Levanto-me assim que toca o primeiro despertador. No total – e já descontando os desvios intestinais matutinos – tenho dois despertadores. Programo sempre dois alarmes, em dois telemóveis diferentes, sendo que o segundo proporciona uma alvorada bastante turbulenta.
No dia em que não conseguir acordar com tamanho cagaçal é sinal que ensurdeci. Ou então que me finei. “E por que razão dois alarmes?”, pergunta-me o boçal cliente da Tasca. Porque homem prevenido vale por dois; e porque Trolha prevenido vale por quatro, principalmente na região do baixo-ventre; e também porque tenho um vasto historial de não-conseguir-acordar-a-horas, no qual decidi colocar um ponto final. Eu conto:
Há coisa de uns meses, uma noite especialmente bem dormida, aliada a uma falha técnico-humana (e aqui fica uma das Verdades Absolutas de Trolha: “Despertador não programado não desperta”), resultou num atraso de hora e meia na chegada ao local de trabalho. Nesse dia acordei com a sensação de que era sábado. Mas não era. Entorpecido, peguei no relógio com toda a calma do mundo e parei uns segundos a contemplar os seus ponteiros, que é como quem diz a tentar perceber que horas eram. Relógios digitais uma vida inteira dão nisto. Quando finalmente consegui decifrar qual era o ponteiro das horas, já não foi preciso procurar o dos minutos porque o mundo acabara de desabar em cima de mim.
Dei um salto da cama, vesti os primeiros trapos que apanhei pela frente e fiz-me ao caminho.
Ao deparar-me com a fachada da Tasca hesitei um pouco. Foi então que resolvi aplicar a velha técnica de “entrar às arrecuas”. “Ó Trolha, só agora?”, diz-me, em tom acusador, aquela sonsa que na semana anterior havia feito horas extraordinárias comigo em cima do balcão enquanto o marido estava em casa a cuidar dos filhos. “Só agora o quê? Não vês que estou de saída?”. Boa tentativa, mas não pegou.
Pior do que sentir-me imundo com o mau aspecto da barba por fazer, banho por tomar e camisa amarrotada e desabotoada no colarinho (escusado será dizer que com a pressa vesti uma camisa que não estava engomada, ainda que se lhe houvesse aplicado a minha arte com o ferro não resultasse grande diferença) – foi a expressão divertida de cada um dos meus colegas que deixava transparecer um nítido e sempre reconfortante “estás fodido”.
O feitio difícil do patrão é sobejamente conhecido. A espuma que ele fabrica quando está irado descamba num dilúvio tal que é aconselhável o uso de guarda-chuva e gabardina quando ele se faz ouvir. No entanto, para espanto e desilusão de todos, o homem não tocou no assunto, dando-me apenas um normalíssimo “bom dia”. Este deve ser aquele silêncio que dizem valer mais do que mil palavras. Aquele “bom dia”, seco e pungente, fez com que os cabelos do cu se me encaracolassem. “Dois despertadores!! Dois despertadores!!”, foi o melhor que consegui murmurar entre dentes. “Diga, Shôr Trolha?”. "Nada, nada…". E lá fui directo à casa de banho limpar o suor que já escorria em bica.
Perguntam vocês: “mas… ó Trolha, e tu não tens quem te acorde?”. Umas vezes sim, outras não. Tudo depende de passar ou não pelo Intendente. É aqui, neste preciso momento, que revelo aquilo que a clientela da Tasca, mormente a do sexo feminino, anseia saber muito mais do que a chave correcta para os 130 milhões de logo à tarde: sou solteiro sim senhor. E a minha lendária beleza absolve-me de justificar que o sou por opção. Também a modéstia, essa imagem de marca que está para mim como o cavalinho está para a Ferrari, impede-me de dizer às senhoras o quanto e onde sou mais abastado.
Um coisa posso assegurar-vos: o próximo despertador que arranjar terá que saber engomar camisas. Abrem castings brevemente para o efeito.
No dia em que não conseguir acordar com tamanho cagaçal é sinal que ensurdeci. Ou então que me finei. “E por que razão dois alarmes?”, pergunta-me o boçal cliente da Tasca. Porque homem prevenido vale por dois; e porque Trolha prevenido vale por quatro, principalmente na região do baixo-ventre; e também porque tenho um vasto historial de não-conseguir-acordar-a-horas, no qual decidi colocar um ponto final. Eu conto:
Há coisa de uns meses, uma noite especialmente bem dormida, aliada a uma falha técnico-humana (e aqui fica uma das Verdades Absolutas de Trolha: “Despertador não programado não desperta”), resultou num atraso de hora e meia na chegada ao local de trabalho.
Dei um salto da cama, vesti os primeiros trapos que apanhei pela frente e fiz-me ao caminho.
Pior do que sentir-me imundo com o mau aspecto da barba por fazer, banho por tomar e camisa amarrotada e desabotoada no colarinho (escusado será dizer que com a pressa vesti uma camisa que não estava engomada, ainda que se lhe houvesse aplicado a minha arte com o ferro não resultasse grande diferença) – foi a expressão divertida de cada um dos meus colegas que deixava transparecer um nítido e sempre reconfortante “estás fodido”.
O feitio difícil do patrão é sobejamente conhecido. A espuma que ele fabrica quando está irado descamba num dilúvio tal que é aconselhável o uso de guarda-chuva e gabardina quando ele se faz ouvir. No entanto, para espanto e desilusão de todos, o homem não tocou no assunto, dando-me apenas um normalíssimo “bom dia”. Este deve ser aquele silêncio que dizem valer mais do que mil palavras. Aquele “bom dia”, seco e pungente, fez com que os cabelos do cu se me encaracolassem. “Dois despertadores!! Dois despertadores!!”, foi o melhor que consegui murmurar entre dentes. “Diga, Shôr Trolha?”. "Nada, nada…". E lá fui directo à casa de banho limpar o suor que já escorria em bica.
Perguntam vocês: “mas… ó Trolha, e tu não tens quem te acorde?”. Umas vezes sim, outras não. Tudo depende de passar ou não pelo Intendente. É aqui, neste preciso momento, que revelo aquilo que a clientela da Tasca, mormente a do sexo feminino, anseia saber muito mais do que a chave correcta para os 130 milhões de logo à tarde: sou solteiro sim senhor. E a minha lendária beleza absolve-me de justificar que o sou por opção. Também a modéstia, essa imagem de marca que está para mim como o cavalinho está para a Ferrari, impede-me de dizer às senhoras o quanto e onde sou mais abastado.
Um coisa posso assegurar-vos: o próximo despertador que arranjar terá que saber engomar camisas. Abrem castings brevemente para o efeito.
3 Comments:
Se quiseres eu resolvo-te o Problema... Contrata-me para despertador que, todas as manhãs acordas com 2 biqueiros na cabeça. Ao fim de um Mês, tás carecas mas deixas de precisa de despertador, vai uma apostinha?
Sabes passar a ferro?
Pois claro parece a solução, o despertador que engoma camisas... mas o que tu não sabes é que esses "electrodomésticos" trazem vários "mecanismos" acoplados que te impedem de dormir toda a noite... e não me estou a referir a isso... meu malandro !
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