segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Quem eram eles?

Há coisas que permanecem ocultas e que eu gostaria de as ver clarificadas, até porque, alguns, muitos mesmo, já cá não andam, fruto duma geração, a minha, que se degradou e foi desaparecendo, sobrando apenas uns raros espécimens.
A rapaziada da minha criação não tinha nome, tinha alcunhas. Quer-se dizer, nome tinham de certeza, qual, é que nem eu nem ninguém sabia.

Quando entrei para a Primária, havia todos os dias a chamada, à qual nós respondíamos – "Presente" – Ora, naquela turma, fruto de ouvir a mesma lenga-lenga todos os dias, vim a saber o nome de alguns dos meus amigos, mas e os outros? Naquele tempo, eu vivia num bairro com 118 casas. As famílias eram numerosas, tudo para cima de 7 filhos, no mínimo, porque a maioria era bem mais do que isso. Multipliquem isto por 118 e vejam que éramos umas largas centenas que ultrapassavam o milhar, à vontade, de putos naquelas ruas onde se brincava porque não haviam os perigos de hoje em dia, como, e principalmente, o trânsito.

Alcunhas existem em todo o lado, mas algumas delas, às quais eu não passava cartolina nenhuma na altura, simplesmente chamava por eles daquela forma, hoje em dia tenho uma curiosidade louca de saber de onde vieram. É que tínhamos o "Gordo", o "Pernas", ou o "Marreco", mas essas alcunhas tinham uma origem conhecida, nada de anormal.
O pior é que havia um "Da", um "Ratos", 3 "Cagados" (Irmãos), um "RRR" (Não se lê "R, R, R", lê-se "REEEE", um "Mácátula", um "Catôna", um "Farri-Farróla" e um "Conas" e um "Pichas"… E mais uns quantos que nunca percebi de onde vinha tal coisa.

Parece que não tem importância nenhuma, mas é muito importante. É que tudo é possível, mas crianças de 4 e 5 anos serem alcunhados de "Conas" e "Pichas" é meio esquisito. O "Pichas", eu ainda conjecturo umas teorias, do tipo ou a tinha grande de mais, ou a tinha pequena demais. Mas e o outro? Hmmm!!!…

2 Comments:

JC said...

Alcunhas é no meu alentejo.

Para quem não conhece fica a sugestão:

Tratado das Alcunhas Alentejanas

Ramos, Francisco Martins Silva, Carlos Alberto da

Edições Colibri 2002.


Neste magnífico livro pode encontrar as explicações para a existência de alcunhas tais como:


-Badalinho
-Cadela Parida
-Caga na Faia
-Empata Fodas
-Garganeiro dos Faleiros
-Juiz da Fome
-Mata Pintos
-Pinguinhas
-Pintelhinha
-Piolha Prenha
-Pintelho Azul
-Rabinho de Leque
-Taliscas
-Tabuinhas
...

Anônimo said...

Por acaso no meu bairro havia um "coninhas" e a alcunha vinha do seu estilo "amaricado" de falar e ligeiramente anasalado.... Se calhar se o gajo fosse muito corpulento seria o "conas"....digo eu.... (ou dizes tu?).