja uma peça corrente entre os melómanos, ela dificilmente poderá considerar-se popular. É certo que ela tem sido usada em bandas sonoras no cinema, tendo obtido uma maior notoriedade no filme Barry Lyndon de Stanley Kubrick. Só que as referências às peças clássicas no cinema diluem-se no tempo. E o filme de Kubrick é de 1975, já lá vão 30 anos.

A explicação para o êxito talvez resida noutro elemento. E ele dá pelo nome de Franz Schubert. De facto, este Andante tem lá tudo aquilo que mais nos maravilha no compositor austríaco: a inspiração melódica e um ambiente simultaneamente triste e sereno. Para confirmar, o melhor é ouvir. Eis a versão adaptada que foi usada na banda sonora de Barry Lyndon.


2 Comments:

Anônimo said...

Ontem, li um artigo a respeito de David Guilmour, guitarrista dos Pink Floyd a quem foi oferecida uma fortuna para voltar a reúnir a banda e ele respondeu - "Não faço a minima intenção de voltar a ter uma tournée com eles nem gravar discos, eventualmente, por motivos espceciais, um ou outro concerto aqui e ali, como aconteceu com o live 8".
Aquelas não foram as palavras exactas, estou a improvisar mas, o sentido foi aquele.

De repente saltou-me a azeitona, em pensammento - "O que não faltam é gajos melhores que ele para pôr a banda a rodar de novo!!!" - Mas, de repente saltou-me a bolota, de novo - "Ó Secreto, estás-te a ouvir a ti próprio?"

Hmmm!!! Esta peça que o EB ali postou, não vale um cú em termos de tocar, qualquuer gajo com um pouco de treino faz daquilo mas... Faz mesmo?? Dúdivo!!!! É que muitas coisas valem pela displicência da simplicidade que só alguns conseguem imprimir, outros sabem à brava mas, népias de "tocar" noos outros. É uma coisa nata, não se compra nem se vende por mais que tentem.

Há coisas que não valem um balde de trampa mas valem por qualquer coisa para além da racionalidade como por exemplo, uma exposição fotografias de buracos de cú... Que, se feita com genuinidade e pureza de espirito, até vale muito mas, qual a distância entre o que eu quero transmitir e aquilo que o receptor intrepreta? Sei lá, fonix, ganda nóia!!!

Parece que o Guilmour, neste momento, não lhe apetece fazer aquilo que os fans anseiam, estamos todos lixados com ele mas ele quer lá saber!!!

Acho que o Schubert até que estava mesmo a curtir à brava, sózinho, quando compôos aquilo, calhando, nem era suposto "aquilo" ser ouvido por ninguém e ficar na prateleira só para ele.

EB said...

Compreendo a ideia, Secreto, mas o que eu pus foi uma versão simplificada, tal como surge no filme. A peça real tem cerca de 9 minutos e, se bem que contenha em largos minutos aquela simplicidade rítmica de acordes e de melodia, tem muito mais que isso. Tem, por exemplo, uma parte central mais séria, alterações no acompanhamento muito mais ricas e deambulações harmónicas por várias tonalidades, algumas delas inesperadas, uma coisa que é típica em Schubert.

Além de que o tema é recuperado no quarto andamento (este andante é o segundo andamento da peça), num contexto rítmico e numa complexidade de escrita totalmente diferente.